Fala-se muito que o casamento está em desuso. Tá nada. Podem as pessoas não estarem
muito preocupadas em legalizar a união em cartório, mas todos continuam querendo encontrar
sua cara-metade e morar embaixo do mesmo teto, bem agarradinhos. Por que isso estaria fora
de moda? Casamento é ótimo, desde que não haja ciúmes, grude e gente de fora dando palpite.
Em desuso estão aqueles casais que fazem a linha "só vou se você for", do contrário,
casamento é diversão, companheirismo, intimidade, colo. Casem, crianças. Casem uma, duas,
quantas vezes for necessário. Só não inventem de noivar.
Noivado, sim, não entra na minha cabeça. Em priscas eras, noivado significava
promessa de casamento. O namorado podia passar do portão para o sofá da sala. O
relacionamento ganhava um novo status, a mão direita, uma aliança e abria-se um crediário
para a compra dos móveis. A data era marcada para quando o rapaz se formasse, dali a três
anos. Enquanto o grande dia não chegava, o pretendente começava a estagiar com o sogro e o
casal de pombinhos saía aos domingos para comer uma pizza enquanto escolhia o nome dos
sete filhos que viriam a ter. Adrenalina pura.
Para meu espanto, continua-se noivando adoidado, tudo em nome da tradição e dos bons
costumes. E, creio eu, para materializar as grades que o namoro, por ser uma relação mais
descompromissada, não tem. Um namoro pode acabar em casamento, pode acabar em
amizade, pode acabar em pancadaria, mas pode acabar. Noivado, em princípio, não pode.
Noivado é um pré-casamento. Tem festa, padrinhos, presentes e anúncio no jornal. Não
se sabe se eles noivaram porque estão se gostando mais ou vão começar a se gostar mais
porque noivaram, mas acredito numa tese menos romântica: os noivados não passam de uma
longa despedida de solteiro, onde tudo conduz à gandaia.
"Sou noiva." Diga essas palavras mágicas a um homem que goste de desafios e ele
tentará desesperadamente levá-la a um motel barato. Noivas são tentadoras. Amigas íntimas
do pecado. As musas de Nelson Rodrigues. Um convite à cantada, já que não existe melhor
termômetro para um homem medir seu poder de sedução. Fazer uma mulher trocar de
namorado é fácil, mas fazê-la desistir de um casamento, uau!
"Sou noivo." Diga essas palavras mágicas e a mulherada fugirá como o diabo da cruz.
Nosso desafio é outro: pegar um homem desprevenido e conduzi-lo ao altar antes que ele caia
em si. Encontrar um que esteja oferecendo o pescoço à forca por livre e espontânea vontade
não faz parte dos nossos fetiches. É um homem rendido.
Noivado é fraude. Tentativa de ganhar tempo. Ok, vou dar uma chance ao cupido:
também pode ser a prova de um sentimento arrebatador, único, ciente da própria eternidade.
Só que não serve para nada nem garante coisa nenhuma. Tem gente que namora duas semanas,
casa e comemora bodas de ouro. Outras ficam noivas dez anos e casadas apenas dez dias.
Noivado é rito de passagem. Uma maria-fumaça. A paixão é que é o verdadeiro trem-bala.