Capítulo 8

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04/12/17, segunda-feira aproximadamente 12:00

       — Senhor Putin é um prazer conhecer o senhor — diz Jonas. Sua voz abafada já que eu estava ouvindo a conversa atrás da porta porque meu pai me expulsou do quarto.
       — Garoto... Obrigada por pagar meu tratamento — diz papai. — Espero que não tenha feito isso... com segunda intenções querendo comprar a minha... menina.
       — Kiara estava desesperada, senhor Putin. Eu não poderia não ajudar quando tenho dinheiro de sobra. Mas eu gosto dela sim e tenho certeza que Kia não é nenhuma qualquer para ser comprada. Se ela não quiser é só falar.
       Own Jonas! Papai fala:
       — Ela tem 16 anos Jonas... e nunca havia saído da nossa... cidadezinha. Ela é virgem você sabe, não é? E você é o melhor jogador... do mundo. Já ficou com mulheres... experientes.
       — Não vou negar e dizer que nunca passei a noite com uma mulher porque já passei com muitas, mas não vou força Kia a nada.  — diz Jonas com um tom de voz contido demais.
       — O meu medo não é força e sim usá-la... e depois larga-la.
       — Nós não estamos namorando apenas ficamos. Eu não posso garantir que me casarei com ela. Eu não sei o futuro.
       — Apenas não brinque com coração da minha filha... ela é inocente demais.
       Obrigado papai por dizer que eu sou uma virgem inocente! Quer acabar de vez com as minhas chances com Jonas? Chances? Do que eu estou falando?! Como Jonas disse nós não estamos nem namorando então não há nada para cobrar.
       — Senhorita?
       Dou um pulo e bato minha cabeça com o susto. Um médico está parado atrás de mim.
       — Hum... oi?
       — Você é a filha do Joel? — pegunta ele.
       — Sim.
       — Ótimo. Agora que ele te viu pode descansar. Por favor de licença?
      Saio de frente da porta e entro atrás do médico. Jonas e papai param de conversar na hora.
       — Jonas Poullo?! — O médico para e arregala os olhos. — O que está fazendo aqui?
       — Vim ver meu amigo — fala Jonas com um sorriso já acostumado com toda essa atenção.
       — Claro... eu... Desculpe. — Gagueja o médico. — Eu sou o médico de plantão e tenho que colocar seu Joel para dormir. Ele não pode se esforçar muito ainda.
       — Eu não quero dormir! — exclama papai.
       — Papai você tem que descansar para melhorar — falo.
       — Nós lhe daremos um remédio na veia para dormir — Explica o médico pegando um agulha.
       — Eu volto mais tarde para te ver papai.
       O médico insere a agulha no soro de papai que logo está ressoando. Eu e Jonas saímos novamente do hospital dessa vez já acompanhado dos seguranças que nos ajudam a entrar no carro.
       Jonas está calado e fica assim durante todo o caminho de volta ao apartamento. Quando entramos na sala ele vai direto para o seu quarto e eu sento no sofá. Ele volta minutos depois com roupas e tênis de viajar m ginástica.
       — Vou a academia — diz ele é sai.
       Será que ficou bravo com o que papai disse?

