Fevereiro de 2005

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11 anos atrás...

Julie teve a sorte de estar de férias da escola.

Ela não queria ver ninguém, não queria falar com ninguém. Não foi fácil. Aquela noite atrás da escola seria uma ferida que ela nem sabia se um dia iria sarar.
Julie teve febre alta, delírios, calafrios. Sua mãe pensou que era uma virose ou coisa parecida, mas Julie havia ficado assim por outra razão, o seu psicológico.

Em casa as coisas eram difíceis, também. Tudo era motivo de briga entre Helena e sua avó. Elas eram como inimigas desde que Julie se entendia por gente. Maria casou com o avô de Julie por dinheiro, e não por amor. O casamento durou muitos anos, mas era vazio. Todo o amor que seu avô não tinha dado como marido, ele deu como pai para Helena. Ciúme eterno. Ficou claro agora? Pronto. Essa era a raiz de todas as brigas.

Julie não contou nada a ninguém e não quis receber visitas. Às vezes, de noite, ela espiava a casa de Diego pela janela da sua cozinha. Ele sempre estava lá. Alguns amigos dele vinham visitá-lo e ocupavam o lugar de Julie distraindo Diego. Já faziam sete dias que eles não se falavam e para surpresa de Julie, ela sentia saudade dele.

Ela desejou poder apagar o que tinha acontecido. Mas não podia. Seria fácil demais se pudesse, não? Ela o via olhando para sua janela, ansioso para vê-la. Ele raramente prestava atenção nos amigos ao redor. Ele definitivamente também sentia falta dela.

Uma noite, Julie estava sozinha na sala assistindo. Todos da casa já dormiam quando ela escutou um barulho no seu portão. Ela se enrolou com o lençol e foi espreitar o lado de fora. Quando Julie fechou a porta atrás de si que dava para o quintal, foi agarrada com força e teve sua boca tapada. Ela entrou em pânico. Tinha as chaves na mão e iria tentar rasgar o braço que a segurava ou qualquer coisa do tipo quando ouviu a voz no pé do ouvido:

- Julie, porra! Sou eu.

Disse ele sorrindo baixinho. Ela conheceu a voz, e sorrio pela primeira vez em 10 dias.

- Diego! Tu queres me matar de susto?

Ele a abraçou e foi levando-a para o vão que havia debaixo da escada.

- Mulher, o que deu em tu? Tua mãe me olhou meio torto quando perguntei, mas mesmo assim, me disse que tu estavas doente. Que porra é essa, Julie? Eu sei que tu mesmo doente nunca aguenta passar nem um dia trancada em casa.

- Eu estava doente, sim.

- Fala sério! Olha, escuta, eu estava com saudade de tu. Eu sei que eu sou escroto, boca suja, safado e sei lá o quê, mas pode me chamar mesmo quando tu quiseres só conversar. Eu gosto pra caralho de tu, Julie. O que foi que aconteceu?

Julie não iria contar a ele. Na verdade, jamais falaria isso para alguém. O orgulho não permitia.

- Ai, Diego! Deixa de exagero!
Eu só fiquei menstruada por mais dias do que o costume. Pronto, foi isso.

Julie mentiu. Diego olhou-a com ceticismo, mas segundos depois abriu um sorriso safado e abraçou Julie.

- Besta. Não acredito que tu me fizeste sofrer dez dias por isso!

Ele riu e fez Julie rir também.

- Amanhã eu vou lá, tá? Prometo.

Eles se beijaram e Diego foi embora para casa. Julie entrou e foi para o banheiro chorar.

Quem Eu Deveria Ser? (Não Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora