O lugar era escuro, apesar da presença de algumas janelas pequenas que acompanhavam a escadaria do Partonin, e iluminavam o lugar com a fraca luz que vinha da rua. Para cada criatura do universo místico havia uma regra. Na verdade, existia uma teoria que dizia que, para criatura do universo havia uma regra, inclusive para os humanos. Mas isso era relativo demais.
O fato era que, as harpias eram uma raça que possuíam suas peculiaridades. Eram criaturas traiçoeiras e astutas, porém, podiam ser facilmente enroladas com um pouco de pão e milho. No passado, eram predadores, que comiam a carne de outros animais para sobreviverem, e ainda há alguns que aderem a essa prática, mas conseguem alimentos de outras formas no mundo moderno. A carne humana é um petisco delicioso para as harpias, mas, na atualidade, seria mais fácil elas virarem comida de humano.
Algo se movia acima, nas escadarias da torre. Ouviu-se o som de asas batendo, no inicio, era somente uma, mas logo o som se multiplicou, como o de um enxame.
Os visitantes viram um emaranhado de pássaros descendo a torre. Saiam de poleiros implantados nas paredes.
-Para trás! - Aly deu a ordem, e atirou um pedaço de pão no chão, logo à frente.
A nuvem de aves atacou o pedaço de pão imediatamente, fazendo com que toda a poeira depositada no chão da torre se elevasse cobrindo a visão. Quando a poeira abaixou os homens viram criaturas humanoides grotescas, cobertas de penas e com bicos enormes e pontiagudos, que brotavam de suas faces. Eles brigavam entre si, pelo pedaço de pão.
-Dai-me! - gritou um, com uma voz fina e asquerosa - Eu o vi primeiro! Dai-me!
Após um deles engolir o pedaço de pão de uma só vez, e ser enforcado por seus colegas, para que vomitasse a comida, uma harpia se pôs a frente de todos, e falou com o trio. Era fêmea aparentemente.
-O que querem no poleiro? - Sua voz era rouca e aguda.
Aly se pronunciou.
-Sou Alyoth, Regente de Karcosa. Quero falar com o Pombo. - Não parecia amigável.
-E eles quem são? - Disse ela sorrindo.
Parecia ser um corvo. Tinha seus braços mesclados as asas, de penas escuras e longas, seu cabelo era longo e arrepiado. Seu rosto era desagradável, possuía um bico preto, afiado como uma lâmina. E andava curvada.
-Estão comigo, não importa quem sejam. Liberem o caminho. - Aly impôs uma ordem.
A harpia se alvoraçou, e abriu caminho para o Regente.
-Você pode ir, mas eles ficam. - Disse ela apontando para Lenon e o Bardo.
Lenon e Alyoth se entreolharam, pois entendiam o que ela falava. A língua das harpias era uma língua antiga, poucos sabiam falar, até mesmo entre as criaturas mágicas, mas naquele caso, Aly e Lenon tinham conhecimento.
-São meus convidados, - disse Alyoth - e vão comigo.
-Mas não são nossos convidados, e estão na nossa casa. - Retrucou a audaciosa harpia.
O Regente sacou um punhado de grãos de milho do bolso. Os que estavam ao redor pareceram se interessar, inclusive a harpia que falava com eles.
-Terá uma parte em grãos agora, e na saída, caso deixe meus companheiros entrarem comigo.
O Bardo estava desconfiado, e cutucou Lenon.
-O que estão negociando? - Sussurrou.
-Nossa entrada no Partonin.
A harpia aceitou a proposta. E deixou que entrassem. As outras criaturas que os cercavam deram espaço, com os olhos negros totalmente voltados para a mão da harpia, e o bolso de Alyoth.
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Crônicas de Karcosa
FantasyTensões no universo mágico acontecem enquanto Alyoth, o Regente, busca resolver os mistérios da estranha cidade de Karcosa, se envolvendo em intrigas com criaturas mágicas pouco confiáveis, e desafiando seres inominaveis para manter o equilíbrio mág...