Soneto C

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Aonde estás, Musa, que esquecestes tão longo
De falar daquilo que todo o teu poder te dá?
Gastas toda tua fúria em alguma cantiga indigna,
Obscurecendo o teu poder, dando à luz assuntos reles?
Voltes, musa esquecida, e redima diretamente,
Em ritmo gentil, o tempo tão à toa gasto;
Cante ao ouvido que os teus cantos ama,
E que dá à tua pena tanto habilidade quanto argumento.
Levanta-te, Musa manhosa, e vá pesquisar o rosto do meu doce amor,
Se o tempo gravou ali alguma ruga;
Se alguma, que seja uma sátira à decadência,
E que faça com isso os estragos do tempo por toda parte desprezados.
Dê fama ao meu amor mais rápido do que o Tempo consome a vida;
E detenhas assim a sua foice e faca hediondas.

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