Capítulo 51

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01:21 AM

   Meu celular toca em plena madrugada, enquanto eu dormia calmamente em minha deliciosa cama. Acordo fungando o nariz e espremendo o rosto como se fosse um limão. Uma dor de cabeça dos infernos me ataca quando pego o celular no criado-mudo. O número não está agendado. Que estranho.
Oi — digo baixinho.
— Graças a Deus você atendeu, Esther. Liguei várias vezes, mas nada.
   É o senhor Bryan Blanchard, pai de Leonel. Por que diabos ele está me ligando a essa hora?
— Olá, senhor Blanchard.
— Querida, seja forte...
   Como? Franzo as sobrancelhas. O que ele quer dizer com “seja forte”? E por que ele está com a voz de choro?
— O avião do Leonel sai do comando da torre de controle. A companhia perdeu contato com a nave, não há sinal de que eles estão no ar.
   Ah, não! Não! Não! Isso não está acontecendo.
— Diga que é mentira — digo pesadamente já com a voz embargada.
— Não é mentira. Eu não ligaria à toa em plena uma hora da madrugada de sábado.
   É verdade. Ele não ligaria para mim uma hora da madrugada. A notícia me deixa atônita, nervosa e com o coração apertado.
— Quer dizer que o avião caiu?
— É o que a companhia do aeroporto diz. O piloto disse que a aeronave estava com um problema no combustível, eu não sei explicar direito. Eu estou indo para lá, Esther, liguei porque achei que você tinha o direito de saber.
— O senhor vai para onde?
— Vou para o aeroporto Santos Drummond com o resto da polícia, vou como delegado e pai de Leonel.
— Eu posso ir com o senhor?
  Ele dá um longo suspiro no alto-falante do celular.
— Esther, entenda, é perigoso. Nós viajaremos para uma cidade fora do Brasil que cujo nome eu não sei ainda. Parece que o avião caiu numa região de lá.
— Meu Deus! — ponho a mão no coração. — Eu quero ir, Sr. Blanchard, por favor, eu lhe peço.
— Esther...
— Não! — derramo as lágrimas que estavam presas. — Por favor...
— Ah, céus! Tudo bem, em quarenta minutos estarei aí.
— Obrigada.
   Ele desliga o celular e eu corro para tomar um banho. Demoro um tempão para me arrumar, faço barulhos insuportáveis no quarto enquanto arrumo uma pequena mala com três mudas de roupas. Yany surge no quarto quando fecho a pequena mala, ela está toda sexy com uma camisola vermelha e longa.
— O que você está fazendo, sua louca? — diz ela me empurrando na cama para melhor avistar a mala.
   Ela deve estar pensando que você vai dar o fora da casa.
Yany, eu vou viajar com o pai do Leonel.
— Vai fazer o quê?
— Leonel... ele... sofreu um acidente. O avião caiu numa cidade fora do Brasil.
— Ah — ela abre a boca, surpresa. — Esther, me desculpe.
   Sou pega por um abraço reconfortante de minha querida amiga. Isso me faz chorar mais ainda, soluçando em seus braços. Aperto ela até não ter mais forças.
— Será que ele morreu? — digo.
— Não, não. Pare com isso. Vamos pensar positivo — ela me dá um beijo na cabeça e se desvencilha de mim, é nessa hora que ouço um carro buzinar lá embaixo. Yany levanta para ir à janela.
— Bryan chegou.
   Salto da cama e busco por minhas sandálias debaixo da cama. Quando me retiro do quarto, encaro Yany com um olhar triste.
— Vá — diz ela.
— Eu vou voltar, e com ele.
   Yany assente.

   Um rapaz alto, de barba e tudo abre a porta para mim assim que chego. Ele está todo fardado. Bryan Blanchard está no banco passageiro, enquanto outro homem dirigi o carro, só então percebo que há três homens além do pai de Leonel. Passo a mão sobre a coxa, amaciando o tecido do vestido branco, ajeito meu blazer preto também, que amassou quando entrei no carro.
— Boa noite, Esther — sauda Bryan. Ele faz um gesto com a mão apresentado todo mundo para mim.
— Muito prazer — falo em coletivo.
— Aí, doutor, por que trouxe ela? — pergunta o rapaz que abriu a porta para mim e que agora está segurando uma arma enorme nas mãos. Encaro o vidro do carro.
— Hã... Ela é minha nora.
   Isso calou a boca do cara por um bom tempo até chegarmos ao aeroporto Santos Drummond. A viagem é pacifica, ouço apenas o barulho do carro na estrada. A noite parece estranha, hoje principalmente, a lua está fraca e opaca.
  

Minha estúpida coragemOnde histórias criam vida. Descubra agora