Capítulo 16

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Ela afaga meus cabelos.
- Leonel, Leonel... Ah! - ela revira os olhos. - Você ficou sabendo o que ele te fez no hospital?
- Não era ele.
- Ah, não? Que eu saiba único médico responsável pelo seu estado de saúde era ele e mais ninguém.
- Você não vai entender o que ele está passando.
- E o que é?
- Não posso falar.
- Ah, céus! Ele nem ama você, Esther.
Me levanto do sofá rapidamente, irritada.
- É claro que sim. Eu sei disso - altero a voz em prantos de choros. Ela fica incrédula.
- Como? Ele nunca demonstrou isso, Esther. Única coisa que ele demonstra é seu lado obsessivo.
- Cale a boca, Yany. Não quero ouvir - ponho as mãos uma de cada lado nos meus ouvidos, e ando para lá e para cá como uma garota raivosa. Meus choros caem entre soluços.
- Pare com isso.
- Não quero ouvir - repito.
- Esther! O Leonel é louco.
- Ele não é louco! - grito para ela. Yany arregala os olhos, estupefata. - Não é. Eu preciso dele e ele de mim, será que você não vê? Ninguém entendi.
- Esther, se acalme, por favor.
Ela me abraça toda compreensiva, desliza as mãos em meu cabelo e fica sossurrando que eu estou certa. Yany deveria ser um pouco mais inteligente no amor, ela já tem vinte e dois anos.

