A Muda (COMPLETO)

Capítulo 42

Algo atinge minha cabeça e eu caio me sentindo tonta. Se Mateus estivesse entre os corpos mortos dos estudantes que se estendiam por todos os lugares eu não achava ser capaz de conseguir ir avante.

As lágrimas saem de meus olhos fazendo um caminho quente pelo meu rosto. 

Levo a mão a barriga e a dor em meu peito me faz tremer.

Medo.

Dor.

-Eu te amo Mateus, por favor você não pode me abandonar...~Sussurro baixinho.

Algo queima minha perna e ao olhar percebo que o fogo que agora se espalhava estava em todos os lados e havia fechado toda e qualquer saída.

Levanto desesperada e com a perna ardendo quando minha mente me força a conseguir raciocinar. Haviam pessoas esperando por mim.

Eu tinha que ajudar Katerine.

Pego o celular de Mateus com as mãos tremendo e limpo o sangue em meu vestido. Ligo para Laura e ela atende no segundo toque.

-Alô, Mateus.? Você achou ela ?~Ela pergunta e sei que está chorando. Sua voz soava desesperada.

Um alívio me toma por saber que ela estava viva, mas saber que perguntou por Mateus faz meus pelos se arrepiarem. 

-Laura, sou eu .~Falo tossindo quando inalo a fumaça que me rodeava sentindo meu pulmão queimar. 

-JACK CORRE AQUI, É A LUZ. ELA ESTÁ COM O MATEUS. LUZ VOCÊ TA BEM ?.~Ela pergunta desesperada entre os gritos e meu coração para.

Mateus não estava com ela ?

-Laura, Mateus não está com vocês? ~Pergunto e ela começa a chorar parecendo perceber que ele não estava comigo.

-Luz, ele foi atrás de você assim que tudo começou. Ele ia até seu quarto enquanto tentava te ligar... Ele ainda não saiu daí. ~Sua voz sai tremula pelo choro.

Sinto o calor me atingir e as palavras de Laura vem como um soco.

Ele havia voltado por mim. E talvez não tivesse conseguido sair.

Escuto bombeiros gritando ordem perto dela e o som de desespero vindo de quem fosse que estivesse ao seu redor.

-Segundo andar. Corredor. Duas portas depois do nosso quarto. Uma garota presa pela parede. Há um garoto com ela. Faça eles apagarem o fogo de lá e os resgatarem.

Após essas palavras sinto o celular apitar um aviso que descarregou e desligou... ele escorrega de minhas mãos e cai no chão.

Minha garganta se fecha e finalmente grito deixando minhas lágrimas embaçarem minha visão.

Não tinha como escapar. O fogo me rodeada naquela sala apertada e quando sinto que o mesmo se aproxima de mim não tento me afastar.

Aquele seria meu fim.

-LUZ ?~Escuto uma voz me chamando ao longe e prendo a respiração paralisando.

Era a mesma voz que fazia meu corpo se arrepiar. Era a voz que me trazia calma e conforto. Era Mateus.  Será que eu estava finalmente começando a delirar? 

Levanto e rasgo aparte de baixo do vestido para que não pegue fogo e deixo ele acima do joelho.

Minha perna sangrava pela queimadura e meus braços estavam queimados deixando pequenas marcas rosas que ardiam constantemente.

Tudo estava escuro e com fumaça. Só havia o fogo como luz.

-LUZ MEU AMOR, CADÊ VOCÊ? ~Dessa vez eu tive certeza que não era delírio.

Era ele !

-Mateus eu estou aqui!.~Falo e minha voz saí baixa quando eu começo a tossir.

Mas ele escuta.

Vejo sua silhueta do outro lado da porta mas o fogo nos impedia de nos vermos.

Me aproximo da porta aberta que levava até os corredores e sinto o alívio me tomar.

Ele estava vivo.

-Você tá bem ?~Ele pergunta e eu não consigo responder porque vejo o fogo tocar na perna ferida e dou um grito fraco caindo no chão.

Aquilo era um pesadelo.

-Droga!~Mateus diz nervoso ao me ouvir gritar e vejo ele jogar um líquido fazendo o fogo da porta que nos afastava diminuir. E isso é o suficiente para que ele faça uma passagem rápida soltando um palavrão quando o fogo toca seus braços.

Ele cai de joelhos ao meu lado.

Eu me agarro nele com todas as forças que ainda tinha.

Vivo! Ele estava vivo!

Com o terno rasgado, mostrava alguns cortes no rosto e nos braços.

-Meu amor olha para mim, você tá bem ?~Ele pergunta segurando meu rosto em suas mãos quentes e me fazendo olhar em seus olhos.

O fogo estava em todos os lugares e eu sabia que não conseguiríamos sair daquela sala.

-Minha perna dói. ~Sussurro e quando seu olhar encontra minha perna ele fecha os olhos por um momento escondendo seus sentimentos. Mas não rápido o suficiente para que eu não visse o medo estampado em seu olhar.

Ele senta e me coloca em seu colo me abraçando forte enquanto encosto minha cabeça em seu peito.

-Eu achei que tinha perdido você, minha baixinha. A dor que sentir ao ver tudo começar a pegar fogo e não vi você voltar... Nunca senti tanto medo na minha vida. ~Ele diz estremecendo.

-Eu também achei que tinha perdido você para sempre. ~Falo em meio as lágrimas.

-Eu sempre estarei aqui quando você precisar, meu amor. ~Ele diz passando as mãos em meus cabelos e depois inconscientemente leva uma das mãos a minha barriga fazendo aqueles pequenos carinhos que me acalmavam.

-Eu te amo, Mateus.

-Eu te amo, Luz.

Talvez aquele fosse o nosso fim, afinal.

Mateus tossi algumas vezes e sinto o fogo bem próximos a nós. Mas em nenhum momento ele tenta me afastar. Seus braços me envolviam de forma protetora.

-Se a gente sair dessa você casa comigo ?~Mateus pergunta e eu arregalo os olhos me afastando para olhá-lo.

-Espera o que você..

-Se eu morrer aqui com você, quero que saiba que cada momento que vivi ao seu lado foram os melhores de minha vida, Luz. Mas se a gente sair dessa de alguma maneira, quero passar até o último minuto ao seu lado. Porque não importa se meu destino foi sofrer, tentar matar uma garota por quem me apaixonei ou morrer aqui. Sabendo que esse destino me levou até você me faz querer provar que sou digno de ti. ~Ele diz me dando um sorriso fraco.

-Não importa o que passamos, Mateus. As brigas, o sequestro.. Todo o resto.. Nada importa. Meu passado me condenou e você foi a minha libertação. Vivi os momentos mais felizes da minha vida ao seu lado e não trocaria nenhum desses momentos. Eu passaria por tudo novamente. Meu destino é estar do seu lado, sempre. E sim, eu seria a pessoa mais feliz do mundo se pudesse me casar com você. ~Falo olhando nos olhos deles e então nossos lábios se encontram em um beijo com um gosto salgado de lágrimas.

Talvez aquele fosse o nosso último beijo. Talvez aquele fosse o nosso último momento juntos.

Mas se eu pudesse sair dali seguiria o conselho se Katerine e faria minha vida valer a pena. 

Porque as vezes esquecemos de aproveitar as pequenas coisas da vida, achando que aqueles momentos são insignificantes.
E esquecemos que o tempo não volta e que essas simples coisas podem ser tiradas de você em um piscar de olhos.