Capítulo 6

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Dias atuais...

A semana felizmente passou voando. Isso é um fato raro de acontecer. Às vezes, eu só tenho vontade de dormir por anos, e só acordar num patamar de paz que acredito estar 100% fora do meu alcance. Os dias parecem mais longos e torturadores. Tudo me irrita. Tudo me deixa triste. Tudo perdeu a cor e a graça.

É muito triste quando você chega ao ponto da vida que está exausto de nadar... E nadar... E nadar... E nenhuma superfície plana, concreta e com sombra fresca aparece. Você cansa, quase desiste. Ou, pensa na melhor e mais fácil forma de desistir. Bem, ainda não tenho essa coragem. Por enquanto, continuo boiando com o rosto fora d'água. Em contrapartida, falta-me fôlego mesmo assim.

Irei sobreviver?

Viverei de novo algum dia?

Bendito seja esse dia...

Tive tanta coisa para resolver (me rastejando pelas ruas como um zumbi sem cérebro) ao longo da semana que só agora me dei conta que o bosta do Marco não me procurou durante todos esses dias. O que é estranho. Sempre tem algum cara querendo algo, e ele me indica, em seguida me liga para escutar meu sim ou meu não. É um alívio, mas, o bolso esvaziou e isso não é nada bom.

Merda!

Hoje é sexta-feira, dia de ir para aquele lugar miserável de novo. Estranhamente, isso me faz lembrar alguém... Isso mesmo, senhoras e senhores: O Calça Preta!

Se eu disser que não pensei nele, eu estaria mentindo. Pensei, sim. Muito. Mas, ao decorrer da semana, tive tempo suficiente para chegar à conclusão de que eu exagerei demais naquele dia. Eu estava paranoica, à beira de uma crise ansiosa. Vai ver ele só queria sair comigo igual todos os outros, ou pensou que eu fosse alguém conhecido, ou qualquer outra merda... E eu fazendo tempestade em copo d'água!

Tão simples!

Não, não tem nada de simples.

Porque eu nunca vou esquecer o jeito que ele me olhou. Talvez eu não seja tão bosta, afinal. Talvez.

Bem, nesse momento estou aqui parada na avenida, debaixo de uma árvore, com os olhos marejados, olhando as nuvens em formatos de cavalos marinhos, máscaras, um homem de barba triangular, um pato... Enfim, esperando minha carona. Tive sorte hoje, Pedro me ligou dizendo que estava no meu bairro e se ofereceu para me levar para o inferno disfarçado de bar.

Eu fungo e limpo meu nariz com as costas da mão. Tento lembrar o porquê da tristeza. Bem, não existe esse porquê, só existe o vazio do vazio, que, apesar de não fazer sentido, dói pra caralho. Você não vê amanhã, você apenas tenta sobreviver àquele dia, um por vez, e nada mais. O passado foi cruel, o futuro é desesperador, e o presente é tão doloroso que chega a me paralisar. Minha mente em constante confusão, totalmente aflita, funcionando sobrecarregada, indo a lugares proibidos pelos quais não tenho controle, sem direito há 1 minuto pacífico ou uma pausa, presa a um corpo sem energia. É exaustivo.

Esfrego ainda mais o rosto para secar as lágrimas, assim que vejo o carro dele fazendo o retorno e vindo à minha direção.

- Olá, madame! Como vai?

- Madame? Sério?

- Tô só brincando!

- Pare.

Pedro ri e eu o olho pelo canto do olho.

Sério, qual a graça disso? Cara louco.

Ele vê que eu não estou de bom humor (se bem que eu nunca estou de bom humor) e se cala.
Chegando à bosta do bar, eu desço e agradeço.

Quem Eu Deveria Ser? (Não Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora