Aos 18 anos, o escritor Caio Fernando Abreu escreveu o conto O Príncipe Sapo, que
foi publicado na época pela revista Cláudia e que hoje pode ser lido no seu Ovelhas Negras.
É a história de uma mulher que tem 11 irmãs. Todas casam, menos ela. Em 1966, quando Caio
escreveu esta sensível parábola, o preconceito contra a solteirona era muito forte. Hoje, mais
de 30 anos depois, também é.
Olhe bem para aquela garota sentada num bar, moderníssima. Ela quer casar. Mire nos
olhos da balconista que acabou de atender você. Também quer. A aeromoça, idem. Sua prima,
então, não vê a hora. Sim, elas são independentes, viajam, levam camisinha na bolsa, vão ao
teatro e lêem Camille Paglia. Mas querem casar, pomba!
Não adianta remar contra a maré. Desde que nascemos, fica combinado assim: cresça,
estude e case. Depois faça o que bem entender da sua vida. Tudo te empurra para o altar, a
começar pelos desenhos animados. Branca de Neve, Cinderela, até o Mogli encontra sua cara-
metade. Festa de São João termina em casamento na roça. Desfile de moda termina com
vestido de noiva. Novela termina diante do padre. O recado está dado: casou, cumpriu. Se vai
ser feliz, são outros quinhentos.
Os homens também têm que seguir a mesma trajetória, mas a cobrança é menor. Não
existe um relógio biológico apressando a paternidade e não há tanto preconceito se a
solteirice estender-se um pouco além da conta. Símbolo de status, para os homens, é um carro
importado, um terno feito sob medida e meia dúzia de cartões de crédito. Para as mulheres,
nada disso parece valer grande coisa sem uma aliança no dedo.
Pois bem. Não casou aos 20, não casou aos 30, mas está a fim. O que fazer? Primeira
providência: olhar-se no espelho demoradamente. O que você vê? Olhos castanhos, boca
miúda, corpo razoável. Nenhuma obra-prima, mas nada que um batom e um decote não
resolvam. Avaliação errada. O que os homens podem enxergar em você é um certo olhar de
filhote abandonado, uma ansiedade à flor da pele, uma carência afetiva das boas. Olhe no
espelho de novo. Por trás da maquiagem, pode haver uma mulher suplicando para que tomem
conta dela. Cuidado, eles farejam no ar.
Solteirice indesejada rima com amargura, ironia, baixo astral. É assim que você quer
arrasar corações? Homem nenhum quer responsabilizar-se por uma marmanja, ainda mais de
mal com a vida. Assuma sua solidão, tire proveito dela, mostre ao mundo que você se basta,
mesmo que não tenha certeza disso. Homens querem companheiras, não irmãs mais moças que
necessitam de guarda-costas. Se você ficou solteira mais tempo do que desejava, comporte-se
como casada, e terá todos os homens a seus pés.
Mulher casada não está nem aí para o estado civil dos outros homens. Mulher casada
não avalia "partidos": para ela, todos os homens são interessantes. Mulher casada não fica
aflita para que peçam seu número. Mulher casada está pouco ligando para o que os outros
pensam a seu respeito. Enfim, a mulher casada é infinitamente mais livre do que a solteira,
pois já cumpriu o papel que a sociedade exigiu dela - casou! - e agora tem o resto da vida
para ser ela mesma. Ninguém pode ser mais autêntica.
Vamos brincar de manual de auto-ajuda. Em primeiro lugar, aparente ser muito ocupada,mesmo que passe todas as noites comendo doritos em frente à tevê. Mantenha correspondência
com alguém misterioso, nem que seja seu irmão que mora em Itapecerica da Serra. Tenha
alguns segredos e dê a entender que sua vida sexual deixaria Madonna escandalizada. Entre
nos lugares já de olho no relógio, como se estivessem esperando você no outro lado da
cidade. Demonstre ser absolutamente indisponível. E volte correndo para casa: seu telefone já
começou a tocar.