Capítulo 28

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22:12 PM

   O restaurante CT Boucherie está lotado de gente em plena terça-feira, Rio de Janeiro é mesmo foda (em vários termos). Sinto como se estivesse em paz comigo mesma, Leonel está aqui, do meu lado. Yany, minha melhor amiga também, e, claro, Maryelli, a queridinha da família Blanchard. Eu gosto dela, só não gosto da parte dela ser mimada. Bom, confesso que eu também era tratada dessa forma quando morava com meus pais.

Papai, preciso de uma barbie nova.
Filha, você ganhou uma barbie ontem.
Eu quero outra, pai! Não gostei daquela, ela é muito feia e é loira.

   Coitado do meu pai, eu esperneava no ouvido dele até conseguir o que eu queria. A Mary está nessa fase, mas Bryan é mais rígido que Athos. Ouvi dizer que ele batia nos filhos quando enfrentava um problema sério com álcool. Ele bebia demais e era agressivo até com sua esposa. Bryan recuperou o casamento e os filhos quando se entregou a uma clínica de alcoólicos, daí ele conseguiu se formar na faculdade. Eles têm uma história e tanto.
— Gosto muito deste restaurante — comenta Leonel, olhando para os lados.
— Ah! Eu não gosto. — Mary revira os olhos. Yany também, mas censurando Maryelli.
— Maryelli, por favor — diz Leonel bem sério com ela.
— Por que não gosta Mary?
— Ah, Esther, só acho aqui meio chato, sabe?
— É chato porque você tem esse consentimento na sua cabeça — fala Leonel, agora impaciente com a irmã.
   Ele está sendo grosseiro com ela. Resolvo pegar em seu braço como forma de tranquilizá-lo.
— Tudo bem, meu-ir-mão — ela enfatiza as palavras, cruzando os braços na barriga.
— Acho bom.
   Ouvimos um pianista com apenas os sons das teclas do piano. É um toque melancólico, mas bem aprazível para esta ocasião.
— Leonel, vi a revista da empresa Blanchard York que saiu nas bancas ontem — diz Yany, e parece que ela deixou a irritação de lado.
— É mesmo? Nem vi os novos vestidos, não tive tempo para folhear a revista.
— Eu amei tudo.
— Vou dar uma olhada depois.
   Gosto quando Leonel conversa normalmente com as pessoas. Isso me dá uma paz.
— Vi um vestido longo avaliado em trinta e cinco mil reais. Muito chique — ela arregala os olhos meio boba, não consigo disfarçar uma risada.
— É? — Leonel me olha com malícia. — Vai ficar perfeito no corpo da sua amiga.
   Ele desliza a mão direita em minha coxa. Ah, não! Estou de saia, e sobe com a mão bem devagar até no alto das minhas coxas. A sensação do seu toque é delirante, meu corpo ascende.
— Vai dar de presente? — pergunta Yany, deixando Leonel desperto.
   Yany, filha da mãe! Eu não quero que ele pense que sou uma interesseira.
   Ele te conhece, Esther.
— Vou dar tudo que ela merece — murmura.
   Essas palavras soam sensual. Nossa! Como esse homem faz isso? Estou prestes a me entregar às mãos dele, mas Leonel para e posa a mão sobre a minha coxa.
— Vou levar você para conhecer a empresa a qualquer dia desses — diz ele à Yany.
   Ela fica feliz na hora e até bate palminhas.
— Você também vai.
   Os olhos dele me encaram. Claro, é meu sonho conhecer a empresa Blanchard. De perto deve ser mais linda.
— Hum — digo bem baixinho.
— Ah, irmão, a tia Katia pediu um favor a você.
— Que favor?
— A idiota da Deborah vai chegar de Roma amanhã e ela quer que você vá buscá-la no aeroporto.
   Quando me dou conta já estou engasgando com a água que acabei de tomar. Que porra é essa?
A que horas? — pergunta Leonel, com uma cara de quem está de saco cheio.
