Capítulo 42

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05:27 AM

Mamãe, sabia que o papai ouviu meu coração hoje com aqueles foninhos que ele coloca no ouvido?
É, filho? Não sabia.
Papai!
Ele corre em busca do pai, que acaba de chegar do trabalho. Leonel pega o menino no colo e faz cócegas nele.
Espertalhão!
O menino ri a toda hora. Ele se parece muito com Leonel, muito mesmo.

   Droga! Mais um sonho com criança. O que foi isso? Acordo pensando que estou na casa de Yany, mas me dou conta de que estou na de meus pais em Por Alegre. Hoje é aniversário do meu irmão e, claro, gostaria de ser a primeira a parabenizá-lo. Levanto da cama e sigo para o banheiro. Quando coloco o crime dental na escova de dente, ouço um som estrondar lá embaixo, uma música eletrônica capaz de levantar qualquer um. Rio ao ouvir Taylison gritar: “Hoje é meu dia!” Que horas são para ele estar com essa folia de manhã cedo? Esse meu irmão...
   Escovo os dentes rapidinho e tomo banho, depois opto por um macacão cor-de-rosa e uma sandália para passar o domingo ao lado da família Winkler. Prendo o cabelo ruivo numa presilha, mas ele insiste em sair do objeto de tão liso que é. Queria ao menos ter uns cachinhos igual a da minha tia.
   Ao descer, dou de cara com meu irmão em cima do piano dançando uma música supersensual de Sam Smith sem camisa e de calça jeans. Cadê Yany para sossegar esse molecão? Nossa, ele já tem vinte e quatro anos e não toma vergonha nessa cara.
— Desça já desse piano, Taylison — puxo a barra da calça dele, fazendo-o cair em cima de mim. Nos estatelamos no chão, sou esmagada com o peso dele.
— Ai!
   Ele ri sem parar quando se levanta.
— Viu? Nisso que dá mexer com quem está quieto.
— Só que você não está nada quieto.
   Papai surge lá de cima.
— E esse som escandaloso pela casa, Taylison?
   Taylison desliga o som pelo controle. Ele dá mais gargalhadas ainda. Meu pai ri e o abraça com carinho.
— Parabéns, filho — ele dá uns tapinhas nas costas de Taylison. — Seja sempre assim, meu herdeiro, feliz sem se preocupar com que os outros vão pensar.
   Eu sorrio quando vejo essa cena tão linda.
— Obrigado, pai.
— Vinte e quatro, garotão!
— Ah... pai, preciso conversar com o Taylison rapidinho, está bem?
— Claro, ele é todo seu.
— Vem — pego em sua mãe e arrasto ele para o escritório do nosso pai.
   Fecho as portas em seguida atrás de mim. Taylison pega o acento do papai, e ele fica bonitão na cadeira, ereto e ansioso.
— Então.
   Sento à sua frente.
— Fiquei sabendo que você quer ser pai. É verdade?
— Fiz meu filho ontem — ele ri.
— Não brinque, Taylison.
— É verdade, eu quero ser pai. Não acho errado pensar nisso — ele fala sério.
— Não está cedo demais?
— Eu não acho. Já tenho vinte e quatro anos, Esther, posso muito bem me casar, comprar uma casa e morar com a minha família. Quero pelo menos uns três filhos com a Yany.
   Meu queixo vai no chão. Cadê aquele garoto que gostava de gozar a vida? Não estou entendo.
— Taylison, ela tem vinte e dois anos — repreendo ele.
— Vinte e dois — ergue o dedo indicador — não dezoito anos.
   Amarro a cara para ele. Acho que esse imbecil jogou um ponto para mim.
— Esther, esse assunto é meu e da Yany, você não precisa se meter.
— Ela é minha amiga e pediu ajuda para mim.
— Sei plenamente disso, mas o assunto é nosso.
— Tudo bem, não vou discutir porque hoje é seu dia.
   Ele dá um sorriso de menino bobo, então passo para outro lado e abraço-o.
— Parabéns.
— Obrigado, minha irmã.
— Vê se toma juízo agora.
— Digo o mesmo, sua feia.
— Feio.

Minha estúpida coragemOnde histórias criam vida. Descubra agora