-O que procura afinal? - Perguntou Lenon à Alyoth.
-A Rompedora de Gerações, sinto que irei precisar dela. - Respondeu.
Alyoth desprendia alguns tacos do chão da quadra de seu refúgio, o ginásio abandonado, enquanto Lenon, Vin e o Bardo aguardavam por ele.
-Por que escondeu sua espada afinal? - Perguntou Vin.
O Regente respirou fundo.
-O que você faz com uma coisa que é importante para você e perigosa para os outros? - Retrucou.
Vinny deu de ombros e respondeu.
-Escondo?
-Exato! - Exclamou Aly, retirando o ultimo taco que impedia a retirada da Rompedora.
A espada, porém, não estava ali. Havia somente concreto por baixo dos tacos.
-Está por dentro do concreto? - Questionou o Bardo.
-Claro que não. - Aly assoprou o chão, afastando a poeira do concreto e revelando um símbolo em alto relevo.
Era o símbolo da 21ª Divisão Especial do exército Rutsah, mesmo símbolo que Aly possuía tatuado no seu braço direito. O emblema era constituído por sete espadas cruzadas sobre uma caveira.
O Regente pediu um punhal dourado que havia deixado próximo de si. Era antigo, cheio de gravuras de batalha em seu punho, e possuía um botão de jade na ponta. Tirou o casaco e logo em seguida sua camiseta. Seu corpo possuía diversas cicatrizes e tatuagens, marcas de batalha e de glória.
Segurou o punhal com uma mão, e delineou um corte por cima da espada central da tatuagem no braço direito. O sangue escorreu por todo o seu braço e desceu até suas mãos.
-Magia de sangue, Alyoth? - Indagou Lenon, surpreso com a técnica do Regente.
-Precisei protegê-la. Talvez até de mim mesmo. - Respondeu, marcando um traço de sangue na espada central do alto-relevo no chão.
O próximo passo seria a canção. A nostálgica canção da 21a Divisão Rutsah. Aly lembrava dela com saudades, e ao mesmo tempo com desejo de nunca mais ouvi-la.
-Nas longas noites de Khadath, nas densas matas de Nadoran, sob a luz das sete luas, marcharemos. - sentiu um arrepio percorrer sua espinha - Sobre os vastos desertos Jakkads e os Cinco Saltos, nós permanecemos inabaláveis. Não tememos a exércitos, nem as magias dos reinos, nós somos a luz dos bem aventurados, nós somos os algozes do medo. A morte não nos assusta, a vida não nos vale, nossa espada é a justiça, a honra é nosso rei. Glória aos 21, e justiça ao nosso reino.
Um brilho ofuscou os olhos dos que estavam ao redor do brasão dos 21, transformando-se na Rompedora de Gerações. Aly empunhou-a. Era leve, voraz e tinha sede de sangue.
-Muito emocionante. - comentou o Bardo - Não sabia que era cantor.
O Regente colocou a espada sobre um pequeno tapete que havia deixado pronto na quadra, e começou a enrolá-la nele.
-Vou enrolar isso aqui e ja podemos ir.
Era por volta de 9 horas da manhã, quando Aly foi interrompido por um vulto que entrou pela porta da frente do ginásio. Uma visita inesperada e inoportuna, talvez a cidade já estivesse sentindo a falta dele.
-Ora, ora, Sr. Alyoth. Pensei que havia decidido tirar umas férias - Perguntou o Gato, percorrendo a quadra até o grupo.
-Tenho andado mais ocupado do que nunca, Gato. Sentiu minha falta?
-Eu especificamente, não. Mas creio que tenham alguns da comunidade que gostariam de um parecer seu. - Aproximou-se, acenando com a cabeça para os demais.
Aly sabia que iria acontecer alguma coisa enquanto estivesse fora.
-O que houve? O Lobo denovo...
-Não, o Lobo tem andado quieto. Mas o Heavy Thunder parece ter sido atacado ontem.
-Atacado? Briga de gangues? Sabe que não me responsabilizo por rixas mundanas.
O Gato observava o Regente ocultar sua espada.
-Creio que não sejam rixas mundanas dessa vez. - ergueu o pescoço para ver a espada - E pelo visto você já está se preparando para o que pode encontrar lá.
Alyoth parou.
-O que acha que ocorreu lá?
-Aparentemente, um massacre. Acredito que alguém que procura também esteve por lá. Ou alguém de quem foge.
O Bardo se intrometeu na conversa.
-Pare com enigmas, Gato. Acha que Lágrima esteve lá?
-Não sei... - deu de ombros - Se eu fosse vocês, daria uma olhadinha. - virou as costas e voltou para a porta - Até a próxima rapazes, boa sorte na jornada de vocês.
Os quatro ficaram com a pulga atrás da orelha. Principalmente Vin, que nunca havia visto um gato falante.
-Ela deve ter ido atrás de Drakar. Seu nome estava na lista. É um criminoso procurado, e um Northum. - concluiu Aly - Desculpe, Vin, mas precisamos passar por lá primeiro.
Vin somente acenou com a cabeça. Alyoth recolheu sua espada, sairam do ginásio logo em seguida até o Heavy Thunder.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Crônicas de Karcosa
خيال (فانتازيا)Tensões no universo mágico acontecem enquanto Alyoth, o Regente, busca resolver os mistérios da estranha cidade de Karcosa, se envolvendo em intrigas com criaturas mágicas pouco confiáveis, e desafiando seres inominaveis para manter o equilíbrio mág...