20. Amizade

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O estúdio X-Rhythm após alguma deliberação assinou um contrato com a banda Broken Utopia. O Vasco, o Tiago e o Capela não podiam estar mais contentes com a decisão e já andavam em reuniões quase diárias para estabelecer por onde iriam começar. A época natalícia aproximava-se, mas os três receberam um aviso de que provavelmente a agenda andaria algo preenchida, pois queriam começar a gravar em estúdio tão cedo quanto possível para acompanhar o mais possível, a data do concerto de estreia da banda. Desta vez não num bar, mas em Lisboa. Era algo arriscado, sobretudo quando o local escolhido era o Coliseu. De fato, X-Rhythm mostrou-se desde muito cedo uma ambição que não olharia a custos, desde que tivesse a certeza de que o retorno seria bem maior. O diretor e todos os investidores pareciam certos de que estavam a depositar dinheiro numa possível mina de ouro.

Evidentemente para mim, tudo soava perto da verdade, mas até à hora do concerto era impossível ter certezas de como o público iria receber aquela banda, uma vez que as bandas portuguesas tinham a fama de ser afogadas pelas internacionais. Além disso, o gosto popular dos últimos tempos deixava muito a desejar, sobretudo quando a música não era o relevante e sim a aparência dos cantores. Não que isso fosse um problema em Broken Utopia, mas era no mínimo frustrante ser reconhecido apenas por isso e não pela boa música que eles também tinham. A maioria delas compostas pelo Vasco e também pelo Tiago que tinha esse lado artístico que desconhecia. A minha relação com ele evoluía de um modo bem positivo e sabia que podia contar com ele. Já o Capela? Esse seria sempre uma outra história.

- Esta sexta também não vai haver concerto? – Perguntou a Kiara que fazia um trabalho a pares comigo na aula de Geografia.

- Não, desde que assinaram lá pelo estúdio, eles querem os direitos exclusivos. – Respondi, tentando desenhar o mapa, mas acabando sempre por ter que corrigir as linhas.

- Então as coisas estão mesmo ir para a frente. – Comentou, escrevendo as notas dos mapas.

- O Mário está doente? – Perguntei.

- Sim, aquele rapaz apanha constipações com facilidade. – Disse e abanou a cabeça em tom de desaprovação. – Já lhe disse para vestir mais roupa, mas aquilo entra a cem e sai a duzentos.

- Como vamos ter a tarde livre, queres ir fazer-me companhia numas comprinhas? – Perguntei para mudar o rumo da conversa e claro, recebi uma resposta positiva.

O Mário tentava manter o mínimo de conversação comigo depois do fora que lhe dei. Se soubesse o que era ser subtil, não teria que mudar de assunto cada vez que nos referíamos a ele. Talvez a Kiara desconfiasse de alguma coisa, mas nada dizia e até ver não havia prova alguma do que tinha acontecido. Seria sempre a palavra dele contra a minha. Ele além do Capela deveriam ser os únicos com quem tinha algum problema.

De resto, partindo do Vasco, passando pelo Tiago e rapazes da minha turma em geral não havia qualquer problema. Já as raparigas, essa era outra conversa. A maioria não se cansava de falar de mim pelas costas. Fosse por inveja do meu namorado ou pelas roupas que levava. Qualquer coisa era motivo suficiente para que sempre que olhassem para mim tivessem aquele ar de desgosto pelo bem alheio. Só que isso, mais do que me incomodar fazia-me lançar-lhes olhares de escárnio cada vez que um dos seus namorados sorria para mim e faziam-se acompanhar de um elogio. Não me sentia mal por me colocarem de parte, não como antes. Sempre me habituei à solidão, mas aquela, eu podia escolher. Aquela, eu tinha provocado e agradava-me.

Agora que tinha a oportunidade de ver as coisas pelos olhos daquelas pessoas, podia entender o gosto de rebaixar os outros. Embora, o fizesse prioritariamente para aqueles que realmente mereciam saber como era estar do outro lado. Houve também queixas sobre as imagens e vídeos online, mas as investigações não deram nada ainda que atualmente a vigilância nas salas de computador fosse maior. Pelo menos, algum dos técnicos de informático foi inteligente o suficiente para desconfiar que o vírus tinha sido espalhado a partir da escola, mas além disso todo o resto permanecia num mistério absoluto.

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