Capítulo 26

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11:30 AM

   Sinto dores ao me virar na cama para dormir mais um pouquinho. A dor atinge meu abdômen e desce até minha virilha.
   Deve ser por causa daquilo...
   Como Leonel Blanchard pôde fazer isso comigo?
   Ele pode tudo, querida.
   Decido cochilar mais e pensar menos, o sono está tão bom que até a dor vai passando.
   Não há ninguém comigo na cama, Leonel saiu depois que terminamos de fazer amor... não, não estávamos fazendo amor. Não é assim que se faz. Ele saiu brutalmente de dentro de mim, que me fez gemer um “ai” mais uma vez, e alto. Ele tem uma sede por sexo bruto que às vezes não entendo.
   Estou deitada como uma rainha na cama dele: o rosto no travesseiro e a mão direita também, o cobertor azul escuro me cobre até a cintura. Isso é bom demais. O colchão é macio daqueles que a gente não quer trocar por nada.
   Alguém entra no quarto e me pega dormindo tranquilamente. Ouço uma voz ao mesmo tempo em que sinto-o me sacudir.
— Esther, vamos, acorde.
   Essa voz...
Só mais dois minutos — resmungo, colocando outro travesseiro por debaixo da minha orelha.
— Acorde, você dormiu demais.
   Abro os olhos e me deparo com Leonel sentado na cama me olhando, impassível, pelo seus óculos quadrado, acetato transparente, com as bordas da cor branca. Ele fica lindo usando óculos de vista. E veste uma camisa branca, com as mangas dobradas acima dos cotovelos, calça jeans preta e All Star também da cor preta.
   Levo o cobertor da cama em meu corpo quando levanto para ficar sentada no colchão. Olho para Leonel, depois ajeito o cabelo, que estão bagunçados.
— Vamos almoçar.
— Ahn? Que horas são? — digo, surpresa.
— Onze e trinta e cinco.
— Meu Deus! — Ponho as mãos na cabeça. — Yany deve estar puta da vida comigo.
— Eu falei com ela agora a pouco pelo telefone, não se preocupe.
   O alívio toma conta de mim. Nossa! Se Leonel não fizesse isso eu ia ouvir ela tagalerar em meu ouvido o tempo todo igual à minha mãe.
— Vista as roupas, agora — ordena ele, me encarando com aqueles lindos olhos negros.
— Eu não quero comer...
   Minha voz diminui à medida que ele me olha seriamente.
— Ah, você vai comer, sim. Hoje você vai comer. Eu não gosto de desperdiçar comida na minha casa — diz ele mal-humorado.
   Reviro os olhos.
— Ah, me polpe.
— Você diz isso porque nunca passou fome.
   Leonel levanta da cama e vai até seu closet, e continua falando:
— Tem muita gente passando fome por aí. Eu nunca passei fome, mas detesto desperdício de comida.
   Nisso eu tenho que concordar. Desço da cama e pego minhas roupas para vestir. Ele sai do closet com dois jalecos nas mãos. O que vai fazer com isso? Por último, calço meus sapatos.
— Inclusive, vou pedir à Tânia que dê todas as comidas feitas para aqueles mendigos que tocam a campainha da minha casa quase todos os dias.
— É muita generosidade sua.
— Hum.
   Parece que ele não curte muito ser sentimental. Falar de amor, gratidão, generosidade... Eu notei que isso o deixa desnorteado. Mas por quê?
— Você é bom com essas pessoas. Eu admiro isso.
   Ele se aproxima e pega minha mão.
   Espere aí!
   Esqueci que ele estava beijando uma morena ontem na festa. Desvencilho-me de suas mãos rapidamente, ele franze o cenho para mim, como quem não entende.
— Você estava beijando uma mulher ontem.
   Ele ri. De mim?
— Depois que a gente se fode na cama e é agora que vem me lembrar?
   É, Esther. Você foi fraca mais uma vez em relação à esse homem petulante. Que droga! Às vezes sinto raiva de mim mesma, como agora, por exemplo.
— Você deve ter fodido ela também — cutuco ele.
— Isso não faz bem o meu tipo: ter uma noite sem compromisso.
   O quê? Ele fez isso comigo ano passado. Argth! A vontade que eu tenho é de dar um soco na cara dele.
— Não pensou nisso quando resolveu comer a própria aluna por uma diversão — rebato.
   Ui! Tome essa, doutor. Deixo ele sem ar. Bem-feito!

Minha estúpida coragemOnde histórias criam vida. Descubra agora