Capítulo 40

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Taylison estaciona o carro em frente à casa grande da família. Ouço o grande portão lá na entrada ser fechado automaticamente. Dois seguranças que ficam para fora da casa me cumprimentam com um sorriso largo assim que chego. Nós entramos e ouvimos vozes vindo da sala. Quando vejo minha família, fico com os olhos cheios d'água. Todo mundo está aqui! Meus avós, meus pais, Érodys, uma garota que não sei quem é. Uma música rola no ar da sala, é Little Things do One Direction.
Meu pai vem em minha direção meio que hesitante, rindo sem jeito. Ele veste um terno chique marrom, com uma camisa preta por baixo. Acho que acabou de sair da empresa. Ficamos um tempo parados olhando um com o outro.
- Pai - digo bem baixinho quase que para mim mesma, mas ele me ouve.
- Filha - ele dá um sorriso triste.
Corro para os braços dele, então, sem controlar as lágrimas, eu choro.
- Papai.
- Me desculpe, minha filha. Me desculpe - ele passa as mãos várias vezes em meu cabelo longo vermelho-laranja e me aperta em seus braços.
- Senti sua falta, pai.
- Eu também, Marihá.
Ficamos um tempo demais abraçados e minha mãe faz questão de nos interromper:
- Seu pai não é o único.
Damos risadas. Eu a abraço também.
- Mamãe, senti sua falta.
- E eu mais ainda, minha pequena.
Nos aproximamos do sofá. Paro e abraço meu irmão e cumprimento a morena que o acompanha. Ela é encorpada, olhos castanhos vivos, o cabelo é curto, preto e liso. Não consigo deixar de notar o quanto ela tem os seios grandes e a bunda também. Deve ser silicone. Érodys está com uma mulher bem turbinada, mas é baixinha igual a mim.
Yany olha para a garota do pé à cabeça, como se seus olhos fossem um raio laser. Érodys se antecipa:
- Yany, esta é minha namorada Isabella Grey. Isabella, esta é Yany Winger namorada do Taylison.
Elas trocam olhares apreensivos e se cumprimentam com dois beijinhos dos dois lados do rosto. Eu me sento no sofá, depois sou pega por Vany com um suco de morango à minha disposição. Os outros são sendo servidos com um vinho branco italiano. Meus pais puxam assuntos comigo, enquanto o resto do pessoal conversam sobre um assunto que, creio eu, não é do meu interesse.
- Você está linda, mas ainda magrinha e frágil - diz meu pai com mão entrelaçada à minha no colo.
- Não pegou sol na praia?
Como minha mãe reparou que não fiz isso enquanto estava no Rio?
- Não, mãe. Só tenho ido à praia à noite.
- Por quê?
- Gosto de ver a Pracinha dos Namorados durante a noite. É muito aconchegante no escuro do que na luz do dia. E vocês sabem que a água do mar deixa meu pescoço com bolinhas vermelhas que não sei explicar o que é.
- Já foi ao médico para saber, filha? - Meu pai me olha.
- Ainda não.
- Quer que eu fale com o Rodrigo para ele vir aqui?
- Não, pai, estou bem.
Rodrigo é o irmão do meu pai, ele é médico e muito bom no que faz, mas já está velho, bom, nem tanto, ele só tem cinquenta e um anos. É casado e tem dois filhos homens que estudam intercâmbio nos Estados Unidos.
Respiro profundamente, porque senti falta até do cheiro da minha casa. Meus pais sorriem quando percebem.
- Sentiu falta desse ar em família, não é? - sussurra papai para mim. Balanço a cabeça em afirmativa.
- Patrão, o almoço está na mesa - avisa Vany.
- Obrigado.

O ALMOÇO ESTAVA uma delícia, era peito de peru ao molho acompanhado de muitos legumes. Já disse que amo legumes? Pois então, eu amo. Estou no quarto me trocando para tomar banho na piscina com a minha família, quando percebo que a porta está semicerrada e que Isabella, a namorada de Érodys, entra meio sem jeito.
- Oi - diz ela, enquanto penteio meus cabelos e prendo-os.
- Oi, Isabella. Tudo bem?
- Tudo.
Ela toma a minha cama como assento.
- Todo mundo disse que veio do Rio de Janeiro, certo?
- Certo, mas sou gaúcha.
- Eu sei. Posso te fazer uma pergunta?
Franzo a testa para ela e continuo vagando pelo quarto, procurando meu protetor solar.
- Pode.
- Conhece Leonel Blanchard?
Paro de andar pelo quarto rapidamente para dar a atenção.
- Conheço.
- Você é o que dele?
- Ex-namorada.
- Ah - ela baixa a cabeça e encara as mãos no joelho. O que há?
- Por quê?
- Ele precisa de você. Se Leonel se recuperar, você tem que estar do lado dele mais do que ninguém. Daí você vai descobrir o homem que sempre quis por trás daquela obsessão.
Ela conhece Leonel. Como?
- Você conhece ele? - falo, surpresa.
- Na verdade - ela dá de ombros -, sou uma ex dele. Mas... não me odeie, por favor - ela pega minha mão.
Estou desnorteada diante disso.
- Não sei nada dele faz sete dias.
- Imagino. Com essa loucura que tudo se tornou - ela me olha e dá um sorriso triste.
- Você tem sorte, garota. Ele é um homem maravilhoso. Sei que não parece, mas é. Ele é a tua segurança, vai te cobrir de proteção quando estiver em seus braços, vai te amar, vai querer dar o mundo aos seus pés. Você vai ver tudo isso quando Leonel se recuperar.
Nunca tive a oportunidade de sentir tudo isso vindo de Leonel; somente a agressividade no modo de tratar as mulheres e no modo de falar dele.
- Ele era assim com você?
- Esther, Leonel era perfeito como namorado. Todos da minha família gostavam dele. Esse homem era um amor de pessoa, carinhoso... divertido... leal... cuidadoso... - ela fica absorta diante do chão, lembrando, eu acho, os momentos bons com o meu Leonel Blanchard. E ela fala com tanta convicção.
- Por que terminaram?
- Bom, quando completei quatorze anos, minha mãe se separou do meu pai lá em Bordeaux e eu vim para o Brasil com ela, deixando Leonel para trás. Eu me arrenpendi quando descobri que ele arranjou outra namorada depois de um ano.
- E você sabe se ele teve muita namorada?
- Acho que umas sete namoradas mais ou menos. Não sei direito.
- Ah.
- Ele foi o primeiro homem, Esther, o primeiro... - ela me encara agora. - Ele tinha dezesseis anos e eu quatorze, era muito nova, tinha medo de me entregar a ele, mas Leonel sempre esperou o momento certo.
Será que ela ainda gosta dele? Isabella continua falando, mas eu interrompo:
- Ainda é apaixonada por ele?
- Não, Esther, apenas admiro ele por ter crescido tanto como médico. Ele é famoso na França, muito. Foi um ótimo professor para a minha sobrinha.
Ficamos conversando por um tempo, e isso já é o bastante para eu saber um pouco mais sobre Leonel e seu estado de espírito. Com certeza ela conhece ele mais do que eu.

Minha estúpida coragemOnde histórias criam vida. Descubra agora