A Cor que Veio do Espaço

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Alyoth acelerava o Gran Torino o mais rápido que podia, estava de fato, desesperado. Conhecia Bardo há muito tempo, e indiretamente eles se tornaram amigos. Quando viu seu nome na carta de Lágrima saiu direto ao encontro do músico.

-Pra onde estamos indo? - Perguntou o Bardo, encucado, enquanto verificava se Vinny ainda estava desmaiado no banco traseiro.

-Explico quando chegarmos. - Respondeu Aly, sério, olhando se a pista estava livre para ultrapassar.

Pareciam se dirigir para longe do centro de Karcosa. Num lugar ainda asfaltado, mas sem casas ao redor.

-Por que discutiram? - Aly perguntou, sem tirar os olhos da estrada.

-Que?

-Você e o Vinny. Por que brigaram no King's?

-Eu sei lá. O cara é um psicopata, me atirou uma taça de bebida na cabeça no meio do show.

-Ele me disse que tinha assuntos a tratar com você. - Confrontou.

-Assuntos... - bufou - ele acha que eu sequestrei Elise, ou algo assim.

-Por que pensaria isso? - Pareceu bem interessado no assunto.

O Bardo permaneceu em silêncio por algum tempo.

-Eu tive um caso com Elise há algum tempo. Num show. Mas eu não reconheci ela, provavelmente estava bêbada, e eu também.

-Olha só! E eu que pensava que sabia de muita coisa. - Ficou surpreso.

-Você me conhece, Aly. Não sou um homem santo.

-Certamente não.

-Vin ficou sabendo e nós brigamos. Eu estava bêbado, devo ter falado um monte de merda. Algo que irritou ele.

-Bem, você pegar a garota dele já é um bom motivo pra ele ficar irritado. - Lembrou Alyoth.

-Ele protege demais aquela garota, Aly. Devia deixar ela se divertir um pouco. Não entendo esse comportamento. - O Bardo parecia incomodado.

-Você nunca teve um filho para poder entender o Vin. Ele tem seus motivos.

O Bardo refletiu por um momento, olhando pela janela e tentando recordar do que tinha dito para Vin na noite que brigaram. A garota tinha 19 anos, mas era protegida como se tivesse 10. Era alta, de cabelos ruivos e cacheados, olhos verdes, sua pele era branca como a neve, e tinha um corpo perfeito. Pensando bem, Vinny tinha razão de protegê-la.

Eles andaram por mais alguns quilômetros, até que tomaram rumo de uma estrada de chão, tão estreita que cabia somente o Gran Torino na pista.

-Que tipo de lugar é esse, Alyoth? Estamos andando a horas, fugindo de algo que você nem você parece saber ao certo.

-Temos que escapar de duas coisas nessa noite.

-Sério? Poderia me dizer de que?

-Não. - Aly olhou para o banco de trás e viu que Vinny ainda dormia. - Você pôs algo na bebida dele?

-Não sei, - deu de ombros - a não ser que a garçonete tenha servido algo com segundas intenções.

Chegaram enfim, em um casebre, no meio do mato. Parecia decadente, com as janelas e portas descascadas pelo tempo. Pasto e árvores cercavam o local, mas parecia que havia alguem sentado em uma pequena área, na frente da casa.

Alyoth parou em frente a casa e desceu do carro, Bardo o acompanhou, ainda curioso sobre a figura na frente da casa.

-Aly, meu velho! Estava lembrando de você agora mesmo. - Disse uma figura coberta de barba e cabelos gigantes e esvoaçantes.  Parecia na verdade, um mendigo.

-Quem é vivo sempre aparece. - Brincou Alyoth, enquanto ia na direção do barbudo e o saudava com um abraço.

Bardo se aproximou desconfiado tentando reconhecer a figura a sua frente. Parecia familiar, a voz, os olhos.

-Lenon! Seu desgraçado. - Reconheceu finalmente, e sorrindo foi até o velho parceiro.

Tinham tocado na mesma banda juntos há muito tempo, até Lenon descobrir que era uma espécie de mago, e abandonar a banda.

-Há quanto tempo Bardo! Sinto falta daqueles seus solos desajustados e a sua voz de pato engasgado.

-Sinto o mesmo, daqueles seus solos de baixo fora do tempo, que ninguém nem percebia. - Retrucou o Bardo, sorrindo.

Era por volta de uma da madrugada e a escuridão cercava aquele lugar afastado. Podia-se ouvir os sons dos grilos e sapos, coachando sem cessar na escuridão da noite.

-Enfim, o que buscam em minha casa? - Questionou Lenon.

-Abrigo. - Disse rapidamente, Alyoth.

-Ah sim. A lua amarela... - Lembrou-se Lenon.

-Me trouxe até aqui por causa da lua amarela? - Bardo ficou indignado.

-Não só por isso. - respondeu Alyoth -Podemos entrar?

-Sim, vamos entrando.

Crônicas de KarcosaOnde histórias criam vida. Descubra agora