Recebo um telefonema vindo diretamente de uma clínica após três minutos da saída de Leonel do meu quarto. Pego o celular e o levo na orelha.
— Oi.
— Esther Winkler?
A voz é de um homem.
— Sim.
— Quem fala é o psicólogo Leandro Abner, o médico de Leonel Blanchard.
Ah!
— Pois não, Dr. Abner.
— A senhorita me pediu informações faz tempo em relação à vida psicológica dele.
— Isso — confirmo.
— Bom, como psicólogo, Srta. Winkler, lhe aconselho a se afastar dele.
O quê?
— Ahn?
Sento-me na cama para ouvir o Dr. Abner atentamente.
— Srta. Winkler, é para o seu bem e o bem dele. Pelo o que tenho ouvido de Leonel nessas últimas consultas é que você mexe muito com ele. Isso prejudica mais ainda o seu transtorno.
— Que tipo de transtorno, doutor?
— Transtorno Obsessivo Compulsivo. Isso o afeta desde que terminou seu casamento há três anos atrás. As traições da ex-mulher ainda é uma torrente forte até hoje em sua vida. Em geral, isso acontece porque a maioria dos homens não têm a facilidade de perdoar igual às mulheres. Está me entendendo?
— Estou.
— Hã, essa obsessão que Leonel Blanchard tem é de querer mais em relação à poder, controle e você. Segundo uma pesquisa que fiz na semana passada, a origem do nome Leonel é de um homem paciente, afetuoso e carinhoso com quem o ama, mas no caso do seu namorado ele se permitiu a ser uma pessoa intolerante com todos ao seu redor. A senhorita percebe algum tipo de reação indiferente da perte dele com você?
Meu Deus!
— Percebo — digo baixinho, sei o que mais ele vai prolongar nessa conversa.
— Sua vida sexual com ele é desmotivante?
— Não.
— Ele te submete a fazer coisas que não quer na cama?
Puta que pariu!
— Doutor... eu...
— Srta. Winkler, como psicólogo de Leonel, preciso saber o que mais acontece com ele para poder ajudá-lo. Não se sinta constrangida com essas perguntas, já fiz isso várias vezes.
— Sim, me submete.
— A maioria das vezes é porque a senhorita quer ou porque ele força?
Minhas mãos ficam trêmulas, meu corpo fica fraco. E agora? Diga a verdade.
— Bom, na maioria das vezes é porque eu quero.
— Ah, menos mal — ele suspira no celular. — Vou fazer uma anotação sobre tudo isso.
— Quer dizer que o senhor e eu precisamos conversar mais vezes?
— Acertou na mosca. A senhorita é uma boa entendedora.
— Quando?
— Depois da consulta dele, na sexta-feira. Está de acordo?
— Sim.
— Ótimo. Até lá.
— Até.
Ele desliga o celular primeiro, deixando-me desarmada diante de tanta revelação. Srta. Winkler, é para o seu bem e o bem dele. Droga, essas palavras não saem da minha cabeça. Eu amo ele, como vou me separar? E ele está lá embaixo, conversando com Yany.
Depois de mais um minuto me arrumando, desço para fazer parte da conversa de Yany. Leonel está sentado num dos bancos do balcão da cozinha tomando café e Yany cozinhando alguma coisa que não sei. Me junto a eles.
— Oi — murmuro.
Eles me olham, deixando-me um pouco constrangida.
— Leonel, curte músicas da banda One Direction? — pergunta Yany, balançando os esqueletos, mas Leonel não tira os olhos de mim, impassível.
— Algumas — responde ele, mexendo apenas os lábios.
— E você, Esther?
— Curto, sim, Yany.
Ela bate palminhas, ignorando a tensão entre Leonel e eu.
— Eu vou no show deles — diz ela com muita alegria.
De repente, Leonel vira a atenção para ela, que está dançando sem parar na cozinha, sem se importar com nossos olhares, e no seu rosto vejo um sorriso lindo. Que isso, meu Deus?
— Yany, você está parecendo um bicho grilo de estrada — ele ri.
Yany para de dançar para encarar Leonel.
— Hum... E você, hein? Seu...
