Capítulo 23 - Mentira e suas pernas curtas (Parte 1)

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Parecia que naquela manhã ninguém estava a fim de se levantar para ir ao Landmark, mesmo que não tenham sequer dormido na noite anterior. Alice passou o resto sua noite em claro lendo tudo o que podia sobre juizado de menores e o que poderia fazer para recuperar a guarda de seus irmãos. Ela só teria o segundo período no Landmark, uma vez que duas de suas turmas tinham saído para atividades extraclasses.

Colocou uma calça preta, uma blusa azul-marinho e um par de saltos, já que sairia para começar a resolver o problema de seus irmãos e provavelmente iria direto para o colégio. Antes de descer as escadas passou no quarto de Fred, ela ficou em dúvida se ele começaria a trabalhar naquele dia, ou se apenas levaria os documentos na empresa, mas ele não estava lá dentro.

— Estranho o senhor soneca não estar no quarto. – Comentou consigo mesma desceu as escadas. — Fred? – Chamou pelo irmão e não obteve respostas, não estava em nenhum lugar do andar de baixo. — Já sei. – Falou antes de pegar a bolsa e sair de casa, como ela já estava esperando, o carro estava na garagem.

Apesar de ser um lugar completamente inusitado para se estar, ela tinha certeza que ele estava lá, e que ele tinha ido andando. Ele costumava a sempre fazer isso assim que perdeu seus pais. Alice estacionou o carro em uma vaga que havia bem em frente ao cemitério e entrou, conhecia tão bem o caminho até os túmulos da família Benson.

E ali estava ele, ela o observou de longe, sentado em cima do túmulo de seu pai e de costas para a entrada do local, como Alice já imaginava, ele tinha um cigarro na boca. Ela se aproximou um pouco mais para ouvir o que ele falava.

— Desculpe não ser um grande homem como você, pai. – Pediu olhando para baixo. — E me desculpe por deixar a Alice assumir esse papel que na verdade deveria ser meu. – Continuou atirando uma pedrinha ali perto para longe. — A verdade é que, eu queria ter uma conversa de homem para homem, entende? Não, você não iria entender... Para falar bem sério, eu acho que foi até bom você ter morrido, assim não teria que ter o desgosto de ver esse merda que eu me tornei. – Concluiu colocando o cigarro na boca para dar mais uma tragada. — Depressivo. – E então debochou de si mesmo. — É isso que eles estão falando por aí, que eu estou depressivo. Pai, eu sei o que você ia dizer sobre isso, você ia me dizer inconformado... "Fred, meu filho, depressão?" – Imitou a voz do pai na última frase, Alice sorriu. — Acho que eu só posso me considerar um homem porque ainda saio com algumas garotas. Tipo a Jennifer, você ia adorar conhecê-la! Por que nem a Carly me quis mais, acredita? – Comentou rindo amargamente no final. — E pelo que eu saiba a Alice está ficando com um pirralho aí, então não dá para conversar de homem para homem porque ele ainda não é homem. E só pelas vezes que eu tive que buscá-la em encontros fracassados com esse carinha, fico em dúvida sobre quem realmente é o passivo da relação. – Disse girando os olhos no final da frase e prendendo o cigarro entre os dedos. — Eu não posso negar pai, estou muito mal, pior do que eu demonstro, por dentro estou destruído, mas não posso demonstrar, não quero deixar a Alice mais preocupada. Eu a amo e a admiro muito, o jeito que ela conduz a nossa vida, o jeito que ela se preocupa com nosso bem-estar, às vezes até esquecendo-se dela mesma. É por isso que eu não posso me entregar de vez, que eu tenho que aparentar estar forte, não posso dar mais essa preocupação para minha irmã. Mas está difícil. – Contou e Alice aproximou-se até chegar ao lado dele, o rapaz olhou para cima para vê-la.

— Tem um cigarro? – Pediu e ele entregou a caixinha para ela. A morena sentou-se ao lado do irmão.

Alice e Fred não eram fumantes, eles apenas precisavam de um escape quando as coisas começaram a ficar apertadas para eles no final do ano anterior, não era um costume diário, eram raras vezes, como a que estava acontecendo no momento. Ela apoiou suas costas no ombro esquerdo de Fred suspirando assim que olhou para cima.

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