Capítulo 9

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23/12/17, quarta-feira aproximadamente 14:24

       Lentamente. Os dias de arrastam lentamente. Duas semanas e três dias sem ver Jonas. Não que eu estivesse contando, claro. Nas primeiras duas semanas eu ainda trabalhei o dia todo na lojinha de bijuterias, mas a dona resolveu sair de férias mais cedo. Do dia 20 até o dia 10 de Janeiro. Eu não tinha nada para fazer.
       Jonas me envia mensagens todos os dias e coloca créditos no meu celular toda semana. Eu falo com ele e ligo para Mille todos os dias a noite. Eu e papai conversamos com ela.
        Papai acabou aceitando a proposta de Jonas de não pagar aluguel, luz e água afinal que outra opção nós tínhamos? A casa é linda. Tem três quartos e um tem banheiro (esse ficou com papai), um banheiro social (papai chamou assim), uma sala enorme conjugada com a copa, uma cozinha, uma área de serviço, e uma varandinha nos fundos.
        Além disso não trouxemos nenhum móvel da outra casa já que aqui tem tudo novo. E quando chegamos descobrimos mais coisas legais: TV a cabo e wi fi. Sim Jonas também colocou os dois para nós! Eu ainda não entendo o porquê dele nos ajudar tanto mas eu não vou reclamar.
        Por isso papai trabalhando a tarde e a noite de garçom estava dando para manter muito bem a casa já que só precisamos comprar comida e mandar dinheiro para Mille. Ele estava até juntando um dinheirinho e deixou eu ficar com o que eu ganhei na loja esse mês. Eu usei um pouquinho para comprar duas mudas de roupas novas e guardei o resto.
        Como eu tenho TV a cabo agora meus amigos, Alam e Colin, querem vir para cá todo dia mesmo que eu não esteja em casa. Eles me encheram o saco até eu contar como tinha conseguido essa casa. Quando eu falei que o Jonas estava pagando tudo eles surtaram. E agora eu estava esperando eles para assistir um jogo.
        Com certeza isso não me impede de pensar em Jonas. Eu passei apenas alguns dias com ele, mas sinto tanta saudades.
        A campanhia toca interrompendo meus pensamentos. Finalmente Alam e Colin chegaram. Levanto e abro a porta. Não vejo meus amigos. Vejo um cara com cabelos loiros e olhos azuis como eu. Greg. Fecho a porta instintivamente mas ele é mais forte e vou para trás com impacto.
       — Sai daqui, Greg! — grito.
       — Onde tá o velhote? — pergunta ele entrando e fechando a porta.
       — Não é da sua conta. Você quase matou ele sabia?! E a polícia tá te procurando?!
       — Não me importa. Cadê o dinheiro? O que eu peguei da última não deu nem para cheirar direito.
       — Não temos dinheiro! — exclamo.
       — Sem dinheiro com uma casa dessas? — ele de repente avança e segura meu pescoço. Minhas pernas tremem. Greg é muito mais forte que eu. — Fale onde está sua vadia!
       Ele aperta meu pescoço e o ar some. Tento lutar para puxar algum, mas não consigo. Sinto-me fraca.
       — Fale logo piranha filha da puta!
       Minha mãe não é puta, seu merda. Tento me mover e me afastar mas suas mãos parecem garras no meu pescoço.
       — Greg, solta — Tento dizer, mas praticamente não sai nada.
       Sinto a consciência se esvaindo de mim. Mas no momento seguinte Greg me solta e eu caio, sem forças, no chão. Levo minhas mãos ao pescoço e busco por ar. Ouço gritos e gemidos. Quando finalmente olho para cima vejo Colin e Alan tentando bater no Greg, mas meu irmão parece ser mais forte que os dois juntos. Não consigo levantar para ajudá-los. No momento seguinte tudo se embola mais ainda. De repente Jonas estava ali. Eu estava delirando? Ele imobiliza Greg rapidamente, mas Greg se contorce e corre porta a fora. Eu tinha morrido?
       — Kiara? — diz meu Jonas imaginário agachando a minha frente. — Deus!
       — Nós chegamos aqui e ele a estava enforcando — diz Alam ou seria Colin? — Vou trancar a porta.
       — Kia, sou eu Jonas. Vou ter levar para o quarto, tá?
       Acho que faço que sim com a cabeça. Jonas ou seja lá quem eu esteja imaginando me pega no colo e me leva até um dos quartos. Não é o meu. Ele me deita na cama e ajeita os travesseiros.
        — Jonas?— sussurro.
        — Sim. Sou eu minha linda.
        — O que você... tá fazendo aqui? — sussurro. 
        — Eu ia te fazer uma surpresa.
        Ele realmente está ali. Respiro fundo e busco ar. Colin trás água para mim e eu bebo tudo. Minha garganta está meio dolorida, mas pelo menos estou conseguindo respirar.
        — Jonas! — exclamo. Ele está aqui. Sento na cama e o abraço. Seus braços também me envolvem e eu sinto seu perfume.
       — Ei, minha linda. — sussurra ele no meu ouvido. — Pelo jeito eu cheguei na hora certa, não é?
       — Sim. — Encaro-o e sinto uma insana vontade de beija-lo. Eu estava com tanta saudade! Ele parece perceber e me beija lentamente.
       — Ei, ei, ei! Olha a pouca vergonha! Tire as mãos da minha menina! — Afasto-me de Jonas e olho para Alam envergonhada.
        — Agora que você tá melhor posso pirar porque o Jonas Poullo tá aqui? — diz Colin entrando no quarto.
        — Meninos! — murmuro revirando os olhos.
        — Então você é dele? — indaga Jonas encarando Alam.
        — Claro. Nós somos melhores amigos desde an... desde quando Kia? — rebate Alam.
        — O Jonas Poullo está aqui caramba! — exclama Colin. — Ninguém vai acreditar!
       — Você não vai falar para ninguém. —  murmuro ainda um pouco rouca. — Agora saiam que eu preciso conversar com Jonas.
        — E os nossos filme na sua TV maravilhosa? Está nos dispensando? — Alam diz e até coloca a mão no peito dramatizando.
        — Vocês podem começar sem mim.
       Alam sai bufando e dizendo que não se fazem mais amigos como antes e Colin ainda meio alienado por estar vendo o Jonas Poullo. Quando eles saem me ajeito na cama de frente para Jonas.
        — Você está bem? Sua garganta está machucada.
        Respondo que sim enquanto ele passa a mão levemente na minha garganta. É tão surreal ele está aqui!
        — Então você enfrentou umas quatro horas de viagem só para me ver? — pergunto.
        — Te ver e te fazer um convite — diz ele. Sua mão passeia agora pelo meu rosto.
       — Hum?
       — Quer ir para Minas comigo? Mais especificadamente Belo Horizonte?
       — O que?! — Arregalo os olhos e sento na cama direito. — Isso é sério?
       — Não sei se você sabe, mas eu sou de Minas Gerais. — ele se joga para trás, caindo deitado e relaxado na cama.
       — O Joseph comentou que jogou com você no Bola Mineira.
       — Sim. Foi o primeiro time que me contratou. Minha família é toda de BH. Como tem quase dois anos que eu não vinha ao Brasil por algum período longo minha mãe me intimou a passar pelo menos natal lá. Ela só me via rapidamente em jogos. — ele senta de repente parando cara a cara comigo. — E ela quer conhecer a loirinha que balançou meu coração.
       — Jonas! — sorrio envergonhada.
       — E você pode ver sua irmã.
       — Eu amei a ideia! Mas eu tenho que ver com papai se ele quer. Não sei se ele aguenta tantas horas de carro...
        — Quem disse que vamos de carro? Na verdade vamos até o Rio e de lá pegamos um helicóptero.
        — Helicóptero?! Mas eu nunca andei nem em aviãozinho de carrossel de criança.
        — Pois vai andar.
        — Eu... Isso é demais!
        — Imaginei que você ia gostar.
        — Vamos para sala agora ou os meninos vão ficar loucos.

⚽ ⚽ ⚽

        Os meninos estavam assistindo algum filme sangrento que eu troquei na mesma hora mesmo eles reclamando e muito. Os dois se apossam do sofá grande então Jonas senta na poltrona e eu ia sentar no chão mesmo, mas Jonas me puxa para o seu colo. Vergonhoso.
       O filme começa e passamos a tarde e começo da noite assim. Até que  a fome bate. Jonas diz que devemos ir a uma pizzaria. Como papai só chegaria às onze e ainda é sete eu aceito.
       No nosso bairro não tem pizzaria então nós quatro temos que ir até o centro da cidade. Colin indica o caminho da pizzaria malagueta, já que ele foi o único de nós que já pisou em uma pizzaria.
        Nós sentamos em uma mesinha para quatro pessoas. Com Jonas de um lado e Alam do outro. Jonas e Colin, que agora esta mais normal, dizem que com certeza a melhor pizza com certeza é a de calabresa.
        — Então... — Alam vira de lado para conseguir encarar Jonas e cruza os braços.  — Quais são as suas intenções com minha amiga?
        — Alam! — exclamo. — Jonas é meu amigo!
        — Amigos não ficam de agarração, Kiara. — Colin diz. — E eu também gostaria de saber quais suas intenções com minha amiga.
       — Meninos parem com isso! — exclamo.
       — Pode deixar, Kia. — Jonas encara meus amigos de volta. — Como Kiara disse nós somos amigos. Estamos nos conhecendo melhor, mas eu tenho certeza que isso só diz respeita a mim e a Kia.
       — Nós somos os melhores amigos, temos o direto! — exclama Alam.
       — Seu pai  compactuo com isso Kia? — Indaga Colin.
       Ouço Jonas bufar.
       — Meninos vocês são meus amigos, mas isso não dá o direito de vocês se meterem na minha vida.
       — Dá assim! — exclama Alam.
       — Por favor, em? — diz Jonas. — Eu já sou adulto, pago minhas contas e não preciso dar satisfação para dois moleques.
       — Isso quer dizer que você está brincando com a Kia? — Fala Alam.
       — Claro que não! Eu gosto da Kia.
       — Chega! — exclamo irritada. — Meu irmão tentou me matar hoje à tarde e eu quero apenas me divertir. Que saco!
       Levanto da mesa brava e dou as costas para eles. Caminho para fora, preciso de um ar. Não gosto de sentimentos  ruins. Não gosto de deixá-los entrar em mim. Às vezes me pergunto se eu tivesse uma mãe ela me ensinaria a ser boa o suficiente.
       Vou até um beco na lateral da pizzaria e deixo uma lágrima cair. É por que Jonas falou que é só meu amigo? Será que ele só está brincando comigo? Afinal o que o melhor jogador do mundo iria querer comigo?
       — Kia? — Jonas aparece no beco. Tento enxugar meu rosto, mas ele aparece na minha frente em dois passos. — Você está chorando?
       — Não.
       — Você está sim. — ele puxa meu queixo delicadamente para cima. — Não ligue para o que aqueles dois disseram. Eles querem apenas te proteger.
       — Eu sei.
       — Então por que você está chorando? — pergunta ele.
       — Você disse que... — paro de falar. Ele vai me achar uma criança. Mas em um relacionamento, mesmo que amizade, não se pode guardar inseguranças.
        — Você está assim por minha causa? — ele parece não acreditar.
        — Você disse que só é meu amigo — murmuro.
        — E você ficou triste por isso? Queria eu dissesse que somos inimigos?
        — Não, Jonas. — solto um sorriso tristonho. — Esquece.
        — Eu já entendi Kia. Eu sei que a gente tá se beijando e tudo mais. E não estou afim de falar com seus amigos que eu estou te pegando ou ficando com você. Nossa relação é mais que isso.
        — É? — encaro ele.
        — Claro Kia. Você acha que eu faria tudo o que eu fiz por você com qualquer mulher? — ele sorrir e me puxa para os seus braços. — E eu não dou mais satisfação nem para o meu pai quanto mais para os seu amigos.
        Coloco meus braços em volta dele e respiro fundo. Jonas tem 19 quase 20 anos e deve ser um saco ter dois garotos cobrando ele. É tudo que ele fez por mim... Que cara compraria uma casa para sua "ficante" ficar?
       — Vamos voltar? A pizza já deve ter chegado.

⚽ ⚽ ⚽

       Quando acabamos de comer Jonas finalmente foi reconhecido e todos os clientes da pizzaria nos cercaram. Nem o dono do local conseguiu controlá-los. Jonas tirou fotos e deu autógrafos com um sorriso no rosto, sem nem ligar para intromissão. Finalmente conseguimos voltar para o  carro.
        No meio do caminho meu celular toca. É papai preocupado querendo saber onde eu estou. Explico que sai com os meninos e estou chegando, mas não falo nada de Jonas.
        Uma luta de cada vez.

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