Prólogo

730 73 60
                                    


Quando eu era criança, os pesadelos eram uma parte constante da minha vida

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Quando eu era criança, os pesadelos eram uma parte constante da minha vida. Eles vinham todas as noites, como sombras que se fundiam comigo quando a escuridão caía. Eu acordava em sobressalto, enrolando-me no cobertor da cabeça aos pés, na esperança de que aquela fina barreira pudesse me proteger do desconhecido. Mas muitas vezes, o medo me levava correndo até o quarto de meu pai, onde o encontrava silencioso, os olhos marejados de lágrimas que tentava esconder quando me via entrar.

Uma vez por mês, ele me levava a um jardim diferente, um santuário de cores e fragrâncias que contrastavam com a escuridão dos meus sonhos. Em um desses jardins, vi pela primeira vez rosas azuis e verdes, raras e deslumbrantes, que meu pai dizia serem as favoritas da minha mãe. Ouvia as pessoas sussurrarem sobre ela, mas as palavras pareciam deslizar pelos meus ouvidos sem sentido. Meu pai alternava entre dizer que ela estava dormindo ou que tinha se tornado uma estrela no céu, deixando-me confusa e com um vazio no peito que eu não conseguia entender naquela idade. Cada visita ao jardim era uma tentativa de conectar-me com uma mãe que eu mal conhecia, envolta em mistérios e ausências. As rosas, com suas cores vibrantes e perfumes delicados, eram o elo tangível que meu pai mantinha com sua amada esposa, uma tentativa sincera de me fazer sentir próxima dela, mesmo que fosse apenas através da beleza efêmera das flores.

Papai, meu tio Kedra e meu tio Joh me treinaram desde pequena, repetindo incansavelmente que eu precisava ser forte, pois um dia eu me tornaria uma grande rainha. Lembro-me vividamente de uma manhã fria de inverno, quando meu pai me levou para um campo aberto cercado por pinheiros altos. O ar estava impregnado com o cheiro de terra molhada e o som dos pássaros quebrava o silêncio da manhã. Meu tio Kedra, com seu olhar firme, começou a ensinar-me técnicas de luta, posicionamento e estratégia. Seus movimentos eram graciosos, mas poderosos, como se cada gesto contivesse séculos de experiência. 

Ao lado dele, meu tio Joh, com sua presença imponente e voz profunda, instruía-me sobre a importância da sabedoria e da diplomacia. Ele contava histórias de grandes rainhas do passado, mulheres que dominaram não apenas pela força bruta, mas pela inteligência e pela capacidade de inspirar lealdade. Cada dia de treinamento era uma jornada intensa de aprendizado e autodescoberta. Aprendi a manejar espadas e arcos, a montar a cavalo com destreza e a liderar pequenas simulações de batalha. Mas mais do que habilidades físicas, meus mentores me ensinaram a importância de manter a calma sob pressão, de tomar decisões rápidas e estratégicas. Contudo, foi aos 12 anos que eu realmente entendi o verdadeiro significado da minha força.

Estava no meu quarto, imersa na leitura do único livro que realmente me prendia: "Alice no País das Maravilhas", deixado por minha mãe. Cada página era um vislumbre de seu mundo, e eu me sentia conectada a ela através da história que tanto amava. De repente, um bilhete deslizou sorrateiramente por baixo da porta. Meu coração disparou instantaneamente, pois conhecia bem essa brincadeira, mesmo que o autor estivesse morto. Um medo antigo se revirava dentro de mim, alimentado por histórias contadas ao pé da cama. Eu tremia ao me levantar, lágrimas involuntárias escapando dos meus olhos enquanto me aproximava da porta com passos hesitantes. "Oi gatinha, abra a porta", dizia o bilhete, suas palavras simples se transformando em nós apertados na minha garganta. Soltei o papel no chão e recuei, ouvindo apenas o tumulto ensurdecedor do meu próprio coração.

After NightFall  Vol.2Onde histórias criam vida. Descubra agora