Capítulo 17

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"Tudo começou quando eu estava aprendendo a falar as primeiras palavras.

Eu era pequena e não entendia o que se passava ao meu redor. Não prestava atenção aos acontecimentos e muito menos aos detalhes.

Mas há algo que se faz presente em minhas memórias ainda que os anos tenham se passado: o infinito amor que meus pais tinham por mim. E isso era estrando porque sempre fomos uma família alegre e feliz. Eles sempre faziam todos os meus gostos, eu só precisava fazer uma carinha triste e dizer que os amava. 

No entanto, minha mãe andava mais estressada e meu pai começava a perder a paciência com facilidade. E comecei a ficar assustada quando minha mãe começava a pedir para eu não falar, quando eu fazia menção de querer conversar com eles. E quando eu desobedecia, mamãe começava a me bater, por mais que fosse visível que aquilo doía mais nela do que em mim.

Meu pai saia nervoso dizendo ir tentar resolver a situação e quando chegava em casa nos trancava rapidamente pedindo silêncio. Eu ia dizer que estava com ele para enfrentar qualquer coisa, mas papai me batia e com lágrimas nos olhos dizia que aquilo aconteceria se eu falasse novamente, então para não apanhar eu deveria ficar calada. Ouvi ele sussurrar pra minha mãe que a coisa estava mais séria do que o esperado. Agora havia uma ameaça de morte.

O tempo foi passando onde passamos a viver assim até que um dia meu pai chegou mais transtornado que o normal em casa dizendo que precisávamos sair o mais rápido possível. Eu passava a prestar atenção a tudo e vi ele comentar que alguma pessoa estava vindo nos matar por causa de uma dívida não paga. Mas que merda de dívida era aquela que custava uma vida?

Mas foi tarde !

Estávamos entrando no carro enquanto meu pai guardava as nossas malas. Minha mãe me sentou apressada e colocava meu cinto de uma forma que eu via o quanto suas mãos tremiam. Ela estava assustada e nervosa. O que estava acontecendo para fazer aquela que sempre era forte tremer de medo daquela forma?

Foi então que ouvimos um disparo alto que nos faz gritar pelo susto. E ele acertou meu pai bem no seu peito. Papai fecha a mala do carro e nos olha surpreso com a mão na ferida que agora sangrava. Recebe outro tiro no braço e outro na coxa.

Ainda que sofrendo eu vi ele fazer um sinal para minha mãe que chorando em choque acena com a cabeça e corre para o banco do motorista ligando o carro apressada, enquanto as lágrimas desciam sem parar molhando todo o seu lindo rosto.

Tento tirar meu cinto. Eu precisava ajudar ele. Não!! Aquilo não podia ser verdade. Eu só tinha cinco anos e ele tinha prometido que nunca me abandonaria. Por que o estavam tirando de mim agora?

-Foge agora meu amor! Salva a nossa filha!~Foram as últimas palavras dele antes de receber um tiro na cabeça e desabar no chão. Em choque, paralisei ao ver a cena que sabia jamais poder esquecer.

Haviam matado meu amado papai.

Minha mãe acelerava o carro e pedia para eu me abaixar e ficar calada. Eles não podiam me ver.  E ela pedia também chorando para que eu ficasse calada. Suas mãos tremiam no volante e ela parecia fora de si. Mamãe também estava em choque e eu sabia que estava sofrendo. Assim como eu ela queria voltar e salvar papai.

Ele havia ficado no chão frio e eu não podia gritar minha dor porque era proibida de falar, pela minha própria mãe.

Naquele dia conseguimos fugir e fomos morar em uma casa desconhecida e afastada da cidade. 

E minha mãe havia mudado ao ponto de não me deixar nem suspirar alto.
-FICA CALADA OU ELES VÃO ACHAR A GENTE LUZ. ~Era o que ela gritava sempre que eu tentava conversar com ela. Tentando me fazer entender, ela me batia com mais força agora e eu percebia que se não quisesse apanhar tinha que selar meus lábios para sempre.

A Muda (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora