Capítulo 19

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Deitada na cama, com o queixo encostado em meu travesseiro, fixa na tela do computador, resolvo conversar com o meu irmão Érodys pelo aplicativo Facebook, ele está online.

Esther Winkler: Oi, mano ;-)
Érodys Winkler: Oi. Saudades♡♡♡
Esther Winkler: Também ♡
Érodys Winkler: Como é que vc tá?
Esther Winkler: Bem :-) E as novidades???
Érodys Winkler: Parado. Quando vai voltar, mana? Estamos com saudades de vc.
Esther Winkler: Não posso mais morar aí :-(
Érodys Winkler: Claro que pode. O papai te perdoou, vc também perdoou ele. O que mais falta???
Esther Winkler: Eu não quero nada da família Winkler. A herança de Athos é sua e de Taylison.
Érodys Winkler: Pare com isso, irmã. Não quero ficar zangado com vc.
Esther Winkler: :-(
Érodys Winkler: Como vai a faculdade?
Esther Winkler: Bom, mas não estou conseguindo trabalho. Estou ficando louca assim.
Érodys Winkler: Calma, talvez não esteja na hora, minha linda.
Esther Winkler: Como não? Já tenho dezoito anos.
Érodys Winkler: Não entre em pânico. O trabalho vem, mais cedo ou mais tarde.
Esther Winkler: Mano, tenho que dormir, amanhã cedo vou acordar para ir à faculdade.
Érodys Winkler: Tudo bem:-( Beijos!!!
Esther Winkler: Beijos!!!

