Capítulo 15

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Já se passaram cinco semanas desde que saí do hospital Samaritano. Eu não quis morar novamente na casa dos meus pais, eles insistiram, mas tomei uma decisão que mudou minha vida: vim morar no Rio de Janeiro, para continuar a faculdade numa universidade perto da casa de Yany. Parece que vou ter novos amigos. Uma mulher da idade da minha mãe puxou conversa comigo hoje de manhã. Ela é um pouco velha, mas é uma loira bonita.
O lugar onde Yany e eu moramos não é luxuoso, mas dá para viver. Recusei todos os dinheiros da família Winkler, isso não era para mim. Não quero nada do meu pai adotivo, eu quero viver sozinha. Ele mesmo disse que o dinheiro dele nunca foi meu. Realmente, ele tem culpa por eu ficar revoltada.
Vou revisar algumas coisas nas redes sociais. Deve ter muita novidade. Sou interrompida pelo meu celular vibrando no bolso.
- Oi.
O número não está na minha agenda.
- Boa noite, Srta. Winkler, você enviou seu currículo na minha boate há cinco dias. Certo?
- Certo.
- Meu nome é Derick Prado, sou proprietário da boate e quero contratá-la amanhã mesmo.
Ai, que legal. Dou pulos de alegria.
- Sim. Em que posso ser útil?
- Bem, eu andei pesquisando a senhorita pela internet. Você é muito bonita. Sabe dançar?
O quê? Dançar? Você é péssima para dançar.
- Mais ou menos.
- O serviço é razoável. Você não vai precisar se esforçar. Quero garotas que saibam dançar músicas sensuais.
Franzo a testa. Será que ele quer?...
- Seja franco - digo.
- Não posso falar muito por telefone, Srta. Winkler. A entrevista está marcada para amanhã, às sete da noite. Negociamos tudo, até o preço, o principal.
- Ah, tudo bem.
- Tchau, tchau.
Desligo o celular coçando a cabeça. Ele quer garotas que saibam dançar. Minha nossa, dançar não é o meu porte. Quanto será que ele está disposto a me pagar?
- Acho que consegui um emprego, Yany.
Ela coloca a cabeça para fora da porta da cozinha.
- Legal. Onde?
- Numa boate.
Ela para de cozinhar e vem até mim. Estou sentada na sala, assistindo um seriado na TV.
- Boate? Você vai trabalhar numa boate?
- Sim. Por quê? - dou de ombros.
- Oras, porque quase todas são de prostituição. Que profissão vai ter? Faxineira? Garçonete?
- Dançarina.
- Esther, você vai dançar nua para qualquer homem que aparecer por lá. Acha isso certo?
- Eu preciso de dinheiro, Yany. Mas nem sabemos ainda se vai ser assim. Relaxe.
Ela leva a mão na cabeça e volta para a cozinha. Presumo que esteja irritada comigo. Vou fazer o quê? Ela não pode interferir. Levanto-me do sofá e vou até a cozinha tentar minimizar as coisas.
- Quando seu pai descobrir não quero nem imaginar no que ele poderá fazer com você.
- Ah, Yany, chega. Pelo menos vou ajudar você a pagar o aluguel da casa.
- Tudo bem - ela desiste.
- Obrigada.
- Quando vai começar?
- Amanhã.
- Ah.
- O que você está fazendo?
- Berinjela ao molho.
Pelo menos não é carne. Detesto carnes bovinas. A campainha da casa toca quando eu ia abrir minha boca para falar sobre a comida. Yany me olha. Dou de ombros e decido atender.
À frente da porta, bem no meio, há um buraquinho de vidro que dá para ver quem está do outro lado. Dou uma olhadela antes de abrir. Droga! É Edward. O que ele quer? Minhas mãos ficam gélidas na hora.
- Edward.
Ele me olha bem-humorado.
- Esther, é bom ver você.
Edward entra e me lasca um beijo na bochecha. Coro igual a um pimentão. Ele me solta e dá espaço para dar uma breve examinada em meu porte físico.
- Nossa, Esther, você está muito linda.
- Obrigada, Edward - sorrio educadamente. - Como vai você?
- Bem.
- Entre - conduzo ele para dentro da casa.
Ele entra. Yany aparece logo depois radiando um sorrisinho bobo, com certeza ela vai ficar do meu lado se eu decidir dividir minha vida com Edward Drummond. Ele é muito velho para mim, tenho idade para ser sua irmã mais nova.
- Srta. Winger, é prazer revê-la - Edward estende a mão para ela, que retribui ainda sorrindo.
- O prazer é meu, Sr. Drummond. Fique à vontade.
Ela me joga um olhar como quem diz: "Boa sorte com esse gato".
- Bom, vou deixá-los a sós.
- Obrigado.
