O Retrocesso

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Esperaram dentro do apartamento de Louis, na sala principal, não muito grande, com dois sofás, uma mesinha de centro com um vaso de flores artificiais empoeiradas, uma TV de tubo e uma estante de livros dos mais diversos tipos. Havia também uma janela próxima a TV, que permitia a entrada da luz exterior. Lenon já conversara com Louis sobre o que pretendiam investigar, deixando-o consciente de como proceder com o Retrocesso. Estavam sentados nos sofás, com exceção de Vin, que se encontrava de pé em frente janela, continuava tenso, pensativo.

- É perca de tempo - disse ele - poderíamos ter continuado lá e procurado mais pistas.

- Não valia a pena, o lugar estava infestado de magia, o frasco que encontramos certamente não era a única proteção das evidências. - Lenon se pronunciou.

- Lenon tem razão - interveio Alyoth - iríamos ficar tempo o suficiente para alguém chegar ali e nos questionar.

Bardo permaneceu calado, parecia preocupado com alguma coisa. Levantou-se e foi até a estante de livros, observando os títulos na lombada de cada um deles.

- Não estou me sentindo muito bem, preciso pegar um pouco de ar fresco. - Disse finalmente.

- Tudo bem, aguardaremos aqui. - Respondeu Lenon ao cantor.

- Não esquentem, podem começar sem mim. - Abriu a porta e saiu pelos corredores do prédio.

Alyoth estava curioso. Possuía algumas teorias sobre o ocorrido no bar, mas certas coisas ainda não se encaixavam perfeitamente. Como a lista de Lágrima, a razão que a levaria a matar os próprios Northum dessa vez, o nome de Bardo na lista, e a presença de Elise no bar. Talvez o Retrocesso pudesse ajudar em algumas coisas, segundo o que Lenon os havia explicado logo que entraram no apartamento do mágico.
Uma possível tentativa de golpe por parte dos Northum era esperada, mas o que deixava o general intrigado era o porquê de Lágrima retornar para matar seus próprios clientes, quebrando seu pacto de imortalidade com os Lua Sangrenta.

- Olá, rapazes. - ouviu-se a voz do mágico surgir do nada, junto com ele próprio, escorado no marco da porta que levava a um dos quartos - Podemos começar?

- Sim, mas acho que devemos aguardar o Bardo. - Sugeriu Lenon, porém Vinny contestou.

- Não temos muito tempo para esperar pela boa vontade do Bardo, vamos logo com isso.

- Muito bem, - disse Louis - de qualquer forma não posso levar a todos vocês juntos no Retrocesso.

Vin fez uma cara feia ao ouvir aquilo, porém não comentou nada.

O mágico foi até o centro da sala, arrastou a mesinha de centro com as flores artificiais empoeiradas para o canto do cômodo, e pediu para que lhe ajudassem a afastar os sofás também. Feito isso, delimitou um círculo no chão da sala, com um pedaço de giz, foi até um quarto e pegou uma câmera, com um tripé de suporte, ajustou-a para que filmasse a cena. Lenon havia esclarecido aos amigos que a magia de Louis funcionava com certas exigências, pois era preso a algumas manias de mágicos humanos, como trocados, aplausos e câmeras, o que funcionava como combustível para seus truques, por isso ninguém questionou a câmera. Voltou para o centro da sala e riscou gravuras ao redor do círculo, runas que Alyoth identificou como Fknar'rianas, uma antiga raça amorfa extinta que dominava a magia temporal.
O mágico pôs o frasco com o brasão numa das extremidades dos círculos, e espalhou por outras regiões das bordas, uma cartola, um relógio de bolso, e um amuleto de pingente globular acinzentado.

- Há alguma coisa que queiram levar consigo? Algum item em específico?

- Precisaremos de alguma coisa? - questionou o Regente.

- Talvez precisem, o Retrocesso é uma magia perigosa, não só voltaremos no tempo, como estaremos em uma dimensão paralela a essa. Um lugar onírico onde podemos encontrar de tudo.

Alyoth foi até o canto da sala, e desenrolou sua espada, levando-a e entregando nas mãos do mágico, que fez um gesto positivo com a cabeça e a colocou em uma extremidade do círculo.

- Bem, agora resta-me saber quem vai comigo. - disse Louis.

Os homens se entreolharam, até que Lenon se manifestou.

- Acho justificável que Vin vá, aliás, sua filha pode estar envolvida de alguma forma nesse incidente. Porém não acho sensato levá-lo sem que ele tivesse alguma experiência parecida outras vezes.

- Creio que eu tenha direito de ir sim. É uma viagem rápida, você mesmo falou quando chegamos. - Retrucou asperamente.

Alyoth observou a situação e expôs sua opinião.

- Acho que ambos têm sua utilidade na viagem, mas visto que Vin tem uma filha envolvida, creio que tenha mais direito.

- Como quiserem. - Disse Lenon, sem ressentimentos.

O mágico os chamou a atenção antes que entrassem no círculo.

- Permaneçam atentos, é difícil algo grave acontecer nessas viagens, mas sempre há um risco. Coloquei esses itens nas beiras do círculo para nos auxiliar na volta para casa. O amuleto indica a porta de saída, o chapéu nos protege da loucura, e o relógio nos traz de volta ao círculo. Caso precisem de algum deles, peçam a mim. A viagem deve ser rápida, viajamos até o ponto que precisamos, vemos o que aconteceu e retornamos. Entendido? - olhou para Vin e Alyoth, que concordaram com cabeça - Certo, entrem no círculo e se concentrem.

O mágico pegou um maço de cartas e segurou em sua mão da mesma forma que havia feito anteriormente para chegar ao apartamento, só que dessa vez ele proferiu estranhas palavras enquanto deixava as cartas deslizarem por seus dedos e circundavam os homens em uma velocidade incomum.

- Neli, ftaghan nkkl'al, abmos, tkkelli aklo tysul...

Crônicas de KarcosaOnde histórias criam vida. Descubra agora