• Seventy One •

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Cheguei em casa e encontrei minha mãe assistindo o jornal no sofá da sala, assim que os olhos dela encontraram o gatinho em meus braços, eu fiz sinal de silêncio com o indicador e ela respirou fundo.

Pedi calma à ela e caminhei até meu quarto, coloquei o filhote sobre a minha cama, ainda envolvido em meu lenço e fechei a porta para que o gato da minha mãe não entrasse no quarto.

Voltei para a sala e vi minha mãe de braços cruzados encostada  no sofá, ela perguntou:

— Você quer me explicar agora ou depois?

— Não se preocupe, só preciso que ele fique provisoriamente aqui, ele já tem um dono. - Falei sorrindo fraco e ela ergueu uma sobrancelha.

— Um dono? - Ela perguntou desconfiada.

— Sim, eu vou dá-lo ao YoonGi. - Respondi sorrindo para o chão e ela desfez a expressão preocupada com uma risada soprada.

— Você não existe, SaeJin. - Ela falou rindo.

— Para, omma! Vai ser bom pra ele. - Expliquei e ela se aproximou de mim, envolvendo meu corpo num abraço.

— Eu sei disso querida, você se preocupa tanto com ele que, às vezes eu penso que vocês tem um fio vermelho interligando ambos. - Ela falou e eu me afastei confusa.

— Fio vermelho?

Aka Ito. É uma lenda japonesa que diz que um casal tem um fio vermelho interligando o dedo mindinho de cada um. - Ela explicou e eu ri.

— Interessante, como sabe disso?

— Ah... meu chefe, ele é japonês. - Ela falou passando a mão pelo torço e eu senti algo em meu estômago, como uma pontada. — Filha, encontre um lugar para o filhote e vá descansar, amanhã você tem aula.

Assenti ignorando aquele sentimento em mim e me despedi da  minha mãe indo até o quarto. Sentei em minha cama e pus o gatinho em meu colo, ele se remexeu e miou.

Sorri e passei meu indicador sobre sua cabecinha, repeti o processo algumas vezes até ele passar a ronronar sobre meu  toque.

— Você deve estar com fome. - Falei e ele miou, ri imaginando que ele estava realmente me respondendo e me levantei segurando-o com a minha mão direita. — Eu não sei quantos meses você tem, o que eu vou te dar pra comer?

Sentei na minha escrivaninha e abri meu laptop pesquisando sobre como eu deveria alimentar recém nascidos. Adotei meu gato quando ele já era mais velho, eu não tive que passar pelo processo da dar mamadeira ou qualquer coisa! Li as instruções com atenção para não perder nenhum passo.

Suspirei olhando para as orbes amareladas do gatinho e disse:

— Certo, eu posso te dar leite diluído na água por hoje, amanhã o YoonGi e eu compramos PetMilk pra você, ok? - Falei recebendo um miado em resposta e supus que aquilo era o mais indicado a se fazer naquele momento.

Levei o gatinho comigo até a cozinha, esquentei a água deixando-a morna, peguei um pouco de leite na geladeira e fui diluindo o líquido na água. O filhote miou mais uma vez enquanto eu mexia a mistura dentro da panela.

— Aigoo, já está ficando pronto... - Desliguei o fogo e fui até o banheiro esperando o a mistura do leite esfriar e a procura de um conta gotas.

Encontrei um dentro de uma embalagem de remédio já vazia e peguei-o. Voltei à cozinha e pus o líquido morno dentro de um recipiente de vidro.

Fui até meu quarto e pus o filhote sobre a minha cama. Ajoelhei-me e transferi o leite do recipiente para o conta gotas. Aproximei a ponta dos pequeninos lábios do gatinho e ele miou se afastando.

— Vamos, você está com fome. - Falei aproximando mais uma vez o conta gotas, ele recuou novamente. — Eu sei, não é igual ao leite que você está acostumado, amanhã o YoonGi vai comprar um melhor pra você, só beba esse hoje.

Pus minha mão sobre as costas do filhote e apertei levemente a base do conta gotas fazendo algumas gotículas de leite molharem os lábios do animal. Rapidamente, o filhote começou a lamber o leite ali contido.

Sorri satisfeita e a cada lambida do filhote, eu ia apertando a base mole do conta gotas, fazendo mais leite sair do mesmo. Respeti o processo até que não houvesse mais leite dentro do recipiente.

Comemorei e peguei o gatinho abrindo meu laptop mais uma vez para checar o que eu deveria fazer naquele momento. Eu precisava aquece-lo, encontrei uma caixa de papelão velha e forrei-a com alguns panos e um lençol quente.

Olhei para o relógio na parede do meu quarto e notei que já eram meia noite, o sono já deixava meus movimentos mais lentos e eu tinha que dormir pois, tinha aula no dia seguinte.

— Eu preciso dormir, fique bem e não saia da caixinha. - Falei ouvindo o gatinho miar outra vez enquanto colocava-o dentro da caixinha revestida de superfícies quentes e macias.

Pus a caixa ao lado da minha cama e coloquei um pijama, me deitei na cama e apaguei as luzes, acendendo apenas o abajur ao lado da minha cama.

O filhote miou e eu me cobri colocando minha mão dentro da caixa, envolvendo o gatinho com alguns panos que estavam sobrando. Deixei minha mão dentro da caixa e senti meus olhos pesarem e o sono me consumir.

•     •     •

Acordei sentindo algo enrolado em minha mão direita, desci meu olhar e encontrei o filhotinho agarrado na minha mão entrelaçando sua calda em meus dedos. Ri fraco e me aliviei ao senti o coração dele bater sob as costas da minha mão.

Me levantei da cama e desvinculei-me do gatinho de vagar para não acorda-lo, envolvi-o com mais panos e caminhei até o banheiro silenciosamente.

Tomei um banho rápido e vesti meu uniforme da escola, enquanto calçava minhas sapatilhas, ouvi o primeiro miado daquele dia. Sorri e engatinhei até a caixa, vendo os olhos sofridos do animal encontrarem os meus, assim que me viu, ele cessou os miados e se aproximou de vagar da borda da caixa.

— Estou aqui, não se preocupe, eu não te abandonei. - Falei sorrindo e tirando-o de dentro da caixa.

Coloquei-o em meu colo e ele começou a se enrolar em minha saia, ri baixo e notei que ele poderia estar com frio. Filhotes tendem a sentir mais frio que gatos adultos, peguei os paninhos da caixa e enrolei o gatinho o aquecendo o máximo possível.

Olhei para o relógio e me apressei, peguei minha mochila ainda com o animal em minhas mãos, fui até a sala, onde encontrei minha mãe tomando seu típico café da manhã.

Ela levantou o olhar, olhou para o animal em meus braços e meu rosto carregando uma expressão que dizia "fique com ele, só por algumas horas", ela repetiu a sequência três vezes até que suspirou derrotada e falou:

— Certo, meu chefe me deu folga hoje de todo modo.

— Obrigada, omma! - Agradeci e deixei o gatinho nos braços da mais velha, ele miou e eu ajeitei minha mochila. — Não deixe ele passar frio, se ele tiver fom-

— Eu vim de uma fazenda, eu sei cuidar de qualquer tipo de animal filha, não se preocupe, vá logo se não você irá perder o horário. - Ela falou e eu agradeci imensamente beijando sua testa.

Me despedi e saí de casa seguindo caminho até a escola...

DIAMOND 》 SugaOnde histórias criam vida. Descubra agora