-Quer dizer que meu nome está na lista de vítimas da Lágrima? - Questionou Bardo, muito interessado no assunto.
-Sim. E pelo que percebi, ela já matou alguns dos nomes da lista, você parece ser o próximo. - Respondeu Alyoth, com a seriedade de sempre.
-Interessante... - Disse ele, coçando a cabeça.
-Ela assassinou Frank, ex-vereador de Karcosa, e o nome dele também estava na lista.
-Que loucura caras! - Interveio Lenon, espantado. Ele parecia um pouco engraçado daquele jeito, os olhos arregalados por trás daquela barba e cabelos grandes, olhando para os dois.
Eles estavam sentados na sala de Lenon, e o pequeno casebre não era tão pequeno por dentro, quanto era por fora. Devia ser algum tipo de magia, parecia praticamente uma mansão.
-Acho melhor fechar as cortinas. - Alertou Alyoth, ao ver o brilho se aproximando.
Lenon levantou-se do sofá, foi até a janela, desviou os olhos da luz e fechou as cortinas.
Para os terrenos, aquela cor amarelada que a lua refletia em determinados dias do ano, não significava nada. Mas para os viventes do mundo mágico, as luas tinham muita importância. A lua amarela, da qual os rapazes procuravam escapar naquela noite, era a lua mais temível de todas. Os que costumam se banhar na lua amarela são criaturas desprezíveis e corruptas, ou se tornam depois de certo tempo banhando-se no seu brilho mortal. Coisas terríveis também costumam acontecer à sua luz. Assassinatos, traições, e toda sorte de coisas profanas e destrutivas, isso se aplica também ao mundo dos terrenos, que não se dão conta do fenômeno.
-Mas por que Lágrima iria querer a vida do Bardo? - Perguntou Lenon, enquanto voltava para o sofá.
-Minha beleza, talvez. - Sugeriu.
Um ruido se ouviu, vindo do quarto dos fundos.
-Acho que a bela adormecida acordou. - Zombou o cantor.
Vinny apareceu na porta do quarto, de frente para a sala. Parecia o reflexo de um gato morto. Todo desajustado, sangue seco no rosto e nas roupas, estava em péssimo estado, pior do que o normal.
-O que você fez comigo? - Disse ele, com a voz rouca, enquanto vinha se arrastando para a sala.
Sua perna esquerda parecia estar machucada, pois ele mancava.
-Te dei uma surra. - Respondeu o Bardo, com um sorriso.
-Onde estamos? Aly? Quem é esse mendigo?
-Opa, prazer, eu sou Lenon. - Se levantou do sofá e foi até Vinny, estendendo a mão.
Retraiu o braço ao ver que Vin não ia apertar sua mão.
-É um velho amigo meu, - interveio Alyoth - tive que lhe trazer para cá junto, você estava impossibilitado.
-Elise, Bardo. Onde ela está? - Perguntou furioso.
-Eu. Não. Sei! Seu maluco. - Respondeu pausadamente.
Vin quis partir pra cima, mas não tinha forças, o máximo que fez foi se desequilibrar e cair escorado numa poltrona vazia.
-Enfim. - Disse ele, cansado. - Por que estamos aqui?
-Lágrima está solta, a carta dela era uma lista. Ao que parece uma lista de vítimas, e Bardo está nessa lista.
-E onde eu entro nessa história?
-Você pode ir pra casa depois disso, só tive que te tirar do bar. - Respondeu Aly, um pouco chateado.
-Ahh que droga, Alyoth. - Resmungou Vin, parecia ter percebido algo que não lhe agradou. - Eu perdi meu voo. Alguém tem um telefone por ai?
-Aqui não tem energia, nem sinal de telefone. - Explicou Lenon. - Lamento.
Vin pôs as mãos na cabeça, bagunçando os cabelos e pensando.
-Enfim, Alyoth. - Disse ele depois de refletir sobre algo. - Qual é a confusão com a Lágrima? Sei o que ela fez, mas quem é ela afinal?
-Ninguém sabe. É certo que ela fazia parte dos Lua Sangrenta, uma legião de assassinos místicos, contratados para qualquer tipo de serviço de assassinato. Mas seu paradeiro, da onde veio, ninguém sabe dizer.
-E não desconfiam sobre quem a contratou para matar o Conselho naquela vez?
-Os Lua Sangrenta tinham um pacto com o Conselho. Não poderiam tocar em nenhum membro. Era um contrato, e eles não podem romper um contrato.
-Por que?
-Porque eles morrem. - Disse o Bardo.
-Não necessariamente morrem. - explicou Aly - Somente deixam de ser imortais, mas cremos que eles nunca correriam esse risco. Os lideres dos Lua Sangrenta disseram que Lágrima é uma renegada, e agiu por conta própria. Mas não podem revelar de onde ela veio, eles tem um pacto pra isso também.
-Então quer dizer que eles também estão atrás dela? - Supôs Vinny.
-Não. Dizem que ela já teve o castigo de perder a imortalidade, e cedo ou tarde, sua morte chegaria.
-Por que não contrata eles para matarem Lágrima então?
-Não podem matar alguém que já foi de seu sangue. Os que se banham na lua vermelha. - Dessa vez foi Lenon que respondeu.
-Que saco. - Recostou-se na poltrona novamente. - Mas, mesmo assim, acha que ela agiu, ou está agindo por conta própria?
-Não posso ter certeza. Os Northum, classe oposta já há muito tempo a nós, Rutsah's, podem muito bem ter ordenado nossa morte. Eles ficaram com o domínio de algumas cidades sem líderes Rutsah's, após o massacre. - Disse Aly, pegando uma xícara de café sobre a mesa de centro.
-Existe outros grupos então? - Perguntou Vin, curioso.
-Sim. Os principais são os Rutsah's e os Northum. No tempo da caça as bruxas, nós, viventes místicos éramos caçados e queimados em fogueiras, e obviamente, não estávamos contentes com isso. Surgiu então duas frentes, os que queriam se rebelar e tomar o poder dos mortais, e nós, que decidimos não derramar sangue e vivermos discretamente entre os humanos. - Deu um gole. - Houve então, uma guerra entre nós mesmos.
-A Guerra de Pääkallonpaikka - Disse o Bardo.
-Apagou uma cidade inteira da história. - Continuou Lenon. - Só é lembrada por nós, seres místicos, mas foi uma das guerras mais grandiosas que esse mundo já viu.
-Só por isso? - Vin parecia um pouco inconformado.
-Era nosso povo, ou o seu. Você só está vivo hoje graças aos Rutsah's. E ao Alyoth... - Disse Lenon.
Aly abaixou a cabeça.
-Vamos lá, Aly, você é um herói cara. Foi irado o que você fez lá. - Lenon deu um tapinha no ombro de Alyoth, tentanto animá-lo.
Ele estava sendo sincero, achava realmente heróica a atitude de Aly na guerra, porém Alyoth não pensava o mesmo. Se sentia culpado.
-Desculpe, Alyoth. Eu estou aborrecido. Desde que Elise desapareceu, tenho andado estressado. Ela é a unica coisa que tenho. - Disse Vin.
-Vai encontrá-la,Vin. Tem ideia de onde ela pode estar? - Perguntou o amigo.
-Tinha, mas começo a acreditar no Bardo.
-Woow! Até que enfim! - Ironizou.
-Bem, acho melhor descansar-mos essa noite, - sugeriu Alyoth - podemos dormir aqui, Lenon? Se não se importar.
-Claro, são bem vindos na minha casa!
O Bardo e Lenon encontraram seus aposentos, e se recolheram. Vin decidiu dormir na poltrona onde estava, e Aly ficara no sofá da sala, conversando com o amigo até que dormissem.
Alguém procurou por Bardo naquela noite, no King's. Uma mulher, grandes cabelos castanhos, olhos claros, portando lâminas curvas em forma de meia-lua. Os donos explicaram a confusão, para se livrar da suspeita visitante. Ela deixou o King's de mãos vazias naquela noite, mas só por aquela noite.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas de Karcosa
FantasyTensões no universo mágico acontecem enquanto Alyoth, o Regente, busca resolver os mistérios da estranha cidade de Karcosa, se envolvendo em intrigas com criaturas mágicas pouco confiáveis, e desafiando seres inominaveis para manter o equilíbrio mág...