* * *

05/12/17, terça-feira aproximadamente às 09:23 AM

       Tudo vira uma rotina durante a semana. Vou ao hospital ver papai — mas agora Jonas não entra no quarto — voltamos para o apartamento. Eu fico vendo TV e Jonas vai para academia. Ele trás um almoço e cada um vai para um canto. Ele parece distante e frio.
       Na quarta ele volta para fazer o jogo com o Alarco e eu durmo sozinha no apartamento o que me deixa com um pouco de medo.
       É só na sexta depois de visitar papai, que já está bem melhor, que Jonas fala algo de verdade comigo.
       — O que acha de um passeio? — Pergunta ele quando estamos saíndo dos estacionamento.
       Resolveu falar comigo? Pergunto mentalmente.
        — Eu não estava falando com você? — Indaga ele. Merda! Eu falei isso em voz alta?
        — Eu adoraria passear! — exclamo mudando de assunto.
       — Kia... Por que falou isso?
       Pelo jeito ele não vai desistir.
       — Você tem me ignorado desde que conversou com meu pai, Jonas. Eu não sou idiota.
       — O que? Eu não estava te ignorando. Eu sou assim, quieto. — diz ele me olhando rapidamente para o lado antes de voltar a atenção para pista.
       — Esquece tá? Onde você vai me levar?
       — Essa conversa não acabou. Mas vou te levar a praia de Copacabana.    Almoçamos por lá e depois visitamos o Cristo Redentor e algum outro lugar que você queira.
       — Podemos ir  visitar a minha tia que mora aqui? — pergunto empolgada.
       — Com certeza.
       Jonas me deixa escolher uma música e eu coloco uma em inglês que amei o toque, mas com certeza não entendo nada do que está sendo cantado.
       Meia hora depois deixamos o carro em um estacionamento e vamos para praia. Alguns homens de pretos nos seguem e eu me sinto incomodada.
       — Como eu sei que você não tem biquíni vamos primeiro a uma loja comprar um — diz Jonas. Ele aponta para uma loja e vamos para lá. Os caras continuam nos seguindo.
        — Jonas? — sussurro. — Por que aqueles caras estão seguindo a gente?
       — Ah, desculpe. Esqueci de falar. São meus seguranças. Não dá para eu ir a praia sem seguranças.
       — Hum, tá!
       Entramos na loja e os homens de preto entram também mas ficam a uma certa distância de nós.
       — No que posso ajudá-lo? — diz uma atendente parando na nossa frente. — Aí meu Deus! Ai meu Deus! Eu estou atendendo o Jonas Poullo!
       A garota dá um passo para trás com os olhos arregalados e a mão no peito. Um mulher mais velha vem até nós sorrindo e empurra a menina para longe.
       — Desculpe por isso. Sou Domaina, dona da loja. No que posso ajudá-los? — diz a mulher. Ela é tão alta como Jonas e eu me sinto uma criança perto dos dois.
       — Kiara quer ver alguns biquínis — diz Jonas.
       — Alguma cor ou modelo de preferência, Kiara? — pergunta a mulher me encarando.
       Modelo de biquíni? Nunca nem fui na praia!
       — Gosto de vermelho.
       — Um cor linda que combinará perfeitamente com o seu tom de pele. Venha.
       Ela me leva até o balcão e começa a pegar vários modelos para eu provar em vários tons de vermelhos. Escolho um que ela chamou de o clássico modelo cortininha de um tom vermelho vivo.
       — O provador é ali querida — diz ela apontando para um lugar cheio de portas de um lado e banquinhos do outro.
       Vou até um e Jonas me segue e senta no banquinho em frente.
       — Eu quero ver — fala ele me dando um sorrisinho de lado. Sinto minhas bochechas ficarem vermelhas e entro no provador.
       Há espelho em todos os lados, menos a porta onde há ganchos para pendurar roupa. Tiro meu short e calcinha e coloco a parte de baixo do biquíni. Mas quando vou colocar a parte de cima a coisa complica. Consigo amarrar atrás do pescoço, mas nas costas nem com contorcionismo.
       — Kia? Já colocou? — pergunta Jonas, lá de fora.
       — Eu não consigo amarrar sozinha. — falo.
       — Abre a porta que eu amarro.
       Fico em silêncio enquanto penso se devo abrir ou não a porta. Por fim destranco e abro com uma mão enquanto seguro o biquíni com a outro. Jonas entra e fecha a porta novamente com a chave.
       — Vira de costas — sussurra ele.
       Perco a respiração por um segundo enquanto viro de costas para ele. Seus olhos encontram o meu pelo espelho. Ele segura a cordinha do biquíni e eu solto meus braços ao lado do corpo.
       Seus dedos roçam minha pele enquanto ele dá o laço. Quando acaba ele desliza as mãos pela minha cintura e eu me arrepio.
       — Você está linda. — sussurra Jonas. Ele abaixa a cabeça e começa a dar beijinhos no meu pescoço. — Você é linda.
       — Jonas... — murmuro. Ele gira meu corpo e inesperadamente estou cara a cara com ele.
       — Posso te beijar? — indaga ele. Suas mãos empurrando meu corpo contra o seu. — Se não quiser e só falar.
       — Pode — digo, ofegante. Como poderia dizer não?
       Seus lábios encaixam nos meus perfeitamente. Mais segura do que nas outras vezes passo a mão envolta do seu pescoço e acaricio sua nuca lentamente enquanto movemos nossas bocas juntos.
       — Kiara? Gostou do biquíni? Trouxe umas saídas de praia para você ver.
       Jonas se afasta devagar de mim ao ouvir a voz de Domaina. Mas ele deixa um último selinho antes de se afastar totalmente.
       — Gostei sim — respondo ainda meio ofegante. Olho para Jonas sorrindo.
       — Você está cada vez melhor — sussurra ele também sorrindo.
       Abro uma gretinha da porta e pego as saídas de praia que ela me ofereceu. Jonas continua ali me observando enquanto eu coloco os três modelos: dois vestidinhos e uma sainha.
       — Qual ficou mais bonito? Eu gostei dos três!
       — Leve os três — diz ele.
       — Sério?!
       — Sim. Vamos? Já fique com o biquíni.
       — E você não vai usar sunga de praia?
       — Eu já estou com uma.
       Saímos do provador juntos sob o olhar das vendedoras da loja. Jonas paga as compras, dá as roupas que eu estava e duas das saídas de praia para um dos seguranças. A dona da loja agradece tanto a presença de Jonas que chega a ser chato.
       A praia é linda. Simplesmente linda. Jonas aluga uma mesa, sombrinha e cadeiras de praia. Nós dois nos divertimos muito pela manhã. Jonas me beijou ali no meio de todo mundo sem se importar com as pessoas co seus celulares ligados esperando uma falha da segurança. Lá para uma e meia da tarde pedimos uma porção.
       Jonas volta a conversar comigo sobre o que eu havia reclamado. Ele diz que não estava me excluindo nem nada disso e sim que ele é assim. Quieto, na dele. Por mais que eu ache que ainda tenha algo haver com a conversa com meu pai deixo para lá.
       Saímos de lá só depois das três e eu acabo dormindo no carro. Nosso passeio ao Cristo e a casa da minha tia acabou ficando para lá porque chego no apartamento tomo banho e apago novamente.