— Não sei. Vai ter que esperar no aeroporto a queridinha chegar.
   Leonel dá uma gargalhada sarcástica. Mary o encara sem entender.
— O que foi?
— Maryelli, essa foi boa. Quer dizer que eu vou ficar a manhã inteira esperando a Deborah, enquanto lá fora tem milhões de vidas precisando de um médico?
   Isso!
   Por isso que eu amo ele. Leonel pensa!
— Ah.
— Esquece — sua voz soa áspera.
   Nossa, Deborah não tem mesmo noção das coisas.
— Avise a tia Katia que...
   O telefone toca antes dele terminar a frase. Pegando o celular, ele o leva na orelha.
— Fale, Pâmela. Hum... sei. Não, o médico responsável sou eu. Como? Ah, Deus! — ele leva a mão na boca, preocupado. — Estou indo. Tchau.
   Desligando o celular, ele paira a atenção para nós, que estávamos aflitos observando-o.
— O que aconteceu, Leonel? — murmura Yany. Ele respira.
— Tenho que comparecer no hospital Samaritano agora mesmo.
— Ahn? — digo.
— Me desculpe, pessoal. O paciente que eu estava cuidando morreu e eu tenho que fazer o atestado de hóbito e o laudo médico.
   Poxa! Será que não dá para ele descansar um pouco? Hoje é segunda-feira. Droga!
— Leonel, e a gente? — Mary fica incrédula e faz cara feia.
— Não posso ficar, Mary. É urgente.
   Droga de novo.
— Esther, me desculpe, eu realmente não posso deixar minha equipe esperando lá.
   Contraio meus lábios. Ele pega minha mão.
— Tudo bem, vá.
   Leonel se levanta da cadeira, eu também. Lá fora, na garagem, lhe desejo boa sorte porque sei que ele vai precisar. Antes de entrar no carro, ficamos olhando um para o outro.
— Esther — ele enfia os dedos em meu cabelo, pegando toda a minha cabeça e se aproxima da minha boca. — Eu amo você.
   Nossa! Agora ele murmurou tão suave que me deu até arrepios na espinha.
— Me desculpe mais uma vez. Eu adoraria ficar e levar você para minha casa.
— Por que não leva? — murmuro bem baixinho, meu hálito sai quente, com cheiro de coquetel.
   Ele me dá um selinho e desgruda os lábios lentamente dos meus. Seus olhos me encaram.
— Não posso, Esther. Com certeza vou ter que ficar de plantão no hospital e nem irei voltar para casa hoje, só amanhã às sete horas.
   Droga!
— Ai, que droga — resmungo.
   Ele ri e prende seu corpo no meu. Que delícia. Sinto sua ereção. Então ele me beija bem devagar, naquela lentidão, sem pressa... Ui! Sua língua atinge a minha, eu o acompanho num ritmo delicioso, enroscando minhas mãos em seu cabelo liso. Esse homem beija bem demais. Não pare, Leo. Ele continua um pouco mais rápido, depois me arrasta para um beco escuro na garagem.
— Você é irresistível — sussurra ele em minha boca.
— Não pare, por favor — imploro com a voz aguda cheio de desejo.
   Ele ergue minha perna direita a cima de sua cintura, fazendo com que minha saia liberte minhas coxas, então posso sinti-lo ali, duro e me querendo.
— Ande — peço. — Você sabe o que fazer.
   Ele me olha com uma aflição fugazmante. Está hesitante.
— Não posso. Meu paciente está me esperando.
— Seja homem, Leonel — provoco-o.
   Ele dá uma risada, mas depois fica seríssimo. Droga! Ele aperta meu queixo.
— Bom argumento para um castigo que lhe darei amanhã. Espere só.
   Ele me pega num beijo violento, voraz e me solta, me deixando com mais vontade. O que foi isso, meu Deus?
Me espere amanhã, depois da faculdade, em casa.
   Não!
   Putz! Entrando no carro, ele dá a partida e sai da caragem.

Minha estúpida coragemOnde histórias criam vida. Descubra agora