Balancei a minha cabeça várias vezes. Como?
Senti meu rosto se contrair em uma feição de raiva.
Eu queria gritar com ele e estava pronta para batê-lo, pelo menos uma vez na vida conseguir fazer o que a Alexssandra queria em boa parte daquele romance, queria gritar que a culpa era dele! Apenas dele!
Richard me segurou quando tentei partir para cima dele e me calou pedindo para que eu me acalmasse.
— Como diabos você consegue ficar calmo?! Droga... Minha amiga... Está... —balanço minha cabeça. — Ela é mais que uma amiga para mim,é minha irmã... E você só consegue ficar com essa cara? Sério Richard? —ele abre a boca sem saber o que dizer, mas ainda assim, fala.
— Não faça algo que vá se arrepender depois... Estamos todos sofrendo. Não acha que já há culpa demais envolvida? —olhou para o Sebastian que estava sentado em uma das cadeiras enquanto os pais dele falavam algo, mas ele parecia não escutar. — Não é culpa dele. Sabe disso. Não busque alguém para culpar, porque não há culpados.
— Eu não vou ficar aqui escutando isso. —me livrei da sua mão em meu braço, mas ele ainda conseguiu me parar dizendo:
— Não é nada que já não tenha acontecido... A Alexssandra já ficou hospitalizada, várias vezes.
— Quando bateu o carro. Mal se machucou, quebrou um braço e talvez fosse induzida ao coma, mas não foi, voltou antes e... Agora? Isso se compara? Ela perdeu muito sangue e com certeza já não tem forças... Se a conheço bem, ela deve achar em algum lugar naquela escuridão, que já fez sua parte e que já pode... —balanço a cabeça me negando a continuar a falar, meus olhos estavam cheios de lágrimas e eu não poderia chorar quando já haviam tantos tristes.
Andei para fora daquele lugar. Quem eu teria para desabafar e chorar com naquele momento? Ninguém.
Encontrei os pais da Alexis do lado de fora e se eu estava mal,eles estavam piores. Todos nós estávamos. Carmen estava chorando, abraçado ao Charles que estava com os olhos cheios de lágrimas e abraçava sua esposa forte, acariciando suas costas. Não viram quando passei e fui em direção à saída. Tentando pelo menos ver algo que não fosse branco e depressivo. Mas eu não sabia o caos que estava do lado de fora, havia me esquecido que os Harris eram famosos na cidade, muito mais o Sebastian. As drogas das notícias corriam rápido. Mas essa era a graça de ser uma desconhecida, passei direto por todos aqueles fotógrafos e fui em direção à área verde do hospital. Sentei em um banco e observei as flores e as árvores. E me entreguei às lágrimas, porque eu só conseguia fazer aquilo longe de tudo e de todos. Não queria ser fraca como fui por um tempo e não queria ser quem meu pai dizia que eu era "um fracasso emotivo". Talvez eu ainda fosse um fracasso por não ser bem sucedida na vida, mas minhas emoções eu conseguia controlar.
Abaixei minha cabeça e fechei meus olhos.
Eu não posso perder mais alguém. Não posso. Quem eu seria se não fosse pela Alexis, quem eu seria se não fosse os Cardevon, que me acolheram como uma filha.
Não costumávamos falar dos meus pais. Por mais que o Charles conhecesse o meu pai, acho que até ele mesmo sabia o quanto ele era uma pessoa ruim e as coisas que fazia, então quando ele morreu... Não posso dizer que me senti aliviada, talvez eu sentisse sua falta às vezes, mas na maioria das vezes eu não sentia. Minha mãe entrou em uma depressão profunda depois da morte dele e se matou —de uma maneira que eu prefiro não lembrar—, mas não acho que em momento algum em nenhum dos dois houve um momento em que pensaram "Eu tenho uma filha, como ela vai ficar caso algo aconteça?", nem se deram o trabalho.
Mas aquele momento era diferente, eu me importava com a Alexssandra. Eu conhecia o buraco que uma morte poderia causar.
E naquele momento eu poderia repetir para mim, como repeti muitas outras vezes que ela ficaria bem, mas e se ela quisesse ir... Não lutar? Se achasse que seu trabalho estava feito e que com a Elena estando a salvo ela poderia... Não sei. Ir?
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A Conveniência do Casamento
RomancePLÁGIO É CRIME COM A FORÇA DA LEI N° . 9.610/98 Alexssandra como todo mundo, sempre teve suas expectativas e suas metas, nada poderia pará-la, era esforçada e havia dedicado cinco anos de sua vida para fazer o curso que amava, para assim, conseguir...