Edward é mesmo um cavalheiro bem educado. Yany se retira indo para o andar de cima da casa. Sei que ela está se divertindo com a minha timidez ao lado desse homem lindo. Ele está usando uma roupa chique, mas que o deixa mais velho ainda: calça de terno, camisa linho branco encolhida no cós da calça e sapato preto.
- Bem... Quer tomar alguma coisa, Edward?
Realmente, ele é intimidador.
- Sim, obrigado.
Parto rapidamente para a cozinha. Ele toma o sofá da sala e estica as pernas, enquanto pego uma garrafa de vinho e duas taças finas. Volto meio minuto.
- Quer que eu abra?
Claro que sim. Entrego a garrafa em sua mão. Ele retira a tampa e nos serve com cautela.
- Obrigada.
- Como se sente depois daquele acidente horrível?
- Ah, estou bem. Tudo foi rápido.
- Você quase morreu - comenta, com uma voz desnorteada.
- É.
- Achei que nunca mais veria o teu rosto. Eu não suportaria se eu soubesse de sua morte.
- Edward, eu estou bem, já passou. Vamos esquecer.
- Tem razão.
Bebemos o vinho cor de sangue. É delicioso e único que restou na geladeira de Yany. Edward leva a mão direita sobre a minha, hesito. E agora?
- Esther, eu... - sua voz falha. - ...quero você para mim.
Puta que pariu. Engulo em seco.
- Eu gostei de você.
- Mas...
- Deixe rolar, Esther.
Ele larga a taça na mesinha sob o sofá, depois pega a minha e faz o mesmo, e me encara como se estivesse me pedindo algo.
- Eu sei que sou velho para você, mas eu te quero mesmo assim.
- Eu só quero sua amizade, Edward.
- Eu não.
Nossa! Ele leva a outra mão em meu queixo e acarecia. Posso sentir seu toque como um choque. Não posso beijá-lo. Edward fita minha boca.
- Não - imploro quase num gemido.
Ele me beija lentamente. Não! Sua língua não está interferindo nossa boca. Pego no braço dele e empurro-o, mas é impossível, ele é robusto igual a Leonel.
- Edward.
Ele me solta meio ofegante.
- Não deveríamos...
- Esther, perdão, eu forcei a barra entre nós.
Fico paralisada.
- Você sabe que amo outro homem. Por que fez isso?
- Porque me deu vontade. Esther, o Leonel nem sente o mesmo por você.
- Não fale assim.
Agora ele está irritado.
- Esse cara quis te matar no hospital, aplicou remédios além da conta em sua veia.
Levanto-me do sofá, ele também.
- Leonel só precisa de alguém que o ajude, que dê carinho. Você não entende o que ele está passando.
- Nem quero entender. Ele é louco, só isso.
- Ele não é louco.
- Ah, que beleza.
- Edward, me esqueça. Único homem é Leonel Blanchard.
- Eu não vou desistir de você, Esther.
- Por favor.
- Tudo bem, eu sou paciente com as coisas. Volto amanhã.
Ele dá passos firmes até a porta.
- Edward, por favor, me desculpe. Não vá ainda, você acabou de chegar.
Aproximo-me dele e pego em seu braço.
- Esther, eu quero você do meu lado.
Emudeço.
- Me dê um tempo para pensar.
Não haja com o coração, sua tonta, me repreendo mentalmente.
- Vou esperar. Até mais.
Ele esguia a cabeça e lança um beijo em minha boca. Ele beija com carinho, devagar, sem pressa. Que isso? Estou me derretendo nos braços dele. Não aguento, então, beijo ele também. Levo meus dedos em seu cabelo cor de cobre. Edward me prende na parede branca, sua boca exigindo a minha cada vez que nossos corpos ficam próximos.
- Edward, chega.
Ele não para, me ignora e prende seu corpo no meu. A adrenalina se apodera dele de forma incontrolável. De repente, sou arrastada para o sofá café com leite de Yany. Edward coloca todo o peso do seu corpo no meu. Fico sufocada.
- Edward, pare.
Ele beija meu maxilar.
- Não! - gemo. - Por favor, Edward, por favor.
- Esther, eu quero você.
- Não! Isso não pode acontecer.
Ele para e me olha.
- É só você querer.
- Eu não quero! Saia de cima de mim agora mesmo.
- Esther.
- Saia.
Viro meu rosto de lado, esperando a retirada dele. Sua expressão é de incredulidade ao me observar reagindo com frieza. Ele saí de cima de mim e some pela porta. Respiro e uma lágrima surge se derramando no estofado do sofá.
- Leonel, por que você deixou tudo chegar a esse ponto?
Yany desce as escadas com a mão na boca. Acho que ela estava vendo tudo escondida em algum lugar lá de cima. Ela me envolve em seu delicado colo, ponho minha cabeça sobre suas coxas.
- O que ele fez com você, Esther?
- Me beijo.
- Isso não é bom?
- Não para mim. Você sabe quem é o homem que amo.

Minha estúpida coragemOnde histórias criam vida. Descubra agora