Ele ergue as sobrancelhas para ela como quem diz: “Eu o quê?”. De uma hora para outra Leonel fica bem-humorado e eu agradeço minha amiga por isso. Revirando os olhos, ela volta à cozinhar.
— O que vai querer para comer, amiga?
— Nada, não estou com fome — respondo baixinho.
— Ah, se eu fosse você não desperdiçava o que estou preparando.
— O que é?
— Ovos e bacon.
Com a presença de Leonel não consigo comer direito, só quando ele está relaxado, tranquilo.
— Yany, o que Edward veio fazer aqui? — pergunta Leonel, sisudo.
Ela hesita um pouco antes de falar. Meu coro cabeludo começar a coçar.
— Ah, é... provavelmente ver Esther e eu.
— Ah, é? — ele me olha e eu estremeço.
— E ele vem todos os dias?
— Ah, não. Demora uns dias até ele voltar.
— Ahn — Leonel esfrega o queixo com o dedo indicador, muito pensativo, e se levanta da cadeira.
— Aonde você vai? — digo, acompanhando-o até a porta.
— Vou dar um jeito nesse cara — ele fala sério e zangado.
Não! O que significa isso?
— Leonel — me atiro na frente, impedindo sua passagem.
— Saia da minha frente — rosna para mim.
— Por favor, esqueça. Eu posso resolver esse problema.
Ele dá uma risada malvada.
— Eu vou resolver sozinho. Dá licença — ele me tira rapidamente de sua frente, mas sem grosseria. Aleluia!
— Leonel — exclamo.
Ele dá a partida no carro, que estava estacionado na porta da casa de Yany e sai cantando pneu. O que ele vai fazer, meu Deus do céu? Resolvo ligar apressadamente para Edward. Digito seu número meio tremendo. Ele atende de imediato.
— Alô, Edward?
— Sim. Que surpresa, você me ligando, geralmente eu é que faço isso.
— Edward, onde você está neste momento?
— Na minha casa.
Respiro.
— Saí daí agora.
— O quê?
— Saí de casa, Edward.
— Mas por quê?
— O Leonel está indo aí. Ele está zangado e sem noção das coisas.
Ele ri diante da minha preocupação e eu fico chocada.
— É sério, Edward — digo, irritada.
— Vou dizer uma coisinha a você: eu não tenho medo do seu querido Leonel, por mim, ele que venha, mas venha feito homem — ele fala, zangado.
E agora? Ponho as mãos na cabeça, exasperada.
— Você não está entendendo.
— É você que não está entendendo, eu não tenho medo dele. Esther, por favor, eu já deixei bem claro que eu quero você.
— Edward, saí daí.
— Não! Eu vou esperar ele aqui, sentado no meu sofá. Pode vir.
— Ah, Deus! Ele vai te matar — digo quase choramingando.
— Se eu não matar ele primeiro. Vou desligar e esperar ele aqui.
— Cuidado.
— Eu sou o perigo, Esther.
E desliga. Eu caio no sofá de boca aberta, sem acreditar que os dois vão se matar por minha causa. Como Leonel, o professor disciplinado da faculdade, se tornou um homem de cabeça fraco, obsessivo e louco? Yany surge na sala, pegando-me deprimida e largada no sofá.
— Esther, o que foi?
— Eles vão se matar, Yany.
Ela me olha embasbacada.
— Espere aí, quer dizer que essa saída rápida do Leonel foi por causa do que eu falei?
Balanço a cabeça em confirmação.
— Edward e Leonel vão brigar?
— Vão se matar, é a expressão certa, porra.
— Calma. Me deixe pensar.
Ela põe uns dos dedinhos no queixo, absorta diante do chão, depois me encara e estala os dedos.
— Já sei.
— Fale logo.
— Vamos à casa de Edward neste momento.
Fico em silêncio, mas decido.
— Vamos.
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Minha estúpida coragem
RomanceInconformada com a vida sem o prestigioso Leonel Blanchard, Esther vê seu mundo desabar ao se mudar para Porto Alegre. E nessa jornada, ela descobrirá um Leonel sem escrúpulos, possessivo além da conta e descontrolado. Esther se vê sem saída ao p...