O que for preciso

118 16 0
                                    

Doía um pouco mais a cada dia, o tempo é o remédio, é o que dizem né? Mas então por que a cada hora era como se eu perdesse um pedaço de mim? Eu só queria estar ao lado dela, sentir seu cheiro, ve-la dentro daquele pijama ridículo amarelo, eu só queria poder ir tomar um sorvete e pode olhar aquele sorriso maravilhoso, o sorriso mais belo que meus olhos já viram.

A falta que Vitória fazia ninguém conseguiu preencher, nem o trabalho, muito menos as outras garotas. Eu caminhava para o fundo do poço e ela era a minha única salvação.

Depois de sair da faculdade Mathias me convidou para um barzinho muito agitado na Paulista, aceitei e fomos no meu carro.

Já passava das duas da manhã e nossa mesa estava lotada de garrafas vazias, riamos como se fossemos melhores amigos e na verdade, era isso que estava acontecendo pois ele era o único que suportava me ver se queixando do quanto eu sentia falta de Vitória.

— Você precisa parar com isso, já te disse cara, olha o tanto de gata aqui, olha — Apontou — Aquela loirinha ta te olhando, chega nela

— Para de me empurrar mulher, eu só quero a minha pequena

— Eu mereço! Vem, levanta, vamos embora Rafael.

Mathias me trouxe em casa dirigindo meu carro e depois se mandou com um taxi, era um bom amigo aquele moleque.

                          ****

Minha cabeça latejava, tudo ainda ainda rodava e a luz que saia da janela incomodava meus olhos.

— Fecha essa cortina! — Ordenei a minha mãe que agora me olhava com um olhar de reprovação.

— Sabe que horas São Rafael? 7:30, você mais uma vez está atrasado para o trabalho.

—Droga!

Levantei ainda cambaleando e correndo para o banheiro, meu estômago revirava e foi impossível não despejar todo o álcool da noite anterior no vaso sanitário.

— Bebeu de novo

— Bebi

— Não foi uma pergunta. Vou ligar para o seu pai e avisar que você não vai hoje. — Saiu batendo o pé

Tomei um banho gelado tentando curar a ressaca e depois tomei um remédio que minha mãe deixou em cima da escrivaninha juntamente de um suco de laranja, eu não sei o que seria de mim sem ela. Desci as escadas só usando uma bermuda jeans, fazia calor e tudo que eu queria era passar o dia de molho.

Me joguei no sofá e liguei a TV, passava um programa de esportes e é assim que foi minha manhã.

— Estou muito decepcionada com você — Se sentou ao meu lado — Não posso passar a mão na sua cabeça para sempre, seu Pai está furioso

— Desculpa mãe, eu só preciso de um tempo

— Você já teve mais de trinta dias para colocar a cabeça no lugar, não aja como uma criança e entenda que perdas também fazem parte do processo de crescimento.

— Não tô feliz

— E por isso vai se envenenar? Tu reprovou esse semestre, tu faltou quase uma semana seguida no emprego, um cargo altíssimo para alguém que mal começou a carreira. O que você quer mais Rafael?

— Ela

— Então se demite e vai atrás dessa garota.

— Não quero me demitir

Ela me olhou por longos segundos e se levantou

— Ok, só compre sua passagem e faz o que tiver de fazer, eu me entendo com seu pai.

— Estou parecendo uma criança birrenta que não sabe lidar com meus sentimentos, te prometo, isso vai mudar mãe.

— Espero.

Pela tarde depois de estar fisicamente bem e emocionalmente equilibrado segui até uma agência de viagens e comprei uma passagem para Manhattan, eu passaria uma semana lá, seria tempo suficiente para saber onde Vitória estava ao certo e para tentar reconquista-la e se nada desse certo eu voltaria com a plena certeza de que fiz o que pude. Uma luz de esperança se acendeu no meu peito, iria dar certo, ela também me amava. Dali a uma semana eu viajaria e veria minha linda pequena.

                            ****

Eram 6:00 da manhã, um péssimo horário para conversar sobre a demissão para o meu pai mas era muito melhor acabar com tudo aquilo o mais rápido possível do que ter que ir trabalhar sem estar 100% envolvido no meu cargo.

Me sentei na sua frente e coloquei um pouco de café na minha xícara

— Não está vestido corretamente para o trabalho — Disse ríspido

— Pai... Eu preciso conversar com você

— Ah é?! Rafael não estou te reconhecendo, por que está tão distraído?

— Quero demissão

— O que?! — Gritou me assustando

— Eu não consigo fazer mais nada direito, não me dôo por inteiro por nada que tenho feito. Eu não quero estar na sua empresa sendo inútil e é exatamente isso que eu venho sendo.

— Você ta assim só por causa de um rostinho bonito que foi embora?

— É ridículo, eu sei.

— Vou te contar uma história — Largou o jornal que lia, respirou fundo e olhou nos meus olhos — Fui atrás da sua mãe no Egito, quando ela decidiu romper nosso namoro e viver a vida viajando

Minha boca se abriu em espanto, nunca poderia acreditar nisso, minha mãe sempre se mostrou tão apaixonada pelo meu pai e pela nossa família, ela não largaria ele para se aventurar pelo mundo

— Ela queria casar, eu não. E você sabe filho, sua mãe sempre foi muito intensa, do dia para a noite disse que então me abandonaria e se mandou, eu fiquei desesperado e fui atrás dela, só aí vi que eu a amava com todas as forças e então você veio logo depois. Eu te entendendo Rafael e bom, se fosse eu, também iria atrás do meu amor, eu iria atrás da sua mãe em qualquer lugar do mundo se fosse preciso, faça o que for preciso.

Minha boca ainda estava aberta e meu queixo caído, não sabia como reagir sobre aquela confissão.

— Você me da uma bronca e depois me pede pra fazer o que for preciso?

— É o meu papel como pai moleque — Se levantou e saiu me deixando imerso em pensamentos.

Sim, eu faria o que fosse preciso.

A Pessoa Certa No Momento erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora