Com a boate agitada, muitas pessoas dançam de modo diferente músicas eletrônicas. O som é alto, ecoa na boate lotada. Minha cabeça vai à mil com o jogo de luz, no centro.
Taylison e Yany foram direto para a pista de dançam — uma coisa que os dois adoram fazer. Érodys e Mary não estão mais com aquela repercussão irritante, parece que se deram bem. Maryelli se derrete ao lado dele, mas meu irmão provoca ela toda hora.
— Aí, assanhada. Será que dá para parar com esse rebuliço? — rezinga Érodys para Mary, que ri a toda hora, muito exultante.
— Não, eu sou assim mesmo. Vem — ela tenta beijar Érodys, mas ele evita na hora. Fico incrédula com a ousadia dela. Não sabia que Mary era assim.
— Pare com isso!
— Ah, por favor, Érodys.
De repente, damos de cara com Leonel e sua noiva, eles atravessam a multidão de pessoas. Putz! E estão chegando ao open-bar. Meu coração dispara. Empalideço. Ela é bonita.
E agora? Estou me sentindo inibida aqui. Edward me olha sem entender minha reação. Ele pega meu antebraço.
— O que foi?
Pisco os cílios várias vezes tentando voltar ao mundo, mas a catástrofe já aconteceu. Eles se aproximam. Droga! Érodys percebe e lasca um beijo violento em Maryelli. Fico sem ar. Ele está usando Mary para provocar Leonel.
— P_preciso — não consigo terminar a frase.
Uma música de Chris Medina chamada What Are Words surge nas caixas de sons da boate. É como uma câmera lenta ver Leonel atravessar o centro acompanhado da noiva. Meu corpo arrepia só de sentir a dor no coração.
Edward fica de frente comigo, e me encara, embasbacado.
— Vem, vamos dançar.
Me deixo levar pelas mãos macias dele, sem saber o que realmente vamos fazer, pois mal ouvi ele. Só então percebo que detesto dançar músicas tristes. Isso faz com que meu corpo se aterre mais nesse abismo de suplício.
Nos mexemos conforme a música. Edward desliza as mãos na minha cintura, uma de cada lado. Entrelaço os dedos em seu pescoço.
Leonel passa por nós meio sem jeito. Ele me olha rapidamente, com as mandíbulas cerradas.
Encosto a cabeça no peito de Edward para não encarar Leonel, com o coração apertado e a cabeça em outra dimensão.
— O que está acontecendo, Esther?
Fito-o.
— O pai do meu filho está aqui — murmuro.
Edward afaga meus cabelos.
— Quem é ele?
— Leonel Blanchard.
— Leonel! Aquele médico que todo mundo...
Faço que sim com a cabeça.
— Ele acabou de passar por nós.
— E está que nem uma águia nos vigiando do open-bar. Eu entendo você, já passei por essa situação irritante. Ama ele?
— Sim.
— E a criança?
— Meu filho não vai precisar dele — falo baixinho, fazendo com que ele incline a cabeça para ouvir melhor, e quase encosta os lábios nos meus.
— Se você quiser, eu... posso ser um pai para essa criança — ele pega meu queixo carinhosamente, e eu quase congelo com o toque. Edward também me atraí, não posso negar. Ele é um homem bonito.
— Só podemos ser amigos, Edward — balbucio, com um olhar franzino.
— Eu não quero sua amizade. Eu quero você como mulher.
Ele vai me beijar, droga. Não, por favor.
— Eu não posso.
— Claro que pode, basta você querer.
Querer um homem que mal conheço? Não é assim que a banda toca, Sr. Drummond.
— Eu não conheço você.
— Podemos nos conhecer melhor com um tempo.
Emudeço. O que fazer? Meu coração está prestes a saltar pela boca.
— Preciso dar uma volta por aí.
— Vai sozinha?
— Vou.
— Tome — ele saca um cartão e me entrega. — Ligue para mim se estiver precisando desabafar.
Dou um sorrisinho de leve. Assim ficou melhor.
— Obrigada. Voltarei daqui a pouco.
— Eu espero.
Me retiro da boate, deixando todos para trás. Atravesso a rua para pegar a Mercedes V8 de Yany. Aperto o botão para abri-lo e, nesse momento, uma pessoa me grita da entrada da boate: Érodys. Ele corre em minha direção, desaprumado na correria. Deve estar bêbado.
— Esther, aonde vai?
— Dar uma volta por aí.
Ele me encara, sei que vai me impedir de sair.
— Sozinha?
— É.
— Não, volte para a boate — ordena. Viu?
— Eu só vou dar uma volta de carro.
— Por onde?
— Ai! Eu não sei! — bato os pés no chão, irritada.
— É melhor você ficar aqui, é perigoso na rua.
Reviro os olhos entrando no carro. Ligo o motor da grandeza.
— Saia desse carro, Esther — avisa, irritado comigo.
— Daqui a pouco eu volto. Não se preocupe.
Dou a partida e saio cantando pneu. Ponho na segunda marcha e corro um pouquinho. Ligo o som do carro e aumento o volume a fim de estrondar com a música da banda Nickelback chamada This Means War. Ouvindo ela dá mais vontade de correr. Passo por um quebra-mola vagarosamente, depois piso fundo no acelerador, arrastando os pneus, fazendo um barulho dilacerante em algumas avenidas silenciosas do Rio de Janeiro.
Meu celular toca, mas decido não atender. Não estou a fim de falar com ninguém neste momento, eu quero é curtir o carro.
Corro mais rápido, saindo do bairro Leblon. Decido ir numa comunidade longe da cidade, só preciso pegar a BR que segue para lá. À medida que corro, o som ganha mais potência.
Começo a dançar, mesmo sentada no banco. Ultrapasso um motorista que dirige uma Range Rover. Abaixo o vidro do carro e ponho a cabeça para fora.
O motorista é mais ou menos da idade de Edward. No carro do cara há mais dois rapazes.
— Ei! — grito para ele. Ele me olha com um sorriso idiota. Meus cabelos se embaraçam por conta do vento.
— Seu carro não corre — provoco ironicamente. Ele ri, sacando a minha.
— Ah, é? Está falando isso porque seu carro é uma Mercedes V8.
— Vamos apostar uma corrida?
— Está louca, garota? Estamos numa BR. Cuidado — aconselha.
Faço careta para ele e passo sua Ranger Rover rapidamente. Outra música surge no alto-falante do carro, é triste, melancosa e enfadonha. É da Whitney Houston chamada I Look To You. Isso me faz lembrar aquele inútil que perturba meus pensamentos, invade a minha vida.
Decido ligar para ele, e ele me atende na hora. Ouço o barulho do som da boate. Ele ainda está lá.
— Oi — diz num tom de voz agitado.
— Eu amo você — digo sem pensar.
— Esther!
— Ouviu, Leonel? Eu amo você — repito e desligo. Levo a cabeça no volante em prantos de choro.
— Ai, meu Deus!
Por que nos separamos? O que vai ser de mim sem família, sem o pai do bebê? Será que vou consiguir viver com isso? Meu pai não quer saber de mim, me expulsou de casa, me deixou desamparada. O único que eu podia contar com ajuda era Athos Júnior, mas ele me deu as costas.
Me desculpe, papai. Queria tanto que você me abrigasse em seu ninho de amor, queria tanto estar ao seu lado agora, queria tanto seus carinhos de pai adotivo.
Em alta velocidade, o ronco do motor do carro ecoa pela estrada. Percebo que não consigo mais controlar a Mercedes e que estou perdendo o controle dela. Droga. Contorno uma curva longa, escura e assustadora. Pare de correr! Ah, não, estou em perigo, precinto isso.
Um caminhão vem em direção, com o farol tão alto que não consigo enxergar nada. Ele passa por mim rapidamente, mas logo dou de cara com outro carro grande. Ele me arremessa para fora da pista, fazendo-me capotar. O carro de Yany gira, gira, gira e gira, então levo um soco no rosto.
Sou arremessada para fora do veículo num movimento abrupto, rápido demais. Consigo notar, de longe, o carro de Yany explodir. Não!
Sangrando muito num capim alto fora da estrada, não consigo me mexer. A escuridão toma conta dos meus olhos. Apago.
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Minha estúpida coragem
RomanceInconformada com a vida sem o prestigioso Leonel Blanchard, Esther vê seu mundo desabar ao se mudar para Porto Alegre. E nessa jornada, ela descobrirá um Leonel sem escrúpulos, possessivo além da conta e descontrolado. Esther se vê sem saída ao p...