NO DIA SEGUINTE marco presença na boate de Derick Prado para, em pleno dezoito anos, fazer minha primeira entrevista de emprego. Realmente, eu não sei dançar. Ou será que sei? Acho que consigo. Estaciono meu carro na garagem da boate e já vou direto para o elevador, onde me deparo com dois homens de terno e gravata, ambos da cor preta. Eles me cumprimentam com um gesto de cabeça e um sorrisinho.
No corredor, que dá acesso à um escritório, há três mesas de secretária. A primeira é loira, gorda, cabelo encaracolado e curto. A segunda é morena, magra, cabelo curto também, mas liso. A terceira não está em sua mesa. Passo por elas e vou direto para uma porta de aço, que creio que seja de Derick Prado.
- Está com hora marcada, senhorita?
Olho para trás. A loira me desperta.
- Sim.
- Ah.
Ouço uma voz grossa do outro lado da porta dizendo para eu entrar. Entro sentindo um frio nas entranhas. Derick está de costas para mim, ele rodopia a cadeira e me fita com malícia.
- Ora, ora... Srta. Winkler, você é mais linda pessoalmente. Sente-se, por favor - ele me conduz a uma cadeira à frente da sua mesa de vidro preto.
Derick Prado é jovem, elegante, musculoso, aparenta ter a idade de Leonel, o cabelo famigerado dele é arrasador. Derick parece ser perspicaz. Ele é. E bonito... Ele saca alguns papéis da gaveta ao lado de sua cadeira e folheia as páginas com cautela.
- Deixe-me ver seu currículo. Esther Winkler Marihá, estudada em duas escolas particulares, está cursando medicina, nunca trabalhou... - ele pausa e me olha meio desconfiado. - Você tem dezoito anos?
- Sim.
- Achei que tinha dezesseis.
- Por quê?
Fico incrédula.
- Ah, você é pequena, muito magra e frágil.
Solto uma gargalhada, ele me acompanha. Nossa! Ele é bem-humorado, não tem a cara de ser arrogante e frio como Leonel.
- Me desculpe, Srta. Winkler.
- Pode me chamar de Esther ou Marihá.
- Os dois são bonitos.
Coro. Droga!
- É solteira?
- Sim.
- Tem filho?
Meu coração acelera quando ele fala a palavra filho.
- Eu perdi quando sofri um acidente de carro.
A cena do acidente me vem à cabeça. É horrível relembrar. Dói tanto saber que meu filho não pôde vir ao mundo.
- Ah, sinto muito - seus olhos parecem fugazmantes. - Bom, vou lhe pagar vinte mil por mês.
Ahn? Só para dançar?
- Só para dançar - diz ele calmamente, como se respondesse minha pergunta em mente.
- Eu vou dançar sem roupa?
- Não, de lingerie e salto alto.
- Para o público?
- Depende.
- De quê? - franzo a testa.
- De eu avaliar seu corpo com os olhos.
Nossa! Ele é rápido. Fico pasma.
- Calma, Esther, todas que dançam aqui foram avaliadas por mim mesmo. Se o seu corpo for do jeito que eu quero, você só vai dançar a sós numa suíte particular. Está melhor?
- É...
- Você poderia tirar as roupas naquele banheiro? - ele aponta para uma porta de madeira, olho de relance.
- Tudo bem - murmuro sem hesitar.
Encaminho-me para o banheiro. O local é bem espaçoso e moderno, o piso glacial é lindo. Começo a tirar as roupas, fico só da minha lingerie verde clara - verde é a minha cor preferida. Derick me olha, embasbacado.
- Nossa! - murmura ele num suspiro, e se levanta da cadeira.
- Estou aprovada?
- Dá uma voltinha.
Obedeço, girando o corpo.
- Esther, você está mais que aprovada.
Bato palminhas alegremente, e isso faz com que Derick dê risadas. Me perco nos risos dele, pois é tão bonito e jovem.
- Pode vestir as roupas, Esther.
Começo pela calça jeans, depois visto a blusa blanca e a jaqueta azul-marinho. Faço tudo na frente de Derick, mas ele nem me olha, fica concentrado no meu currículo. Tomo a cadeira para me sentar de novo.
- Então, vamos lá... Você é filha de Athos Júnior Winkler e de Angeliquê Thomaz Winkler, certo?
- Certo.
- Muito bem - ele fecha os papéis, me olha e dá um sorriso de garoto. Nossa! - Vai começar hoje mesmo.
- Sem problemas. Até que horas?
- Até às meia-noite.
- Certo.
- Vou levá-la para conhecer a boate.
Nos levantamos da cadeira e saímos do escritório. Passo pelas duas secretárias, Derick cumprimenta elas com um gesto de cabeça. Tenho certeza de que as duas não foram com a minha cara. No elevador, faço uma pergunta:
- Você tem quantos anos?
Derick fica surpreso com a pergunta.
- Eu tenho vinte e seis. Por quê?
Droga! Outra pergunta em meio de uma resposta. Isso é filosofia.
- Porque nada. Só curiosidade.
- Hum.
O elevador abre as portas com um som de trin, que até levo um susto. Derick dá uma risadinha baixa.
- Os elevadores são barulhentos mesmo - comenta ele.
É impressionante como até agora ele não deu em cima de mim. Caminhamos pelo centro da boate vagarosamente. Derick começa a falar, fazendo gestos com a mão. A boate é espaçosa, tem três pole dance perto do open-bar. A cor das paredes é num tom de vermelho sangue, aqui é como se fosse a casa do demônio, muito esquisito, chega a me dar arrepios.
- E então? Aceita a proposta de emprego?
- Aceito.
- Tem certeza? - ele me olha bem-humorado.
Desde que pisei o pé na boate ele está sorrindo. Não consigo ver a arrogância no seu modo de falar.
- Tenho.
- Ótimo. Vá se arrumar, você começará em trinta minutos.
- Em que suíte vou trabalhar?
- Na suíte do andar de cima, número 20. Você já sabe onde é.
Só porque vi a suíte lá em cima.
- Boa sorte.
Ele se retira me deixando sozinha no centro da boate. Aqui já está enchendo de gente. Tenho que subir imediatamente. A boate só é grande aqui embaixo. Vamos lá.

Minha estúpida coragemOnde histórias criam vida. Descubra agora