Capítulo 16

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Assistam o vídeo com tradução da música desse capítulo!
Story Of My Life - One Direction

Dias atuais...

A vida é engraçada, né?

Quando você pensa que as coisas estão ficando bem, que a merda está melhorando e enfim você começa a se sentir um pouco mais confiante, a porra da vida (ou destino) ri da sua cara e muda todo percurso da coisa, te deixando ridiculamente sem rumo.

Alberto Reynand.
Morto.
Há seis meses.

Ainda me lembro do último dia que vi ele quatro anos atrás.

Foi um péssimo encontro...

Ele estava bebendo em um bar de esquina no centro da cidade, usava óculos escuros e sua roupa era de uma marca cara. Faziam anos que eu não olhava na cara dele, mas o reconheci. Sangue é sangue, né?

Admito que tenho um nível de orgulho muito alto, muito mesmo, mas naquele dia eu senti vontade de falar com aquele traste. Eu segurei firme a pequena mão de Gabriel, ele fazia eu me sentir segura. Incrível, né? É. Assim sendo, me aproximei, coloquei Gabriel sentado no banco alto e o olhei sorrindo diabolicamente.

- Olá, excelência! Está me reconhecendo?

Falei com deboche. Muito deboche. Ele ficou pasmo. Olhou de cima abaixo para mim e Gabriel e depois balançou a cabeça negando.

- Sério mesmo? Que interessante!

Ele estava mudo.

- Cadê a sua mãe? ... deixe-me ver... ah sim, "minha avó"... como ela está?

- Bem.

Disse ele, engolindo seco.
Mas olha só o quanto o cara é ridículo! Não me conhece, mas responde minhas perguntas.
Eu poderia dar a ele de presente um nariz vermelho redondo de plástico igual aos que os palhaços usam.

- Certo. E... onde está?

Ele franziu a testa para mim.

- Seu carro. De Luxo. Cadê?

Eu acenei exageradamente com os braços ao redor fazendo uma cena.

- Cadê? Em? Tu não fosse no fórum pra dizer que era liso e não podia pagar pensão? Mas um caralho de carro de luxo tu pode comprar, né?

- Eu tenho quase 50 anos e não devo satisfação da minha vida para ninguém. 

Eu ri. E foi um riso totalmente amargo aos olhos dele.

- Sério mesmo? Incrível...
Só tenho uma coisa dizer, eu sei onde tu mora... e vou bater lá... e arrancar até teu último centavo.

Falei, dando batidinhas ameaçadoras em seu ombro.
Desci Gabriel do banco, dei as costas e saí andando.Ele continuou lá parado igual uma estátua de sal. Quando entramos no supermercado, senti Gabriel apertar minha mão sorrindo e sorri também.

- Que foi, Gabriel?

- Quem é aquele homem gordo?

Eu ri e pensei duas vezes antes antes de dizer:

- Aquele é meu pai, Gabriel. Ele é seu avô.

Gabriel me puxou para baixo para falar no meu ouvido com as mãos em conchas:

- Tu é muito braba, mamãe.
Ele tava com medo... de você.

Nós dois gargalhamos em pleno supermercado.

Eu tinha colocado Gabriel dentro do carrinho e me virei para pegar carnes no freezer, quando virei de volta, vi o vulto gordo em pé junto ao carrinho. Era ele.

Mas olha só... Se esse nojento encostar um dedo em Gabriel eu me agarro com ele aqui mesmo.

Eu desviei o olhar, quando peguei o carrinho para sair dali (sim, eu iria ignorá-lo totalmente) ele falou:

- Você que é Julie?

Esse cara tá de palhaçada comigo, cara! Não pode ser!

Eu dei mais um dos meus sorrisos venenosos.

- Não. Julie é minha avó...
Olha aqui, se quiser falar comigo tira essa porra de óculos e olha na minha cara! Não tem coragem?

Ele não tirou os óculos escuros. Frouxo!

- Sua mãe lhe contou a história?

- Qual história? A que você era muito novo e ela estrupou você e você não pode se defender? Ficou com ela contra sua vontade? Você era muito inocente para se defender sozinho porque só tinha apenas 25 anos? 25 ANOS! Era muito novo para ser a porra de um pai responsável? É essa a verdade?

Meu sarcasmo pingava. Então o inútil teve a ousadia de dizer:

- Onde está sua mãe? Faleceu?

Meu sangue ferveu.

- Lave o caralho da sua boca para falar da MINHA MÃE, seu filho da puta!

Ele cruzou os braços, mas sua mandíbula travada me dizia que ele estava nervoso, e muito. "Ela é pior do que eu" Ele deve ter pensado.

- Então você engravidou aos 15 anos e ninguém me disse nada?

- Você é humorista ou coisa do tipo, idiota? Ninguém te disse nada? Que maravilha! Eu quero saber qual foi a porra do dia que tu procurasse saber se eu tava bem de saúde ou não? Se eu tinha comida ou não? Se eu tava viva ou não? Deixa de ser ridículo, miserável!

- Eu não quero que você me procure! Nem eu, nem ninguém da minha família... minha mãe não é sua avó.

O cara merecia uma medalha de "Filho da puta". Olhei Gabriel e vi ele brincando distraído, então virei novamente para ele e disse:

- Ah, não me diga! Tu deve tá sofrendo de aminésia, né porra? Porque eu não lembro de caralho de dia nenhum que eu te procurei! Eu já te procurei? NUNCA. E pode ficar tranquilo quanto a isso porque entre eu e você, não existe nada. Afeto é uma palavra que é desconhecida para nós, entre eu e você... só existe uma porra de nome num papel que eu posso rasgar e ele não terá valor nenhum. Aliás, não tem valor, nunca teve. De você...

Eu o empurrei com o dedo em seu peito.

- Eu só quero a merda do dinheiro que me deve. Pague, e eu terei prazer de esquecer que você existe, otário.

Se isso fosse um desenho animado ele estaria soltando fogo pelo nariz. Ele me olhou, olhou Gabriel e depois olhou meu carrinho que estava cheio de compras.

- A torneirinha de dinheiro vai fechar.

Foi tudo o que ele disse. Virou e saiu bufando sem ter noção que esse seria o último dia que me veria.

Eu recebi o dinheiro.

E esse dinheiro, eu e minha mãe usamos para comprar nossa casa que vivemos hoje. É humilde, simples, velha, pequena, mas foi a melhor coisa que esse dinheiro poderia ter feito. Eu fiquei fora do ar por vários dias depois que soube da morte dele. Eu não chorei, mas senti muito por tanto tempo que foi perdido. Ele poderia ter sido um pai diferente, né?

Poderia.

Agora não pode mais.

E para surpresa de Alberto, seja lá onde for que estiver...

A tornerinha ainda não fechou.

Quem Eu Deveria Ser? (Não Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora