Soneto CI

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Ah, Musa vagabunda, como te corrigirás
Por teres negligenciado a verdade tingida de beleza?
Tanto a beleza quanto a verdade dependem do meu amor;
Assim também tu, e com isso estás dignificada.
Respondas, oh, Musa: não dirás quiçá,
“Que a verdade não necessita de cores, tendo já cor definida,
E a beleza de nenhum lápis, para colocar a verdade na beleza;
Mas o melhor é o melhor, se a ele nada for misturado?”—
Por que ela não necessita de louvores, ficarás acaso muda?
Não desculpes dessa forma o silêncio; por que cabe a ti
Lhe fazer viver muito mais além de um túmulo dourado,
E ser louvada de eras vindouras.
Então trabalhes, Musa: Eu te ensino como
Lhe fazer parecer eternamente então o que ela é agora.

Sonetos de William ShakespeareOnde histórias criam vida. Descubra agora