⚽ ⚽ ⚽

       — Psiu, dorminhoca. Acorda.
       — Hum pai... me deixa dormir! Eu tô de férias! — resmungo virando para o outro lado da cama.
       Uma risada ressona no quarto. E ela com certeza não é de papai. Abro apenas um olho para ver e encontro Jonas.
       Sento na cama rapidamente passando a mão no cabelo. Eu devia estar parecendo um espantalho!
       — Jonas? O que foi?
       — São quase nove da noite. Seu pai vai ter alta agora.
       — Já?!
       — Vou te esperar na sala.
       Levanto, lavo o rosto e troco a roupa de dormir por uma de sair — Não que fizesse muita diferença mesmo. Encontrei Jonas na sala e vamos para o hospital em um clima animado.
       Papai voltaria para casa. Mas uma em lugar diferente mais seguro do nosso bairro onde Jonas disse que arranjou e que o aluguel seria o mesmo dá outra casa além de ser mobiliada. Eu iria voltar a acompanhar o Alarco em janeiro quando eles voltarem com os jogos. Já que o último seria nesse sábado.
       Vamos direto para o quarto de papai. Ele está sentado em uma cadeira de rodas conversando com o médico já pronto para ir embora.
       — Ei, papai! — Abaixo para abraça-lo.
       — Olá, Kia.
       — Agora que já chegaram posso dar as últimas recomendações. — diz o médico abaixando a sua prancheta. — A cirurgia de Joel foi um sucesso total, mas eu recomendo que ele ainda fique uns três meses sem fazer esforço físico.
       — Como assim doutor? — pegunta papai. — Eu trabalho de pedreiro e garçom, tenho que fazer esforço físico.
       — Você não pode nem pensar em trabalhar de pedreiro Joel. Além do esforço físico tem o sol na cabeça. Eu não recomendaria trabalhar de garçom também, mas você tem que fazer algo para sobreviver.
       Eu e papai nos encaramos. Eu vejo medo neles. Como vamos comer? Pagar contas? Enviar dinheiro para Camille? O que papai ganha de garçom não é nem metade do dia do pedreiro.
       — Doutor, eu tenho que trabalhar. O que eu ganho de garçom é quase nada. — Insiste papai.
       — Se você trabalhar sua situação anterior pode voltar e pior, Joel. Mas você faz o que quiser, não é? Agora deixe-me dar o papel da sua alta.
       Seguro a mão de papai enquanto o médico assina um papel e o entrega a ele. Empurro a cadeira de rodas para fora ainda pensando no que nós iríamos fazer. Aluguel, luz, água, comida, faculdade da Mille, gás. Mal conseguíamos fazer isso com papai bom.
       — Eu não queria dizer, mas sou obrigado a falar — A voz de Jonas interrompe meus pensamentos quando entramos no elevador que por algum milagre está vazio. Eu ainda não gostava desses lugares.
       — Falar o que? — pergunto.
       — A casa que eu consegui para vocês é minha. Depois do que aconteceu com seu pai fiquei preocupado com vocês. Seu irmão pode voltar e fazer outras coisas — diz Jonas. — Eu comprei a casa.
       — Você é louco? — pergunta papai.
       — Não, senhor Putin. Eu gosto da sua filha. Eu me preocupo com ela. E não quero parecer arrogante, mas tenho dinheiro de sobra. — Mordo o lábio e olho para ele envergonhada. — Não precisam pagar o aluguel nem luz e água. Eu pago.
       — Jonas... — Sussurro encarando-o.
       — Espero que não esteja querendo comprar minha filha! — Exclama papai. — Acha que eu não conheço o seu tipo? Faz de tudo para conquistar algo que não tem e quando se cansa joga fora. Eu sabia que não deveria ter deixado minha filhinha ir nessa porcaria de viagem.
       — Pai você vai voltar a fazer isso de me colocar em uma bola de vidro? Apesar do que aconteceu com você eu estava amando a viagem.
       — Senhor Putin você está passando por dificuldades. Sei que é difícil aceitar dinheiro de outro homem assim, mas eu tenho de sobra. — fala Jonas.
       — Eu e minhas filhas sobrevivemos até agora e...
       O elevador para e duas pessoas entram encerrando nossa conversa. As duas mulheres olham para Jonas embasbacadas e segundos depois estão pedindo autógrafos.

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