17:00 PM

A LANCHONETE À FRENTE da clínica de Leonel está cheia de médicos tomando café, chá, cerveja. Alguns estão de jalecos, outros de roupas sociais. É só homem, incrível isso. Será que tem mulher na clínica Blanchard? Claro que tem. Leonel vai ter que me dar um emprego nessa clínica. Está louca? Eu preciso de dinheiro.
Decido atravessar a rua para entrar no prédio. Levo uns segundos para fazer isso, então estou dentro da clínica. Fico boquiaberta com tudo. Aqui é um verdadeiro hospital, um lugar extremamente bem organizado e limpo. Como pode um homem tão jovem comandar um local desses?
Fico um tempo parada ao lado da porta de vidro. Estou atônita diante da bela imagem que vejo. A clínica tem um largo e enorme corredor, que sabe lá Deus onde vai parar, escada rolante que dá acesso ao andar de cima do prédio, paredes de vidros e mais paredes de vidros. Nossa! É a casa de vidro? É lindo demais. Pessoas vêm e vão toda hora no centro da clínica. Médicos, médicas, enfermeiros... Arregalo os olhos, depois me contenho (acredito que eu passaria uma vergonha e tanto andando que nem uma boba de boca aberta).
Dou uma olhadela num consultório. Não acredito! A Sra. Montevidéu também trabalha para Leonel. Ela está consultando um senhor que aparenta ter uns sessenta e poucos anos de idade. Ok. Aqui é o lugar perfeito para mim. E, ok, quero trabalhar aqui. Vou à recepcionista. Uma mulher gorda, morena e loira.
- Pois não, senhorita.
- Hã... Quero falar com o Dr. Leonel Blanchard.
Ela entorta a boca. Qual é a dela?
- Falar... Tem hora marcada?
Olho para ela como quem diz: "Eu não preciso de hora marcada, perua".
- Não.
- Então sinto muito, senhorita, ele só atende com hora marcada.
- Moça - balbucio já sem paciência. - Eu não preciso marcar hora com o seu patrão. Diga a ele quem sou eu, porque garanto que ele vai me atender.
- Acha que é assim que a banda toca, garotinha? - ela ergue as sobrancelhas, me desafiando.
- Seu quisesse ver banda tocar, eu ia no Canadá assistir shows do Nickelback.
Toma essa!
Ela pega o telefone e disca o número do consultório dele.
- Dr. Blanchard, tem uma moça aqui embaixo que quer falar com o senhor. Eu disse a ela. Como? O Nome? - ela me olha. - Qual é o seu nome?
- Esther.
- Disse que se chama Esther. - Ah, sim, ok.
Viu só? Dou um sorrisinho, a mulher percebe que foi derrotada diante de mim. É O PATRÃO, DONA! E ele me deixou entrar, como vai fazer nos dias em que eu vier aqui de novo. Queria falar isso para essa loura metida.
- O consultório dele fica lá em cima, senhorita. Número 126.
- Obrigada, fofa.
Yes! Pego a escada rolante e sigo para o andar de cima. Não demoro muito e eu já estou diante da porta 126. Pronto. Vou encará-lo mais uma vez. Bato na porta. Ele diz para entrar. Entro. Quase caio para trás ao vê-lo, o homem mais gostoso e sexy do Rio de Janeiro está sentado em cima da mesa, com as mãos cruzadas me olhando fixamente do pé à cabeça.
- Que surpresa.
- Oi.
Ele faz um gesto vago em direção à cadeira de almofada branca, confortável até, e muito. Sento e ajeito meu curto vestido da cor verde-abacate. Cruzo as pernas. Agora meu salto está um pouco apertado. Leonel vai pensar que me arrumei toda só para ele me notar.
- Sua roupa está curta demais para vir no meu consultório médico. Não tem medo?
Me faço de inocente, mas, na verdade, eu sei o que ele quis dizer.
- Medo de quê?
- Oras, Srta. Winkler, não me conhece?
Claro, ele é um homem loucamente viciado em sexo.
- Me desculpe, estou com poucas roupas em casa. Ficaram todas em Porto Alegre.
- Hum.
Ele passa a mão direita na barba por fazer. Está me seduzindo, está me testando, com certeza. Cretino!
- Não vim aqui para isso, Leonel, nem me arrumei assim para você me notar.
- Para que veio? - ele me olha.
- Para pedir emprego.
Ele solta uma risadinha em vão de um suspiro dando uma volta ao meu redor, aliás, pelo consultório todo. Não estou nem um pouco envergonhada de pedir emprego a ele.
- Ainda faltam quanto tempo para você se formar?
- Só mais um ano.
Ele toma seu lugar na cadeira à minha frente, me avalia, entorta os lábios, mas não diz nada.
- Não vai responder?
- Tem certeza de que quer trabalhar para mim?
- Tenho.
- Por quê?
- Porque eu preciso de dinheiro, Leonel.
- O seu pai não vai gostar disso - comenta, mostrando que está meio preocupado.
- Ele não tem nada a ver com as minhas decisões. Vai me dar o emprego?
- Vou, você pode ser minha assistente. O que acha?
- Perfeito.
Ele pega uns papéis na gaveta ao lado de sua perna e me entrega com uma caneta.
- Assine esses dados, por favor.
Pego os papéis. Escrevo meu nome completo, endereço, idade, nome de pais, onde moro... Termino depois de dois minutos.
- Pronto - entrego os papéis a ele.
- Sua caligrafia é muito bonita.
- Obrigada.
- Bom, vai ser um prazer trabalhar comigo, você sabe.
- Não, não sei.
Eu sei, sim.
- Ah, sabe, sei que sabe, meu bem.
O que deu nele?
- O que deu em você? - franzo as sobrancelhas.
- Nada. Estou feliz, encontrei alguém para sentar ali todos os dias - ele aponta para outra mesa de vidro que fica próxima da dele.
Que merda! Eu pensei que não ia ser aqui dentro do consultório. O lugar é fechado, frio, esquisito.
- Mas...
- O quê?
- É ali que vou trabalhar?
- Sim, o dia inteiro sob os meus olhos, querida.
- Não tem outro lugar?
- Não. É ali e pronto, acabou.
- Ok. Quando posso começar?
- Amanhã. Você vai para a faculdade, almoça em casa e depois vem, a partir de uma hora da tarde. Não se atrase, seja pontual, gosto disso.
- Que mais?
- Hum... Deixa eu ver... - ele levanta da cadeira e segue para um tipo de armário, não sei direito.
- Você vai precisar de jalecos. Hum... E aqui não tem do seu tamanho. Seu número deve ser doze, acertei?
- Sim.
Nossa, Leonel sabe que tamanho eu visto. Leonel pega o celular do bolso da calça e digita um número.
- Traga quatro jalecos de tamanho doze para mim, por favor.
E desliga. Que rápido. Ele fecha a gavetinha e vem em minha direção, estou em pé, em sua frente. Leonel me olha com malícia.
- Você está muito sexy, Srta. Winkler.
Fico vermelha na hora. Como ele pode dizer poucas palavras e me deixar caidinha assim? Contenha-se, Esther.
- E aí, o que você fez ontem depois que foi embora para a casa?
- Nada.
- Ah.
Ele encosta o corpo na mesa, pendura as mãos uma de cada lado na borda.
- Você confessou uma coisa naquela noite - murmuro.
- O quê?
- Você disse que me ama. É verdade?
- É, por incrível que pareça.
- E por que faz isso? Por que torna tudo difícil entre a gente?
- Eu não posso ficar com você, Esther.
- Claro que pode. Agora pode - pego sua mão.
- Não quero falar disso, por favor.
- Leonel...
Somos interrompidos pela moça que já vai entrando na sala, ela me vê bem próxima à Leonel e fica desconfiado. É a loira, a recepcionista.
- Deveria bater antes, Lorraine.
- Desculpe, doutor.
- Fique atenta da próxima vez.
- Sim, senhor.
Ela deixa os jalecos na cadeira e sai. Volto a atenção para Leonel.
- Você vai ficar bem?
- Faz tempo que não me sinto bem.
- Você tem algum problema?
Ele hesita.
- Fale - insisto.
- Não se preocupe comigo.
- Como não, meu Deus? Você está muito diferente.
- Talvez seja o cansaço.
- Queria tanto te ajudar.
- Você já me ajuda. É uma mulher maravilhosa, extraordinária, carinhosa - ele chega mais perto de mim, coloca a mão entre meu cabelo e me olha, enervado.
- Amo você desde quando te mandei embora.
Pego seu braço, fecho os olhos e sinto que ele vai me beijar.
- Eu odeio admitir, mas é o que sinto. Sou ciumento, doente, obsessivo e possessivo, por isso, não vou deixar nenhum filho da mãe te roubar de mim. Você é minha - fala baixinho e ameaçador.
- Sim.
Ele encosta os lábios nos meus, quando me dou conta, já estou em seus braços. Leonel agarra meu cabelo, me puxando mais para perto de si, e mais, mais um pouco. Céus! Não consigo resistir, ele está com a língua na minha. O cretino beija bem. Começa lento, depois... Acho que esse é o segredo: primeiro ele beija o maxilar e dá uma pequena mordida, segundo passa para a boca, mas sem enfiar a língua, Leonel deixa isso para depois.
- Dorme na minha casa hoje.
- Não posso.
- O motivo?
Ele termina o beijo e morde bem de leve meu lábio de baixo. Não!
- Seu beijo é nota dez.
- Obrigado. Você não respondeu à minha pergunta.
- Acho que vou passar um tempo estudando. É melhor.
- Hum. Tudo bem.
- Eu vou indo - desvencilho-me dele.
- Cuidado.
- Tchau.

Minha estúpida coragemOnde histórias criam vida. Descubra agora