Em Berços de Sangue

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A tímida órfã estava abrigada em um pequeno quarto, num castelo, em algum lugar que nunca havia visitado antes. Possuía uma pequena cama, cômoda de roupas e banheiro. Era bem pequeno, e estava localizado em uma torre alta. Não sentia cansaço algum por ter subido todas as escadas que levariam ao seu quarto, porque, na verdade, não se lembrava de como chegou ali. Tinham lhe prometido abrigo, ensinamentos, mas ela pensava em vingança no momento que aceitou a proposta de uma curiosa criatura, que adentrou em seu quarto na noite passada. Não conseguiu identificar direito quem, ou como era, no inicio. Não se recordava direito.

-Você não é a única que passou por isso Kayle. Todos nós sofremos também. Mas superamos isso. - O brilho dos olhos da criatura, que falava mansamente, brilharam na escuridão do quarto.

-Eu quero que eles paguem por isso, os que mataram meus pais. - Disse a jovem garota, não tão inocente como parecia ser.

-A vingança pode não ser a escolha certa minha jovem. A morte vem para todos, e certamente virá para aqueles que assassinaram sua família. Talvez um dia venha pelas suas mãos, talvez não. - Se deslocou sobre as prateleiras da menina, alcançando a janela aberta.

A lua, que naquela noite estava avermelhada, revelou a criatura com seu brilho. Era um gato, um gato escuro. Agora se lembrava.

-Eu aceito ir com vocês. - Disse ela, sabendo que seus padrinhos nunca supririam a falta de seus pais.

A pobre menina não foi bem vinda para os padrinhos nem mesmo quando ficou órfã. Nunca seria uma afilhada para eles.

O gato pulou sobre a cama da garota.

-Ótimo, querida. Agora durma, amanhã será outro dia.

Kayle sentiu seus olhos ficarem pesados, e cedeu ao sono repentino que o gato lhe havia proporcionado. Quando despertou, já estava no castelo. Decidiu sair do quarto, mas quando viu as escadarias sem fim, da torre. Se recolheu e preferiu esperar que o gato viesse lhe receber.

Não parava de pensar nos pais. Estava aflita. Tudo aquilo parecia um sonho. Um pesadelo na realidade, que a fazia se questionar se estava louca, ou sã.

Viu muitas coisas inexplicáveis acontecerem há 3 dias atrás. Seres inimagináveis e poderosos, se enfrentando nas ruas de sua cidade. Vítimas de uma espécie de guerra maldita, que assassinou sua família e destruiu sua vida. Mas mesmo tão jovem, ela tinha decidido algo. Não seria uma vítima para sempre.

Alguém bateu na porta. E em seguida abriu-a. Era um rapaz, um pouco mais velho que ela, de cabelos negros e curtos, e uma barba rala. Aparentava ter por volta de 17 anos de idade, e trajava uma amadura de couro leve, com um cinturão de lâminas pendurado na cintura.

-Olá, Kayle. Dormiu bem? - Disse o jovem rapaz, tirando seu cinturão de lâminas, e pendurando na maçaneta da porta.

-Desculpe, mas quem é você? E onde estou exatamente? - Perguntou a garota.

-Você deve me conhecer. Falei com você ainda essa noite. E você está em um dos lugares mais secretos e seguros do universo. O Covil dos Lua Sangrenta.

A jovem olhou pela janela e contemplou a imensidão do castelo.

-Parece bem grande para se chamar de Covil. Desculpe, mas não me recordo de ter falado com você.

O rapaz deu uma risada, e sentou-se na beira da cama de Kayle.

-Sou o gato.

A garota não entendeu a principio, mas algo nos olhos dele dizia que não estava mentindo.

-Seja bem vinda aos Lua Sangrenta. - Estendeu a mão. - Meu nome é Turin, escudeiro de Lidian Alister. Sou órfão, assim como você, e como todos aqui. Não sou humano, minha espécie é de um tipo que você não está habituada a conviver na Terra. - Parou por um momento. - Bem, na verdade você já deve ter visto vários de minha espécie, e deixou passar despercebido.

Kayle estava confusa. E o jovem continuou.

-Você aceitou se juntar a nós. Somos o mais temido clã de assassinos de todas as dimensões.  Treinados essencialmente para matar, toda, e qualquer criatura da qual nos for indicada como alvo. - Antes que ela interrompesse, ele continuou. - Mas calma, não somos bandidos. Temos nossas leis e códigos, que você vai aprender durante os treinamentos com o Sor Alister.

-Com seus ensinamentos, poderei matar aqueles que assassinaram meus pais? - Foi a única coisa que  conseguir dizer, em meio ao mar de dúvidas que a cercava no momento.

-Se você aprender direito, creio que sim. Mas não é a melhor opção. É o que gostamos de pensar. Bem, a cerimônia de iniciação dos novatos vai começar logo. Sua roupa está na primeira gaveta da cômoda, vista-se e desça. Te vejo no pátio central. - Se levantou e deixou o recinto.

Kayle sentia algo estranho. Algo novo, diferente.  Uma nova vida parecia se iniciar, mas não deixaria suas raízes para trás. Estava ali por um só motivo, e quando estivesse pronta, se vingaria dos que lhe causaram tanta tristeza.

Crônicas de KarcosaOnde histórias criam vida. Descubra agora