Capítulo 35

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Eu não estava acreditando naquilo.

Parecia que meu mundo tinha parado de girar por um momento ao ver o garoto que eu amava com uma arma nas mãos apontada para mim.

Fecho os olhos e deixo as lágrimas descerem.

Nada fazia mais sentido. A única pessoa que eu achava que poderia me ajudar, estava do lado dos assassinos dos meus pais.

Quando abro os olhos consigo encontrar seu olhar em mim. Para as pessoas ao seu redor, aquele olhar podia ser inexpressivo, mas dado o fato que eu não falava e aquela foi a nossa maneira de se comunicar várias vezes,  eu via um certo sofrimento escondido a sete camadas.

Com a arma apontada pra mim seus olhos analisam meu rosto, depois vai até meu lábio que eu sabia ter uma linha de sangue e depois para em meu corpo. Imediatamente vejo seu maxilar ficar tenso e ele aperta a arma com força nas mãos.

-Leva ela para a cobertura, Mateus. Está na hora dela conhecer nosso chefinho. ~O homem que havia me batido fala e Mateus vem em minha direção ainda com a arma em mãos.

E naquele exato momento toda a ficha cai pra mim. Todo aquele tempo Mateus havia me usado, e enquanto dizia me amar, na verdade estava apenas me vigiando e seguindo ordens. Essa era a sua verdadeira identidade. Esse era quem ele era.

Bumm!! Finalmente eu havia descoberto o seu grande segredo.

As lágrimas explodem e sem conter a decepção começo a negar com a cabeça me perguntando como eu pude ter sido tão burra.

Não. Os sinais sempre estiveram lá, fui eu que nunca quis de fato ver.

 Sinto Mateus segurar meu braço me levantando e acabo derrubando o vidro no chão. Assustada olho pra ele esperando que me denuncie aos seus parceiros ou que me bata como o outro homem tinha feito. Mas sou surpreendida quando ao perceber, ele chuta o vidro para longe para que mais ninguém veja. 

Ele se abaixa desamarrando minhas pernas e percebo que fecha os punhos ao perceber um corte em minha perna esquerda.

Começo a sentir falta de ar novamente e me pergunto se seria capaz de chegar até o final daquilo.

Deixando apenas minhas mãos amarradas ele segura em meu braço me fazendo caminhar em direção a porta. Sentindo o braço dolorido eu me afasto dele fazendo cara de dor. Mas não eram apenas os machucados que doíam, era seu toque. Eu estava com raiva do que ele tinha sido capaz de fazer comigo. E com mais raiva de eu ter permitido aquilo. Me sentia traída.

Ele para e percebe que estou tentando me afastar. Sem conseguir olhar em meu rosto apenas volta a me puxar de novo sem colocar força ou sem me machucar. Me afasto novamente e fito o chão sentindo as lágrimas descerem pelo meu rosto e fazendo um caminho pelo meu pescoço.

Mateus se aproxima e segura meu queixo me fazendo olhar pra ele. ( Eu não vou te machucar), seus olhos me diziam. Mas ele já havia feito isso. Havia me destruído por completo.

Sinto mais lágrimas descerem do meu rosto molhando sua mão e ele fecha os olhos por um momento e o tremor de sua mão é visível em minha pele.

-Vamos logo com isso Mateus. ~O homem fala da porta e afasto meu rosto da mão dele que depois de respirar fundo volta a me segurar pelo braço, e dessa vez não me afasto. Queria acabar logo com aquilo.

Seu toque era quase inexistente e lá no fundo uma vozinha me dizia que ele estava sofrendo tanto quanto eu. Mas naquele momento eu era uma confusão de sentimentos e não conseguia pensar ao certo. 

Eles me levam para a laje do que parecia ser uma casa abandonada. E chegando lá Mateus me senta devagar em uma cadeira no centro de vários homens e de cabeça baixa escuto ele falar baixo para o cara que tinha me batido.

A Muda (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora