A Rompedora de Gerações

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Desenterrava a espada do ventre de seu inimigo, enquanto preparava um golpe certeiro no torso de outro soldado. O sangue espirrou em seu rosto quando o atingiu, fazendo com que por um segundo enxergasse ao seu redor.

O cenário era de guerra, uma guerra sangrenta e ao mesmo tempo espetacular. Podia-se ouvir o som de espadas se chocando entre si e sendo cravadas na carne. Via-se o brilho de feitiços sendo lançados, atravessando o campo de batalha e dilacerando os alvos. Alguns eram de controle, paralisando suas vítimas para que os soldados de infantaria finalizassem o serviço, outros, de destruição,  incinerando e arrancando as almas dos inimigos.

A maioria dos feiticeiros dos Northum eram necromantes, que aproveitavam os mortos da guerra para fazê-los levantar e lutar ao seu lado. Torturavam e destruiam as almas dos Rutsah's, que não largavam a espada até que o último deles estivesse no chão.

O General Alyoth retomou a postura e partiu para o próximo abate. Portava uma espada longa, sua velha companheira, a Rompedora de Gerações, com a qual já havia lutado em outras batalhas. A espada azul clara, cintilante, foi forjada no fundo dos Mares Fulgorantes, um lugar hoje extinto, mas na época conhecido como um dos mares mais perigosos de todas as dimensões. Esse reino era dominado por seres aquáticos perversos, detentores da antiga magia Deatk, capaz de aprisionar a essência de seres vivos em objetos. Como o General conseguiu adquirir essa espada? Isso já é outra longa história.

Seu sangue fervia enquanto rasgava seus inimigos com a espada. Era um guerreiro experiente e voraz, e possuia uma força descomunal.

Eliminou outro inimigo com um golpe, e apanhou uma lança do chão, arremessando-a imediatamente em uma mantícora, que preparava um rasante na sua direção. A lança perfurou o peito da criatura, derrubando-a junta do soldado que estava montado nela.

Ele olhou entre a multidão de soldados e viu uma mulher, que usava uma túnica de veludo cinza, era familiar. Ela dizia algo, mesmo que não mechesse os lábios, falava em seu subconsciente. Vai precisar dela, sabe que vai. Quando enfim ele a conheceu. Agatha! pensou desesperado, mas foi tarde demais. Uma flecha  atingiu a mulher no peito, e ela se desfez como areia no deserto. O guerreiro caiu de joelhos, e a última coisa que pode fazer, foi olhar para sua espada no chão, brilhando com uma cor azul claro e com traços rubros do sangue dos inimigos. Sua visão ficou embaçada. Alyoth acordou logo em seguida, e percebeu que o sol ainda não havia nascido.

Os companheiros dormiam, inclusive Vinny, que estava deitado junto a uma árvore, recostando-se no tronco. Pensou em acordá-los, mas desistiu da ideia. A brasa da fogueira estava se esvaindo, ele mecheu no monte de cinzas e madeira com uma vara, e assoprou-a, fazendo com que voltasse a brilhar novamente.

Olhou para o céu, devia ser por volta de cinco horas da manhã,  e o sol ainda não tinha aparecido. O firmamento estava preenchido de estrelas, que cintilavam na escuridão da noite. Ele sabia o nome de cada uma delas, e também das constelações, não como os humanos conheciam, mas sim, como um ser além da compreensão e ciência do homem.

Estava pensativo, silencioso, mas não como sempre era. O sonho o havia deixado apreensivo, era um sinal. Um dos amigos acordou, era Bardo.

-Droga - disse ele - queria dormir mais.

Aly sorriu.

-Acho que não vamos ter muito mais tempo para dormir agora, melhor acordar o resto. - Respondeu, se levantando e caminhando até o carro.

Estavam no topo de uma colina, uma espécie de planalto. Haviam algumas pequenas árvores por perto, das quais eles apanharam a lenha, mas o terreno era bem escasso. Era longe de Karcosa, mas era possível ver a cidade da beira da colina. A visão do céu noturno era espetacular daquele pico.

-Acorda ai, Tempestade - Bardo cutucou Lenon com o pé - vamos partir em alguns minutos.

O mago despertou vagarosamente, exaustão definia bem o estado dele naquela manhã. Vin continuava escorado na árvore, com seu chapéu cobrindo o rosto.

-Tô morto. - O mago sabia resumir bem os sentimentos.

Aly olhava o porta-malas do carro, verificando os suprimentos que possuiam e calculando por quanto tempo aquilo aguentaria. Esses caras se alimentam bem, pensou, percebendo que em um dia teriam que ir as compras. Gostaria de poder resolver os problemas o mais rápido possível, mas ainda tinha que resgatar a filha de Vin, e proteger o Bardo de Lágrima, sem contar a morte de Gálio, sua coruja.

-Para onde vamos hoje? - Perguntou o Bardo, chegando ao lado de Aly e apanhando uma garrafa de cerveja do porta-malas.

-Lenon - chamou Alyoth - acorde Vin, hoje vamos buscar Elise, e uma velha amiga minha.

-Amiga? - Questionou Lenon.

-Sim, uma amiga que me foi útil por muito tempo, mas preferia não ter de buscá-la novamente.

Crônicas de KarcosaOnde histórias criam vida. Descubra agora