Milho e Pão

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O Gran Torino percorria as escuras ruas de Karcosa, pouco movimentadas, como sempre. De volta a Karcosa, pensou Alyoth, enquanto ouvia Lenon roncando no banco de trás, Bardo cantarolando ao lado de Lenon, e Vin na frente, reclamando dos dois.

-Que lugar é essa afinal? - Perguntou Vin.

-O Partonin, também conhecido como o Poleiro dos Asas Negras. Fica em uma torre, do outro lado de Karcosa.

-Torre? - Olhou para trás assustado, ao escutar um barulho esquisito. Era Lenon roncando.

-Tá mais pra uma espécie de matadouro. - interrompeu Bardo - é uma torresinha de tijolos massissos, velhos e depredados. Cheia de passarinhos.

Alyoth sabia que não eram simples passarinhos. No passado, eram conhecidos como harpias, por algumas mitologias. Mas hoje, apareciam na forma de verdadeiros pássaros, geralmente com cores neutras, preto, branco, cinza ou malhado. Eram mal vistos em sua maioria, principalmente os corvos, famosos pela anunciação da morte e da doença, mas essa realidade não se aplicava a todos, somente a grande parte deles.

-Passarinhos astutos e perigosos. - advertiu o Regente - Tome cuidado com eles. Coloquei um pouco de milho e pão no porta-malas, junto aos suprimentos.  Recomendo que levem um pouco.

Foi surpreendente que Vin não questionou o discurso de Alyoth. Talvez estivesse finalmente aceitando aquele universo louco, do qual estava participando.

O ronco de Lenon se elevou subitamente.

-Acorda esse cara! - Ordenou Vin, ao Bardo. Que deu uma gargalhada da situação, e em seguida cutucou o amigo.

-Oi? Já chegamos? - Disse com uma voz rouca, despertando.

O carro se dirigiu a uma entrada, que seguia uma subida, um pouco afastada da área urbana.

-Estamos perto. É logo ali. - Avisou Aly.

Vin olhou pelo painel e viu a torre dos passarinhos. Parecia realmente um matadouro. Era uma construção cubica, de tijolos massissos, descascados e envelhecidos. Se elevava como um prédio de três andares, possuia um topo aberto e uma portinha de madeira na entrada.

-É, se tivermos que nos jogar do topo dessa desgraça, a morte é garantida, mas parece até reconfortante. - Disse Bardo, contemplando a construção, que estava pior do que ele lembrava.

-Contando que você vá e eu fique... - Disse Vin, enquanto sacava um cigarro do bolso

Pararam o carro e desceram. Vin acendeu o cigarro e deu uma baforada em direção da torre. Bardo viu a cena. Olhem, sou um dragão enfurecido, temam a mim! Pensou.

-Peguem o pão e o milho no porta-malas. - Disse Aly.

-Pão e milho? - Questionou Lenon, pois havia perdido a explicação.

-Harpias.

-Ahh. - compreendeu então - Sabe falar a lingua deles?

-Pouca coisa. - respondeu.

-O arco está no porta-malas? - Perguntou Vinny.

-Sim. Mas acho melhor não entrar lá com um arco. - Disse Aly.

-Não vou entrar. Dou cobertura à vocês daqui. Há uma inclinação logo ali, posso subi-la e vigiar com o arco.

-Não é má ideia. - concluiu o Bardo - Tirando a possibilidade de você querer atirar em mim.

-Se quisesse isso, já teria feito há muito tempo. Mas não pense que não sinto vontade. - Tragou o cigarro, e ajuntou o arco de dentro do porta-malas.

Estava tudo muito silencioso. Era tarde da noite, e Alyoth achou melhor que entrassem logo. Cada um com um pedaço de pão e milho, enquanto seus hospedeiros aguardavam lá dentro, silenciosos, porém atentos para o horário do banquete.

Crônicas de KarcosaOnde histórias criam vida. Descubra agora