Fevereiro de 2005

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11 anos atrás...

Julie completou seus 13 anos.

Mesmo depois de tudo que já tinha passado, ela não se tornou uma Psicopata. Os transtornos de conduta presentes na infância pararam. Ela se encaixava na pequena parte desses casos em que poderia ser chamada de "exceção", ou poderia ter sido um "milagre".

Porém, isso não a deixou imune de um possível estrago. Bastava observar pela forma que ela vivia, à maneira "Autodestrutiva" e, aparentemente, nem sabia.

Julie se achava "adulta" para sua idade e queria provar a todos o seu ponto. Ela pensava demais no que os outros achavam dela, e de jeito nenhum queria ser rotulada como "criança". Mas, a verdade encoberta, era que ela ainda tinha um comportamento doentio para sua idade.

Os amassos com garotos ficaram mais frequentes. Atrás da escola, em praças desertas, casas ainda em construção... Garotos aleatórios. Às vezes, mais de um por dia. Certo, eram só amassos, sem relação sexual, mas mesmo assim era estranho, errado. Julie tinha um lema: Quanto mais, melhor!

Ela listava mentalmente por ordem cronológica todos eles. Houve uma semana que foram quatro. E ela não se importava nem um pouco se a chamassem de "fácil".

Apesar da grande quantidade de garotos aleatórios, Julie tinha o que rotulava de: ''preferido n°1''. O "preferido n° 1" se chamava Diego, 16 anos, olhos verdes, beijo maravilhoso. O mesmo que a batizou com o: "1º beijo e seu 1º esperma na perna da vida", e eles passaram a ficar sempre desde então. Principalmente, depois que ele se mudou para casa em frente à de Julie e passou a estudar na mesma escola.

De noite eles conversavam na calçada como amigos. Eles não demonstravam afeto em público. O melhor da noite só aconteceria mais tarde e não era da conta de ninguém.

- Tu vai entrar?

- Vou... Vou entrar e ficar lá dentro assistindo televisão. Quando minha mãe dormir eu apago as luzes, aí tu vai saber que é porque já tô vindo pra cá de novo.

- Beleza. Eu vou ficar aqui olhando e não vou trancar o portão.

- Não! Tu entra e fica no terraço pra ninguém te ver aqui fora e desconfiar, eu bato no portão. Tua mãe já vai tá dormindo né?

- Ela já dormiu. Relaxa. Vai lá, entra antes que tua mãe te chame aqui. Já são 22h05min.

- Beleza. Já já eu volto.

Julie fez o que disse que faria. Quando toda casa estava no completo sono, ela baixou a televisão, mas não desligou. Foi saindo na ponta dos pés sutilmente, como fazia quase todos os dias da semana. Foi até lá e bateu o portão que se abriu na mesma hora.

- Eita! - Julie tampou o riso com a mão.

-Tu estavas me vigiando no olho mágico?

- Estava. Lógico que estava! Eu tô seco aqui, já faz dois dias.

- Vem!

Julie entrou, Diego encostou o portão e eles seguiram para a lateral da casa. Diego se se encostou à parede com as pernas levemente abertas e pegou Julie pelos pulsos, puxando-a pra ele. Deu-lhe um abraço apertado, carinhoso até.

Julie gostava dele. Gostava de estar com ele. Ela não o amava, talvez nem fosse apaixonada, só gostava do momento, da companhia. Ele a fazia se sentir bem, e ela esquecia toda merda que já presenciou na vida quando estava com ele. Também tinha o fato de que Diego não julgava Julie, não a forçava fazer nada que não queria, não a pressionava, não falava dela pelas costas. Eles realmente eram amigos apesar de tudo.

Quem Eu Deveria Ser? (Não Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora