22. Palavras azedas

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Depois de algum zapping, ficámos por um filme que ambos já tínhamos visto pelo menos uma vez dado que a televisão consegue ser bem repetitiva. Mr & Mrs Smith foi o filme da tarde, acompanhado de algumas pipocas e copos de uísque o que fez com que acabássemos a rir bem mais do que deveríamos daquele filme. Claro que com aqueles níveis de álcool, optei por não ir para casa. Não estava com a mínima disposição para jantar com uma estranha em casa por isso, enviei uma mensagem ao meu pai avisando que não iria comer a casa e também que não devia esperar-me para dormir. Dei a desculpa do costume. Disse-lhe que estava com a Kiara.

- Não há um supermercado aqui perto? – Perguntei ao ver a nossa pouca vontade de preparar algo decente para comer.

- Tens razão, vamos lá e compro uma daquelas lasanhas para aquecer e comer. Não estou com pachorra para perder tempo a cozinhar. – Respondeu e pegou nas chaves de casa. Fomos até ao Minipreço que ficava na mesma rua e trouxemos só a lasanha já que na casa do Vasco havia sempre o que beber. Por outras palavras, isto significava que havia sempre álcool por perto e devo dizer que inicialmente, um copo bastava-me, mas comecei lentamente a ganhar alguma tolerância às bebidas.

- Vamos namorar mais um pouco ali no sofá? – Perguntou com a boca contra o meu pescoço enquanto eu tentava sair da cozinha sem pisar os pés dele.

- E as prometidas aulas de guitarra que estão com dias de atraso? – Sugeri.

- Hum, também parece-me bem. – Respondeu, beijando os meus lábios rapidamente e foi até ao quarto pegar na sua guitarra.

Não é que estivesse com muita cabeça para pensar em notas musicais, só que adorava ouvi-lo e ver como dedilhava aquelas cordas. Além disso, podia sempre deliciar-me com a voz que não resistia em acompanhar as melodias. Ele entendeu que a minha intenção não era tanto aprender e sim, ouvi-lo atuar só para mim. Isso fez com que sugerisse cantar a última música que tinha ensaiado com o Capela e o Tiago. Não era dele, mas disse-me que ia gostar.

Thank you for making me feel like I’m guilty

Making it easier to murder your sweet memory,

I’m leaving your corpse behind not dead,

But soon to be,

Though I’m not gonna be the one that kills you

A música pertencia aos Puscifer e chamava-se “The Undertaker” e embora, a letra fosse um tanto mórbida não me incomodava nem um pouco. O ritmo agradava-me e a voz do Vasco tornava tudo o que a sua língua tocava, digno de ser bebido como a melhor coisa do momento. Depois dessa canção, tocou outras já minha conhecidas antes de sugerir que aproveitássemos o tempo de outra forma. Ele pousou a guitarra e deixou-a encostada ao sofá. Levantou-se enquanto agarrava a minha mão e guiava-me até ao seu quarto.

No interior dessa divisão, ligou a aparelhagem e disse que as músicas que estavam a tocar pertenciam todos a Puscifer e que se não nos distraíssemos muito, até podíamos apreciar a banda sonora. A esse comentário, seguiu-se um beijo que fez cair por terra a ideia de dar muita atenção à música. O fato de não ter oferecido muita resistência, também denunciava que não daríamos muita atenção ao que se passava à nossa volta. Queríamos apenas sentir mais um do outro e isso notava-se na forma intensa como me beijava. Ele dominava totalmente aquele beijo com uma língua que não se cansava de explorar a minha boca. Agarrei a sua camisa e comecei a levantá-la de leve, arranhando a sua barriga, o seu peito. Ouvi-o gemer contra a minha boca.

- Menina atrevida… - Murmurou, separando os seus lábios dos meus.

- Precisava de chamar a tua atenção de alguma forma… - Respondi num sussurro. – Preciso respirar, lembras-te?

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