Não Chore Por Mim

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O Regente tragou o charuto, pôs a fumaça para fora e respirou fundo. Vestiu seu casaco e saiu do banheiro. Atravessou a quadra do ginásio decadente enquanto sua mente se ocupava de tantas preocupações. Cuidar de Karcosa após o massacre estava sendo duro, e se ele perdesse as rédeas por um instante tudo estaria entregue. Abriu a porta do ginásio e saiu, foi até o pátio, na quadra exterior de concreto. Olhou para as cestas de basquete iluminadas pela lua e pelo tom amarelado dos postes da rua ao lado. Havia uma bola no chão, ele juntou com suas mãos e arremessou na cesta. Errou.

-Definitivamente não é o meu dia.

Deu as costas para a cesta e olhou para a lua, lembrou-se do seu brilho pálido refletido no lago de Hali em outras épocas. Puxou um estojo do bolso e acendeu outro charuto.

-Karcosa está sendo difícil para você Aly. - disse uma voz na escuridão.

O Regente reconheceu a voz e saudou seu velho amigo.

-Há quanto tempo Vin.

-Muito tempo Aly. Problemas com o Lobo?

-Quem me dera fosse só o Lobo que me trouxesse problemas. Lágrima parece ter escapado do Exílio.

Vin ajeitou o chapéu na cabeça. Era um homem de grande estatura, possuía uma barba de respeito e uma face intimidadora. Usava um sobretudo marrom que chegava aos pés. Era velho amigo de Alyoth, apesar de Aly ser muito mais velho em relação a Vin, que por sua vez era um mortal.

-Lágrima? A Fazedora de Viúvas? - Perguntou Vin.

-A própria.

-Acredita que ela está em Karcosa?

-Recebi uma carta. Deve estar enfeitiçada, pois não consigo ler. Mas conheço a marca de Lágrima, a carta possuía seu selo.

-Crê que ela mesma tenha entregado a carta?

-Não sei. É uma longa viajem do Exílio até aqui. Talvez ela tenha fugido a alguns séculos. - Falou ele, pensativo.

-Já falou com o pombo?

O regente deu um sorriso.

-Acredita que o pombo tenha me entregue uma carta de Lágrima? - Pareceu surpreso.

-O Pombo que entrega as mensagens por aqui, não é? - Sugeriu Vin. Alyoth pareceu pensar no caso.

-Tenho poucas suspeitas do Pombo, mas não custa investigar. Obrigado Vin. - mudou de assusto - Mas, o que faz em Karcosa?

-Tenho negócios a acertar com o Bardo.

O Regente pareceu divertir-se.

-Mais uma de suas canções difamadoras?

-Não dessa vez. Mas ele tem uma canção que me interessa. Quero comprar os direitos.

-Boa sorte na barganha com o Bardo. Ele deve estar no King's Pub a uma hora dessas.

Vin agradeceu com um aceno.

-Nos vemos por aí, Aly. Boa sorte com Lágrima.

-Até Vin, obrigado.

Após seu amigo deixar a quadra, Aly respirou fundo, soltou o fôlego e vestiu seu capuz. Era hora de ver o Lobo.

Crônicas de KarcosaOnde histórias criam vida. Descubra agora