Capítulo 3

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Dias atuais...

Depois de me recompor das risadas e respirar fundo o ar frio da noite diversas vezes, consegui me livrar um pouco dos sintomas nervosos. Apenas senti um leve tremor ao me dar conta de que eu realmente estou de novo dentro do bar, pela segunda vez no mesmo dia.

Por que você fez isso, Julie?

Bem...

Eu nem pago mais entrada aqui.

Os donos já me conhecem e sabem que meus clientes diretos ou indiretos gastam horrores de consumo nesse estabelecimento.

Essa "parceria" começou desde meu primeiro fim de semana aqui. Eu paguei, entrei e sondei todo território. Não fiz programa com ninguém nesse fim de semana, mas no primeiro dia o Marcos já me sacou.

Ele não é nem um pouco inocente e está longe de ser confiável, mas é o tipo que te passa certo conforto com a proximidade. Não que eu goste de nenhuma proximidade, mas, a dele é tolerável.

Expliquei tudo a ele praticamente aos prantos, e fizemos um acordo, que ainda parecendo bom, é uma porra totalmente desonesta: Nos dias que definitivamente eu não pudesse fazer "sexo" com ninguém, eu ficaria aqui iludindo os otários em suas mesas, dançando, fingindo conversa, flerte, os fazendo consumirem muito, muito mesmo. Então, Marcos me pagaria de acordo por cada hora de show ilusório aos trouxas: 2 horas= 300 reais.

Mas isso raramente acontece agora, porque sua esposa está vindo sempre aqui e ela é uma cachorra ciumenta. Eu nem tento entender essas frescuras, sabe?
Então, adeus mordomia, Julie.

Às vezes me pego pensando por que Marco não me tem como garçonete... Eu fui persuasiva e soei desesperada para trabalhar com ele, mas, com certeza a esposa dele deve ter impedido isso, ou, vai ver que meu destino é ser essa puta de merda mesmo!

Nem sei porquê voltei aqui essa noite, eu nunca faço isso.

Sempre vou para casa depois do "primeiro e último cliente da noite". Isso foi uma regra que criei. Tipo, só sair com um cara por noite, uma tentativa de me fazer parecer mais humana e menos objeto.

Tentativa Fail!!!

Você deve estar se perguntando:
Como diabos essa Julie sobrevive se, ela só sai com um cara por noite, e sua hora é 150 reais? Exatamente, senhoras e senhores, eu não sou um anjo!
Tenho sempre calmantes na minha bolsa, entende? Pois bem, eu realmente não repito cliente, porém, existem uns que são menos "insuportáveis", e com isso, (às vezes recorro à ajuda dos universitários: calmantes em bebidas) tem os dias que posso passar três ou quatro horas com o mesmo cliente. Então, aí está:
4 horas = 600 reais. Bom né?

NÃO!

EU SEI QUE ISSO É EXTREMAMENTE NOJENTO!

Meu Deus!
Eu odeio isso!
Tenho nojo disso!

Eu só amo o dinheiro e minha geladeira cheia, apesar do constante vazio do meu interior.

Quem Eu Deveria Ser? (Não Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora