Soneto CXI

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Ah, por minha causa ralhes tu com a Fortuna,
A deusa culpada de minhas perversas ações,
Que não tomou melhor conta de minha vida,
Que meios públicos, que maneiras públicas geraram,
Daí meu nome recebeu um estigma,
E a partir daí minha natureza quase se submete
Àquilo em que ela opera, como a mão de quem trabalha em tinturas:
Tenha pois dó de mim e queira que eu me renove:
Enquanto isso, como um paciente obediente, eu beberei
Poções de antibiótico, contra minha forte infecção;
Não há amargura que eu ache amarga,
Nem um castigo duplo, para corrigir a correção.
Tenha pois dó de mim, cara amiga, e eu te asseguro
Que até mesmo a tua piedade já basta para me curar.

Sonetos de William ShakespeareOnde histórias criam vida. Descubra agora