— Ei, papai — digo entrando em casa. Ele está no fogão de costas para a porta então não vê Jonas entrando atrás de mim.
— Ei querida! — exclama ele desligando o fogo e virando para mim.
— Eu liguei para Mille e... Jonas?!
— Joel, como vai? — Jonas sorri e cumprimenta meu pai boquiaberto com a cabeça. — Se sente bem?
— Sim estou bem. Mas o que você está fazendo aqui?
— Vamos sentar papai.
Sento no sofá maior com Jonas e meu pai me senta na poltrona virado para nós. Sorrio para tranquilizá-lo.
— Apesar de falar com a Kia por celular todos os dias eu estava com saudades dela — diz Jonas colocando a mão na minha coxa e apertando.
— Saudades, hum? — papai levanta as sobrancelhas. — Sei que fez muito por nós Jonas, mas ainda não disse suas reais intenções com a minha filha.
Jonas faz uma careta. Mas que raios porque todo mundo resolveu saber sobre o eu tenho com ele?
— As melhores possíveis Joel. — responde Jonas com um sorriso meio... forçado?
— Papai, por favor. — reviro os olhos mentalmente. — E Jonas conte a ele para que você veio aqui.
— Claro. Minha família é de Belo Horizonte e vou passar o natal lá. Como Kia já comentou que sua irmã estuda lá e há tempos não vêem ela resolvi convidá-los para ir comigo.
— Ver minha Mille? — os olhos de papai ficam marejados. — Jonas, meu filho. É claro que aceito.
— Nós vamos de carro ahté o Rio e de lá pegamos um helicóptero. Chegaremos bem rápido então não se preocupe com sua saúde. — Completa Jonas.
— Perfeito! Amanhã começa minhas férias!
— Vamos dormir então! Amanhã vai ser um dia cheio de emoções. — digo levantando. — Vou te mostar o quarto de hóspedes.
— Nada de escapar para o quarto de Kia a noite!
— Papai!⚽ ⚽ ⚽
Às duas da tarde do dia seguinte o motorista de Jonas para o carro em frente à um prédio bem... precário. Subimos as escadas com cheiro de mofo e paramos na porta do apartamento 21. Não há campanhia então bato na porta. Papai ao meu lado e Jonas logo atrás. E o motorista, que descobri ser segurança, há uma distância observando tudo.
A porta se abre lentamente. Tudo parece ser em câmera lenta. Eu estava muito ansiosa para ver minha irmã. Finalmente a porta é aberta. Camille está alta como sempre foi, mas seu cabelo está curto e os olhos cansados.
— Pai, Kia? — ela diz de olhos arregalados.
Só então eu percebo. A barriga dela está redonda. Não do jeito de alguém com gordura. Sim do jeito de alguém grávida.
— Oh Deus! — Antes que possamos perceber ela começa a cair.
Jonas mais esperto que nós a segura antes que Camille bate no chão e se machuque. O motorista/segurança nos ajuda a entrar com ela e a por no sofá então sai e fecha a porta.
Ando de um lado para o outro na minúscula sala tentando entender tudo isso enquanto papai e Jonas dão batidinhas na cara dela tentando fazê-la despertar. Aí Deus. Mille grávida. É por isso que ela falou que demoraria mais para terminar! Não por causa de greves e qualquer coisa. Por causa de um bebê.
— Pai? — sussurra Millei finalmente acordando.
— Sim querida. Sou eu. Eu estou aqui.
— Pai! — ela senta no sofá e se joga nos braços do meu pai. Como ele tem coragem de ser tão afeituoso depois disso?
— Pode explicar que merda é essa? — pergunto.
Os dois se afastam e Millei me encara.
— Kia você está tão grande... E oh! Jonas Poullo?!
— Não mude de assunto! — exclamo. — Você está grávida?!
— Realmente minha filha. Você tem que explicar. Quando pretendia contar? — pergunta papai.
— A questão não é quando pai! A questão é que ela engravidou! Apostamos todas nossas fichas em você Camille e o que você faz? Engravida! Se não fosse pelo Jonas nós continuaríamos naquele miséria!
— Não fale assim Kiaria — diz Mille sem me encara. — Eu sei que tinham expectativas em cima de mim. Mas aconteceu! O que eu ia fazer? Abortar?
— Não tínhamos expectativas tínhamos planos, Camille! Cada dia ruim que eu tinha eu seguia em frente e pensava: Mille conseguirá e melhorará nossa vida. Você nos deu esperança e agora mostra que era mentira?
— Não. — sussurra ela em meio a um soluço. — Eu vou terminar meu curso!
— Terminar? — Rio sem humor. — Uma criança não é uma boneca que quando você cansar deixa de lado. Exige tempo e dedicação. Veja nossa pai. Ele poderia muito bem ter se sustentado sozinho depois da morte da mamãe, mas ele tinha filhos. Filhos além de atenção gastam dinheiro!
— Kiara chega! — papai me encara seriamente. — Você a fez chorar. Camille errou, mas agora merece nosso apoio.
— E as vezes que eu — bato no meu próprio peito. — chorei por ter que deixar de pagar contas, de comer para mandar dinheiro para ela? Você pediu o dinheiro do meu sonhado presente de 16 anos Camille e aposto que nem foi para faculdade!
— Eu precisava fazer uma ultrassom e ver se o bebê estava bem. Eu... Eu estava com dores e não consegui pelo SUS. Eu..
— Não se preocupe querida. Você fez o certo. — diz papai para ela e então me olha. — Eu estou mandando você parar Kia. Camille já passou por coisas demais para ser desprezada pela própria irmã!
— Sério, pai? Achei que já tínhamos passado pela fase Camille é superior.
— Cami por que tem uma parede na nossa porta... Ei, amor por que você está chorando? Você está sentindo dor?
O homem larga duas sacolas no chão e corre pela sala até Camille. Ele está tão focado que nem nos percebe.
— Gui... Meu pai e minha irmã estão aqui. — sussurra ela.
Guilherme finalmente olha ao redor e nos percebe. Ele solta um oh, arregala os olhos e levanta.
— Senhor Putin, Cami me falou muito do senhor.
— Pode me chamar de Joel. Então você é pai do meu neto?
— Sim, mas na verdade é uma garotinha.
— Mesmo? Família danada para nascer mulher. Escolheram o nome?
Eles estavam conversando como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.
— Sim. — é minha irmã quem diz. — Marina.
O que?
— Não! Parem de conversar como se isso fosse normal! — exclamo. — Vocês não vão colocar o nome da minha mãe nesse... Nesse bebê!
— Eu disse chega Kiara! — diz papai levantando dessa vez. — Sua mae engravidou e teve que largar a faculdade. Seus pais morreram e não aceitaram e eu não vou fazer a mesma coisa com a Mille. Agora saia daqui e vá esfriar sua cabeça. Volte quando souber conversar como uma pessoa civilizada.
Meus olhos se enchem de lágrimas e eu viro antes que qualquer um deles possa ver. Caminho para fora rapidamente. Meu pai acabou de me expulsar. Me mandar embora. Em uma cidade onde não conheço nada nem ninguém. Desço as escadas correndo e paro do lado de fora perto do carro de Jonas. A primeira lágrima desse e as outras a acompanham.
— Ei? — uma mão toca meu ombro. Não me assusto. Sei quem é. Jonas.
— Por favor, só me deixa quieta.
— Vocês estão de cabeças quentes Kia. Ele não quis dizer aquilo e você também não.
Viro e encaro Jonas.
— Eu quis dizer cada palavra! Eu falei sério Jonas. Se não fosse por você... Papai e eu já passamos fome para bancar essa faculdade dela. E ela simplesmente joga a chance fora?
— Eu entendo que esteja nervosa, mas falar não vai mudar o fato de ela está grávida.
— Você viu o jeito que meu pai falou comigo? Ele Nunca tinha falado assim.
— Vocês vão se entender eu tenho certeza. — diz ele limpando minhas lágrimas com seus dois polegares.
— Eu sei que você já fez muito, mas eu posso ficar na sua casa? Por favor?
— Não é pedir muito Kia. Eu estou disposto a te ajudar, sempre. Só deixe eu ir chamar meu motorista.
Ele volta a subir as escadas do prédio e me escoro no carro. Pela primeira vez na vida achei que teria férias legais e felizes, mas pelo jeito tudo está do avesso. Jonas volta com seu motorista e entramos no banco de trás. Ele diz que avisou meu pai que eu estava vindo com ele e que ele já parecia arrependido de dizer aquilo.
— Kia? — viro a cabeça para olha-lo. Ele abre os braços e sorri. — Vem cá.
Arrasto-me pelo banco e me encaixo em seus braços. Coloco minha cabeça em seu peito sentindo seu coração bater. Jonas me abraça forte e eu controlo minhas lágrimas. Não quero chegar na casa da família dele com a cara inchada.
Por impulso levanto a cabeça e meus lábios roçam nos deles. Sei que o motorista poderia ver tudo pelo retrovisor, mas não consigo resistir a beijá-lo. Jonas me beija tão doce e calmamente que eu quase choro novamente. Tenho vontade de nunca mais sair daqui. Um arranhar de garganta nos afasta e só então percebo que o carro parou.
— Senhor Poullo chegamos — diz o motorista.
Envergonhada saio do colo de Jonas que apenas me lança uma piscadela e saímos do carro. A casa na realidade é uma mansão. Tem três andares, pilastras redondas na frente e a pintura toda harmônica em tons claros. Seguro para não ficar boquiaberta. Passamos pela portas duplas e já encontramos duas mulheres. Um tem os mesmos cabelos castanhos e olhos claros de Jonas e a outra deve ter a minha idade. Elas correm e o abraçam.
— Mãe, mana quero que conheçam a Kiara. — diz Jonas se afastando e colocando um braço sobre meus ombros. — Kiara essa é minha mãe Joana Poullo e minha irmã Juliana Poullo.
— Ei. É um prazer conhecer vocês. — digo sorrindo meio envergonhada. Não sabia que Jonas tem irmã. E essa é a família dos J.
— Então você quem conquistou o coração do meu filho? — pergunta Joana. Eu dou de ombros sem saber o que falar.
— Parece ser bem melhor que sua última namorada, mano. — diz Juliana.
— Ju nós não estamos namorando, somos amigos. Vou mostrar o quarto da Kia depois voltamos...
— Deixa que eu mostro! — exclama Juliana. — O de visita branco pode ser?
— Sim. Eu vou conversar com a mãe então.
Juliana segura meu braço e me puxa escada a cima. Ela me leva até um quarto com banheiro com cama de casal e todo branco, delicado como o resto da casa. Largo minha mochila na cama e sento. Juliana fica a minha frente sorrindo com os braços cruzados.
— Sério que você e meu irmão ainda não estão namorando? — Indaga ela.
— Somos amigos... Jonas nem tocou nesse assunto. — falo suspirando.
— Isso te incomoda? — pergunta ela sentando ao meu lado.
— Não é isso, mas toda vez que alguém pergunta sobre a gente ele foge do assunto e diz que somos amigos. Parece que ele... Não quer nada sério.
— Jonas se acostumou com o sucesso e não gosta de ser cobrado. Tenho certeza que ele gosta de você. Tenho certeza que não te traria aqui se fosse o contrário.
— Eu também gosto dele.
— Bom vou deixar você descansar. Às seis toda a família e amigos começam a chegar para a festa de natal. — diz ela.
— Festa? Mas eu não tenho nenhum vestido. Jonas não falou nada!
— Isso não é problema! Eu te empresto um. Podemos nos arrumar juntas! Já são quase três. Podemos comer algo e fazer um restinho de tarde da beleza. Topa?
— Iria ser demais!
— Então vamos.
Juliana tem um closet enorme. O vestido que ela usaria hoje à noite é de renda branco e ela deixou eu escolher entre todos os seus outros vestidos. Apaixono-me por um azul claro que bate nos joelhos com detalhes brilhantes e discretos.
Ele fica um pouquinho largo na minha cintura, mas nada que demais. Juliana tem praticamente o meu corpo e até calçamos o mesmo número. Ela queria que eu usasse um salto prata. Passamos uma hora treinando para que eu parar de andar com uma galinha choca em cima dele.
Depois disso ela me maqueia. Até porque se dependesse de mim eu iria sair parecendo uma palhaça, pois nunca usei maquiagem na vida. Ela diz que minha pele é muito mais clara então não daria para eu usar as bases dela e nem precisaca. Ela apenas faz os contornos do meu rosto com corretivo. Nós olhos ela faz algo que eu sempre quis: delineado gatinho e passa um batom rosinha.
— Meu irmão vai ficar louco! — exclama ela. — Agora vá para o seu quarto que ele vai te pegar lá!
Morrendo em cima daqueles saltos caminho até o meu quarto, pego meu celular que havia deixado aqui e sento. Há várias chamadas perdidas do meu pai e do namo Camille. Jogo o celular para longe e resolvo esquecê-los pelo menos hoje.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Além do Futebol [Completo]
RomanceConcluída! Kiara e o pai haviam conseguido um ingresso para o jogo da turnê beneficente do Alarco. Lá Kiara conhece um dos jogadores do time que a faz uma proposta inusitada: viajar com o time do Alarco nessa turnê fazendo o que ela sempre sonhou...