Junho de 2007

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9 anos atrás...

Julie nunca tinha apresentado um namorado em casa.

Christopher foi o primeiro.

A família de Julie acreditou nisso, e também acreditavam que foi ele quem tinha tirado a virgindade de Julie.

Julie não negou. Lógico!

Eles se viam todos os dias, e quando as coisas em casa ficavam insuportáveis, Julie dormia na casa dele. A mãe de Christopher dormia durante a semana no trabalho, e nos fins de semana vinha para casa, mas nunca permanecia em casa. Ele tinha duas irmãs que moravam em outra casa com o pai. A casa era praticamente só deles. Poderia ser melhor?

Poderia.

Ela nem sabia como, mas realmente se envolveu com ele.

Já faziam três meses que namoravam. Ele era carinhoso e também a chamava de bebê (às vezes, quase nunca). Julie aos poucos foi se afastando de todos seus amigos, até que só se viam por acaso pelas ruas do bairro.
Ela não fazia questão de amigos quando tinha Christopher para lhe proporcionar orgasmos e mais orgasmos.

Era uma pena, Julie não saber, que isso não era nem nunca seria o suficiente, e que na realidade, ela não conhecia nem metade do Christopher de verdade.

O que aconteceu foi o seguinte:
Julie não sabia, como sempre, que estava aceitando em sua vida apenas migalhas. Ela não sabia que aquela 'fuga' da guerra fria constante na casa da própria família, era o começo de um desastre pior, ou, continuando a metáfora, estava prestes a entrar numa 'segunda guerra mundial', assim por dizer.

Mas o que ela poderia fazer se era só isso que tinha?

Se era só isso que conhecia?

Se não tinha ninguém que lhe ensinasse um jeito melhor.

O jeito certo.

Sem ninguém para dar-lhe apoio emocional e financeiro?

Era uma pena.

Um dia, depois de muita discussão em casa, decidiu dormir, já como de costume, na casa de Christopher. Acontece que, durante toda essa noite, choveu muito. Certo. Nada de estranho até aqui. No dia seguinte, ela acordou às uma hora da tarde, tomou banho e disse a Christopher que iria em casa pegar algumas roupas. No entanto, quando chegou à casa da avó, sentiu todo o chão embaixo dos pés sumir.

A casa estava inundada.

Havia lama em todos os lugares, e a água suja e fétida chegava aos tornozelos. Ocorreu que, com a grande quantidade de chuva, os canais subterrâneos sobrecarregaram, e a água minou pelos ralos dos banheiros, inundando tudo.

Julie sentiu seu coração apertar, e uma repulsa tomou conta dela. Ela estava cansada dali e todo esse estrago material que seus olhos viam foi suficiente para firmar sua decisão. Ela era irremediavelmente impulsiva.

Sem demora ou hesitação, Julie subiu ao primeiro andar da casa onde os móveis tinham sido colocados, e encontrou sua mãe na varanda. Julie abriu os braços como quem quer dizer: que porra aconteceu aqui?

- Mãe... E aí?

À queima roupa. Sem rodeios.

- Estamos bem. Marie está na casa da vizinha, ela ficou assustada e eu a deixei lá.

- Cadê Ricardo?

Ricardo era o marido de Helena. Eles se conheceram no começo do ano e agora estavam morando juntos.

- Tá trabalhando. Ele veio aqui na hora do almoço e disse que eu ficasse calma que ele vai dar um jeito nisso.

- Sei. Olha, tenho uma coisa pra te falar... É... Eu não quero mais morar aqui. Tô levando minhas coisas para casa de Christopher.

Julie falou isso sem olhar Helena nos olhos.

- Quando foi que surgiu essa ideia, Julie? É muito cedo. Tem certeza?

Julie a olhou.

- Tenho. Tô cansada dessa merda, mãe.

Helena suspirou fundo e seus ombros desabaram.

- Eu não vou te impedir, Julie. Se tem uma pessoa que sabe como é péssimo viver nesse inferno de casa, sou eu. Eu vejo você e Christopher juntos, parecem que se amam. Ele é louco por você, não é? Então, se é isso que você quer...

"Parecem que se amam"...

As aparências enganam.
Pensou Julie.

Julie levou aos poucos suas coisas para casa de Christopher. Ela estava satisfeita. Pelo menos por enquanto...

Quem Eu Deveria Ser? (Não Revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora