Descansavam e refletiam em torno da fogueira. Alguns estavam exaustos pela correria da noite, e já haviam deitado e se aquietado. Lenon, principalmente, a energia usada para conjurar o Reino Gelado havia esgotado suas forças.
Vin permanecia sentado, olhando para a fogueira. Vários pensamentos lhe vinham na mente, uns mais deprimentes que outros. Onde ela deve estar? Pensou. Enquanto lembrava dos últimos momentos que teve com Elise. A discussão devia ter causado tudo, Vinny tinha sido severo com a garota, como sempre fora. Mas dessa vez ela pareceu profundamente magoada.
Ele empunhava um graveto, que mergulhava no fogo e retirava em seguida, observando arder em chamas. Sacou um maço do bolso e retirou um cigarro, acendendo-o no fogo.
-Merda! - Disse para si mesmo, colocando o cigarro entre os dentes e tragando a fumaça.
Se culpava pelo sumiço dela, e não estava errado em pensar isso. Sempre cuidou bem da garota, a protegia. Seu passado não ajudava em nada na segurança de sua família, mas ele era capaz de qualquer coisa se algo acontecesse a sua única filha. Lembrou-se da esposa.
-Lilian... - Disse em voz baixa.
Uma voz interrompeu seus pensamentos.
-Não tem sido fácil para você também, velho amigo. - Era Alyoth, deitado no chão, olhando para Vin.
O homem tragou novamente o cigarro, e baforou no ar, como alguem que se liberta de algo ruim dentro de si. Tinha uma história longa com o cigarro. Começou jovem, sua adolescência conturbada não lhe dava opções melhores para desestressar.
-Preciso encontrá-la, Aly. É a única pessoa que me restou. - respondeu finalmente.
O amigo se pôs sentado, observando a fogueira.
-Se quiser deixar o grupo, Vin, eu entenderei.
Jogou o cigarro para o lado, e sacou outro do maço. Fazia isso quando estava ansioso.
Quando Vin se casou, parou com o vício. Sua vida se organizou por um curto período de tempo, que ele pretendia que fosse eterno. No entanto, após a perda da esposa, tudo voltou, não como era antes, criminoso e marginal, mas vingativo e sanguinário.
-Não pretendo deixar vocês agora. Acho que consigo encontrá-la mais rápido com sua ajuda, porém, quando achá-la, terei que ir. - Acendia o outro cigarro na fogueira.
-Compreendo perfeitamente.
-Acha que eu era duro com ela? - Perguntou, pesando a consciência.
-Sempre foi um cara durão. - brincou Alyoth - Mas acho que era justificável. Goutville não era um lugar tão amável para se deixar uma garota livre. E seu trabalho comprometia a segurança dela.
Ele pensou por um momento, até que Alyoth voltou a falar.
-O que lhe trouxe aqui? Por que não pensou que poderia ser algum de seus rivais que haviam sequestrado ela?
-Não eram... - ficou em silêncio por alguns segundos - Eu matei todos, um por um, e eles não confessaram.
Aly conhecia o amigo, sabia que não brincava quando dizia aquilo. Não era o tipo de herói que tinha piedade de seus inimigos.
-Então veio atrás do Bardo?
-Do Bardo, e de ajuda. Da sua ajuda. É um dos poucos amigos que tenho.
Alyoth se comoveu, pois sabia que era verdade.
-Pode contar comigo, irei te ajudar a encontrá-la, prometo. - Eram muitas preocupações para Aly, mas a garota também era uma urgência.
-Durma, Alyoth. Conversamos pela manhã. - Aconselhou Vinny, parecia mais aliviado.
O Regente concordou com a cabeça, e despediu-se do amigo. Deitou-se e adormeceu pouco tempo depois.
Vin permaneceu olhando a fogueira, vendo as chamas dançarem. Lembrava-se da esposa, da festa de casamento, em que dançavam juntos. Lembrou da filha, tão pequena e inocente, e de como havia crescido rápido. Não sabia onde ela estava, mas sabia que a acharia.
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Crônicas de Karcosa
FantasyTensões no universo mágico acontecem enquanto Alyoth, o Regente, busca resolver os mistérios da estranha cidade de Karcosa, se envolvendo em intrigas com criaturas mágicas pouco confiáveis, e desafiando seres inominaveis para manter o equilíbrio mág...