Vinte e Seis

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Passei pela porta sem me sentir completamente ali. Havia atirado a bolsa em cima do balcão da cozinha e havia passado a encarar a parede sem razão alguma, pois só de pensar nas horas que haviam se passado naquela manhã, eu não sabia muito bem como reagir. Sabia por um lado que deveria me abrir com a minha mãe, pois desde que havia voltado não havíamos voltado a ter aquela conexão e com certeza precisávamos daquilo mais que tudo, então não pensei muito antes de me abrir com ela e contar pelo que eu e Sebastian estávamos passando —deixando com que as revistas e sites explicassem o que havia se passado no Rio— mas por um lado deixando claro que não estávamos bem e que um pequeno fio segurava a minha ideia de morar sozinha.

Mas depois de algum tempo eu percebi que deveria ter ficado calada, pois mamãe decidiu que iriamos visitar alguns apartamentos naquela manhã. Eu não queria, mas pela companhia eu faria qualquer coisa, então disse "tudo bem, porque não?", mas o que eu deveria ter me perguntado deveria ser algo mais como "porque sim?", pois cada apartamento e cada local vazio me remetia a uma vida do mesmo modo, eu os observava bem, sorria até para a varanda que dava uma bela visão da praia, pois se aquele não fosse o contexto eu estaria disposta a assinar um contrato no mesmo momento, mas não era o caso. Eu não podia me decidir ali, ainda tinha esperanças.

Mamãe entendeu, pois me abraçou apertado e logo disse à corretora que entraria em contato caso decidíssemos algo, coisa que eu não faria tão cedo e esperava não fazer.

Mas no momento em que entrei em casa e fiquei olhando para a parede, só conseguia me perguntar como seria caso Sebastian não fosse fundo com esse encontro, caso ele apenas enrolasse e não me contasse o que eu esperava ouvir, ou até contasse, mas o que eu não queria ouvir. Ou se fosse muito cedo para ambos e ele estivesse se confundindo e indo rápido demais, pois não esperou nem se quer um mês para colocar tudo em seu lugar e correu até mim. Pois era o que eu esperava.

Também não conseguia parar de pensar em como seria uma vida com uma criança sem nenhum apoio, pois eu sabia como eu poderia agir enfrentando uma situação onde Sebastian não foi sincero comigo e desse modo acabamos nos afastando, eu iria querer mostrar a mim mesma que saberia lhe dar com um bebê sozinha, quando nunca havia passado perto de um. Querer ser independente demais, esse era um dos meus problemas, talvez apenas comigo funcionasse, mas quando se tratava de ser independente por mim e minha filha a coisa parecia mudar, acho que não saberia como seguir em frente.

— Alexis... Oi?

Balanço minha cabeça quando a voz da Amanda atinge meus ouvidos e eu me viro como se estivesse fazendo algo.

— Oi! —sorri.

— Você entrou em um transe ou algo assim? —ela sorri de volta.

— Não, eu só estava pensando. —mexo na minha bolsa como se procurasse algo.

— Pensando demais, como tem feito muito ultimamente. —me repreende doce demais. — O que foi? O encontro com a sua mãe não foi tão bom assim? Ela falou algo? —ela toca meu ombro verificando se eu estava realmente ali e eu paro de mexer na minha bolsa me virando para ela.

Respirando fundo, respondo. — Não... Você sabe que a mamãe não é bem desse tipo de falar realmente alguma coisa, ela age. E hoje ela me levou para ver alguns apartamentos já que eu havia tocado no assunto da mudança e tudo mais... —bufo cansada. — E isso realmente me deixou pensando, porque eu vi aqueles lugares lindos e perfeitos que claramente combinavam comigo porque ela havia pensado em tudo, mas eu não conseguia me colocar 100% naquilo, não agora. —ela me olha com os olhos cheios de amor.

— Você quer esperar... —completou.

— Sim. —pisco algumas vezes. — Ainda tenho alguma esperança de que esse encontro irá tirar todas as minhas dúvidas, mesmo quando... Ele não faz isso em quatro meses. — me movo de um lado para o outro antes de parar olhando para ela que me pega pelos ombros de um modo firme. — É estranho depender dele para fazer uma decisão quando eu me vejo tão independente, mas agora, não consigo dar um passo sem me perguntar se é o certo.

A Conveniência do CasamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora