Qualquer data serve. 14 de abril. 20 de agosto. 17 de novembro. Em breve, os homens
irão monopolizar-se pela criação do seu dia, onde encontros, seminários e homenagens serão
realizados no mundo inteiro, chamando a atenção para essa classe oprimida.
Não anda fácil ser homem. Eles trocam fraldas, levam os filhos ao parque, participam
de reuniões escolares, saem de férias com a garotada, e tudo isto, veja bem, sem ver a cor de
um contracheque. Nem décimo terceiro, nem fundo de garantia. Remuneração zero.
Por isso, além das lides do lar, os moços trabalham fora. E ai deles se fracassarem.
Precisam ser durões, competitivos, enérgicos. Nem pensar em chegar atrasado por causa de
uma cólica intestinal ou sair de uma reunião aos prantos. Tem uma fila de desempregados lá
fora com a senha na mão para assumir o posto.
No amor, a opressão é ainda maior. Os homens que não casam são marginalizados pela
sociedade. São vistos como playboys, filhinhos da mamãe ou bichas enrustidas. Casam-se,
então. E surpresa: até que é bom! Mas não dá para confiar nas mulheres. Mais cedo ou mais
tarde elas começam a se queixar da monotonia, da rotina sexual, da falta de liberdade e pedem
o divórcio sem dar aviso prévio, deixando o pobre com uma mão na frente e outra atrás. Elas
levam o apartamento, os filhos, os amigos, boa parte da renda familiar e o conhecimento
integral de como funciona a engrenagem doméstica. Ficam os homens sem saber como ligar a
torradeira e em pânico quando a faxineira diz que precisa de material. Do que você precisa,
santa? Fita isolante, pregos, disquetes? Não senhor: água sanitária, sabão em pó, amoníaco,
vassoura, óleo de peroba. Dá para escutar os gritos dele lá da outra quadra.
É barra. Os homens morrem e deixam uma herança de fama e fortuna às suas viúvas e
namoradas. Agora diga aí que homem, viúvo de mulher famosa, foi convidado para posar nu
ou escrever uma biografia.
Homens não podem engravidar. Homens têm uma expectativa de vida menor. Homens
pagam mais consumação em bares e boates. Homens pagam mais seguro. Homens têm menos
alternativas para se vestir. Homens não usam maquiagem. Homens não têm cintura. Homens
expressam seus sentimentos com dificuldade. Homens são mantidos como reféns. Homens
afundam com os navios.
Não bastasse essa discriminação toda, eles agora estão prestes a ser descartados
daquela que é sua maior contribuição à sociedade, a reprodução.
Oh, Dolly!
Dia Internacional da Mulher é um acinte. Um deboche. Uma provocação. Já teve
sentido, não há mais. Mulheres verbalizam tudo, conversam pra caramba, trocam experiências,
debatem, riem, se divertem, todo santo dia. Chega. Passemos a palavra.
Março/97