O Covil dos Renegados

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Sentado sobre uma pedra na boca da caverna, a luz do luar banhava o Lobo, que sorriu ao sentir um aroma familiar se aproximando na estrada. Correu morro acima para observar o visitante, que caminhando, adentrava os pastos da propriedade do Lobo.

-Já esperava você por aqui. - Gritou o Lobo.

-Sério? Eu não esperava. - Alyoth subia uma inclinação caminhando ao encontro do Lobo.

O Lobo observou o visitante até que chegasse perto o suficiente.

-O que busca em meus pastos? - Perguntou, com um tom de ironia.

-Não posso fazer uma visita?

-Você só vem quando dá merda. - Bufou o Lobo.

-Quando você faz merda. - Corrigiu o Regente.

O Lobo encarou Alyoth, mas não pareceu intimidá-lo. O Regente se sentou do lado do Lobo e olhou para a lua.

-Sei que sente saudades daquela época Varus, mas tudo mudou, não funciona mais assim.

-Por que acha que sinto falta? - Questionou o Lobo.

-Você continua agindo como uma criança rebelde. Aceite que tudo mudou, esse mundo não é mais nosso, Varus. Temos que nos controlar.

-Eu sou um Lobo, Alyoth. O que espera que eu faça? Pare de matar?

-Você sabe que não deve matar os terrenos. Vem me dando esse trabalho a muito tempo.

O Lobo rosnou.

-Acabaria com você Lobo, se tivesse a chance.

-Você tem a chance Alyoth, vai em frente, acabe comigo. - Desafiou o Lobo.

Alyoth se pôs de pé. E quando seu sangue começou a ferver, sentiu uma estranha sensação. O Lobo pareceu compartilhar o mesmo sentimento. Os dois olharam para uma mesma direção, para os pastos escuros do território do Lobo.

-Está esperando alguém? - Perguntou o Regente, sem tirar os olhos da escuridão dos pastos.

-Não. Pensei que você tivesse trazido companhia.

Alyoth saiu correndo no mesmo momento em direção ao escuro, atravessou uma área coberta de pinheiros e desceu uma íngreme inclinação que levava à beira de um riacho. A luz da lua refletia seu brilho nas aguas turvas do riacho, e ele se lembrou do seu reflexo no lago de Hali.

Algo estava acontecendo ali perto. Aly se aproximou da beira do riacho, agachou-se e olhou para a água, que corria constante. Respirou fundo. Concentrou-se o máximo para discernir a situação, até que sentiu algo tocar as águas turvas do riacho. Era uma gota de água. Uma gota somente. Ouviu um gemido vindo de cima e avistou pendurado em um galho de árvore acima de sua cabeça, um homem com a aparência de um indigente. O galho atravessava seu peito, mas parecia estar vivo ainda.

Alyoth subiu na árvore e se aproximou do homem moribundo, sangrava como um porco no abate e parecia querer balbuciar alguma coisa. O Regente chegou mais perto, e viu o selo em sua testa. "Lágrima" pensou ele. Olhou na face do indigente e o reconheceu.

Frank Albertin, ex-vereador de Karcosa. Era mortal, mas tinha conhecimento do mundo místico, tanto que auxiliou os Rutsah's na instauração do Conselho na cidade. E justamente por isso nunca mais conseguiu se eleger. Foi dado como louco e sumiu da cidade depois de um tempo

-Frank? - Chamou o Regente.

O homem abriu os olhos, viu Alyoth e se contorceu no galho. Aly puxou o envelope de seu bolso, abriu a carta e pôs abaixo do rosto de Frank. Uma lágrima rolou de seus olhos, era a única coisa que ele poderia fazer naquele momento. Escorreu pela sua face e barba, e atingiu a carta. As letras surgiram na correspondência e o Regente teve certeza. Lágrima estava à solta.

Crônicas de KarcosaOnde histórias criam vida. Descubra agora