POLÍTICOS E SABONETES

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Toda vez que inicia o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão é aquela

chiadeira. Ninguém suporta ver e ouvir o blá-blá-blá que caracteriza os programas. Muda-se

os rostos, os nomes, mas a performance é a mesma: salvadores da pátria saindo em carreata,

beijando criancinhas, abraçando populares na rua e garantindo que, caso receba o seu, o meu,

o nosso voto, tudo será diferente.

Não que os programas sejam ruins. Os deste ano têm sido até agradáveis: bons jingles,

qualidade de produção e nenhuma baixaria, pelo menos entre os candidatos mais cotados. Mas

não há mobilização. Não há uma proposta surpreendente. Quase nenhum projeto objetivo. Os

candidatos manifestam suas intenções, aliás, excelentes, mas nada que um concorrente também

não possa prometer. Na hora de escolher em quem votar, acabamos por nos apegar mais ao

passado do candidato ou do partido que ele representa do que em propostas concretas para o

futuro.

Propaganda eleitoral sempre foi um grande ganha-pão do mercado publicitário. Nada

contra, se o político estiver disposto a ser anunciado como um produto. A função da

publicidade, de modo geral, é essa: informar a existência de uma nova geladeira ou de um

modelo novo de carro e dizer que tipo de benefícios, sejam eles emocionais ou materiais, esse

produto (ou serviço) pode oferecer ao consumidor. Pode-se usar diversos recursos para

impactar a audiência: efeitos especiais, humor, depoimentos de celebridades, tudo amparado

por um bom planejamento e uma idéia pertinente e original. Ou pode-se usar fórmulas

consagradas e repetidas à exaustão, como os comerciais feitos para vender sabonetes e

shampoos. Uma bela garota numa banheira cheia de espuma, close em sua pele acetinada, uma

música sensual e está dado o recado. Serve para qualquer marca. Para anunciar políticos tem

sido mais ou menos assim.

Os profissionais da propaganda não são mágicos, você sabe. Se tiverem que anunciar

um fósforo que não acende, um refrigerante com gosto de amoníaco ou um apartamento com

vista para o presídio central, não há criatividade que salve o cliente da falência. Mas se o

político com quem estão comprometidos tem algo mais a dizer além de "Vamos construir

juntos uma cidade melhor", então que permitam o candidato deixar de lado o mise-en-scène e

ir direto ao ponto, divulgando objetivamente sua plataforma, que o interesse será todo nosso

em escutar.

Se eu fosse acometida por um acesso de loucura e resolvesse me candidatar a um cargo

tão importante como o de prefeita de uma capital brasileira, antes da arrancada eu distribuiria

uma revista com a programação inteira do meu espaço eleitoral, assim como fazem as revistas

de tevê a cabo distribuídas aos assinantes no começo do mês, para que eles possam

acompanhar dia por dia. Exemplo: dia 20, o assunto é saúde pública. Dia 21, saneamento

básico. Dia 22, trânsito. Dia 23, planejamento urbano. Usaria a tevê para transmitir meu plano

de governo, tema por tema, dando uma estimativa de custo de cada projeto e dizendo de onde

sairia o dinheiro. Delírio, utopia, ingenuidade? Que seja, mas é assim que eu preferia que

fosse. Programa eleitoral deveria parecer mais com um programa jornalístico do que com um

videoclipe. Não seria tão atraente, mas seria mais útil. Como não pretendo me candidatar nem para síndica do meu prédio, fica a sugestão para quem quiser utilizá-la nas próximas eleições.

Não garanto que o candidato vá se eleger, mas pelo menos ninguém vai confundi-lo com um

sabonete qualquer.

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