Não me canso de ver a brisa do mar. Por que será que gosto tanto daqui? Será que sou mesma uma gaúcha? É raro encontrar ruivas no Rio Grande do Sul, a maioria são loiras pálidas de olhos claros.
De repente bateu uma saudade de Leonel. Onde ele está? Com quem está? Será que está bem? Meu Deus, esse suplício não para, vou ficar louca sem saber dele. Nas redes sociais só falam do casamento e mais nada. Perdi contato com ele desde que fui embora para casa dos meus pais.Faz dois meses que não venho aqui, lembro-me em que estive nos braços de Leonel numa noite maravilhosa, foi a última vez em que fizemos amor. Esse dia vai ficar marcado. No começo do ano, tive crises ao descobrir a gravidez. Não queria acreditar, parecia impossível, mas era verdade.
Estou sentada no banco de uma praça de namorados, que fica de frente ao mar. É noite, e eu estou aqui, sozinha, olhando o movimento das pessoas. O barulho das ondas é imensa entre as pedras grandes. Meu celular toca.
- Oi.
- Oi. É o Érodys.
- Ah, sim.
- Chegou?
- Cheguei sã e salva. A mamãe me ligou agora a pouco. Ela quer que você jante lá em casa.
- Fiquei sabendo. Você está bem?
- Estou.
- E o bebê?
Olho para a minha barriga e dou um sorrisinho de leve.
- Bem também.
- Não estava enjoada durante o voo? - ele ri.
- Não, graças a Deus.
- Ótimo. Quando vem embora?
- Daqui a três semanas estou de volta.
- Que bom. Já estou com saudades, irmã.
Dou outro sorriso, mas meio triste.
- Por que me chama de irmã?
- Oras, porque você é.
- Você sabe que não.
- E você sabe que está louca, não sabe?
Ele parece estar se divertindo com a conversa. Consigo notar o bom humor em sua face.
- Hum. E essa alegria, hein?
- Vou tomar um drinque com alguns colegas daqui a pouco. Sair para refrescar a cabeça, hoje é sábado.
- Legal.
Emudeço logo depois.
- Você está bem mesmo, Esther?
- Estou. - Não, não estou.
- Tenho que te falar uma coisa séria.
- Diga.
- Nosso pai bloqueou todo o meu dinheiro no banco.
Ah, não! É culpa minha.
- Tudo culpa minha - balbucio.
- Ele soube que você veio morar comigo. Mas eu não vou deixar isso barato. É meu dinheiro, não dele.
- Ah, Érodys, sinto muito. Eu não queria causar esse transtorno a você.
- Que isso, Esther? Não fale assim. Olha, vamos mudar de assunto, está bem? Semana que vem estarei aí com você.
- O que vem fazer aqui?
- Te buscar. Não quero você andando por esse Brasil sozinha.
Sorrio com o celular na orelha.
- Então vou esperar o senhor aqui.
- Senhor não - ele me repreende em divertimento.
- Sr. Winkler ou Dr. Winkler, Érodys Winkler. Qual prefere?
Ele ri ao telefone.
- Nossa, acho que o mesmo executivo está bom demais.
- E eu?
- Dra. Cabelo Vermelho.
- Ah, é?
- É, imagine você num consultório médico. Vão te chamar assim: Dra. Cabelo Vermelho, estão chamando a senhora na sala de cirurgia - ele dá uma gargalhada, eu acompanho saindo do estresse. - Ou Cabelo Laranja. Não sei que tipo de cabelo é o seu, mas ele não é vermelho-sangue.
- É vermelho-laranja.
- Ah. Onde você está?
- Numa praça de namorados.
- Sozinha?
- Eu e Deus.
- Irmã, tenho que ir, meus amigos já chegaram. Segunda-feira estou aí.
- Vou esperar. Beijo!
- BeiJo!
Desligo o celular e fito a tela: recebi uma mensagem de texto de alguém. Quem será? Abro a caixa de mensagem.Leonel
Onde você está? Preciso falar com você urgente.
Meu coração dispara ao ler o texto, as mãos ficam gélidas. Engulo a saliva rapidamente. Ele quer falar comigo. O quê? Resolvo mandar outra mensagem, agora sei o número dele.
Esther
Eu estou no Rio de Janeiro. O que você quer comigo?Minha digitação fica lenta à medida que meus dedos enfraquecem na tela. Só de eu falar com ele meu coração palpita. Ele manda outra resposta.
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Minha estúpida coragem
RomanceInconformada com a vida sem o prestigioso Leonel Blanchard, Esther vê seu mundo desabar ao se mudar para Porto Alegre. E nessa jornada, ela descobrirá um Leonel sem escrúpulos, possessivo além da conta e descontrolado. Esther se vê sem saída ao p...