Tempestades

98 9 0
                                    

Depois de uma longa conversa com Megan, decidimos que dormiríamos em quartos separados então mudamos minha cama e alguns objetos para o quarto que antes era de meu professor de inglês. Tarzicio havia decido sair de casa e morar com sua nova namorada, as coisas pareciam mesmo que estavam dando certo e eu estava feliz por isso, porém ele me visitava todos os dias e me auxiliava nos meus estudos. Tudo se mantinha tão intenso que há algum tempo eu já não tinha novidades do Brasil.

O clima na casa dos Jones se mantinha aparentemente bem, apesar de eu e Megan termos nos afastado por conta dos últimos acontecimentos, a família estava eufórica com o novo integrante.

— Precisamos decidir o nome— Megan disse enquanto almoçávamos no jardim em uma tarde de sábado, ao lado de uma árvore de maçãs que dava uma sombra maravilhosa

— Você também quer ajudar na escolha Vick?— Elisabeth perguntou entusiasmada

— Claro! Gosto de Elena para menina ou David para menino

— O que você acha John?

— Amor, para mim isso é o que menos importa contanto que dessa vez venha um menino — Foi inevitável não gargalhar

— Eu prefiro Olívia ou Lorenzo— Megan opinou enquanto fuçava o celular a procura de nomes para bebês na internet

— Quando descobrirmos o sexo do neném a gente sortea um nome, nesta altura do campeonato já é uma grande vitória eu conseguir engravidar, o nome na verdade não me importa— Beth concluiu o assunto

Megan e Benjamin já não se falavam, ela preferiu afastar-se de nós dois e relutantemente concordamos, é muito difícil manter-se amigo de alguém que gostamos tanto, eu não consegui e deu no que deu.

Depois de um dia extremamente produtivo ao lado de Ben, eu me sentia cansada, rodamos Manhattan inteira, ele me apresentava suas lojas e restaurantes preferidos e sempre arrumava uma pequena desculpa para comprar algo para mim

— Este já é o décimo bombom que você me compra— Comentei enquanto engolia um chocolate maravilhoso de prestígio que Benjamin comprará em uma das doceiras mais requisitadas de NY

— É que em cada doceria, eu tenho um bombom preferido, quero que conheça todos

Quando finalmente o convenci de que dentro do meu estômago já não passava nem sinal de wifi fomos embora de ônibus, era impossível andar a pé depois de ter engordado meia tonelada. Ben me deixou na porta de casa e como sempre me deu um beijo na testa e abraçou-me

— Você tem sido uma das melhores coisas que me aconteceram este ano, obrigada por me mostrar o melhor de mim

— Eu que devo te agradecer, você esteve do meu lado mesmo eu te mandando embora, tem noção do quanto isso significa para mim?

— Eu não seria capaz de deixar uma mulher como você ir embora

Ele Sorriu, aquele maldito sorriso que só ele sabia dar, o sorriso que me desconcertou desde o primeiro dia em que o vi, o sorriso que me fazia suspirar de amores

— Preciso ir

Demos o último beijo e fechei a porta

Deitada em minha cama reparei que usava o colar que Rafael me deu, não sabia o porque havia colocado mas ele estava lá, em meu pescoço. Abri a câmera frontal de meu celular e encarei minha imagem por alguns segundos, observando o quanto aquela jóia ficava bem em mim, como se tivesse sido feita exclusivamente para eu. Instantaneamente as lembranças daquele dia vieram à tona, mais uma vez. Desde o dia em que eu o deixei naquela praça nunca mais o vi, não tinha notícias suas e de sua família, não sabia se assim como eu ele já havia arrumado um novo amor, não sabia absolutamente nada sobre Rafael mas isso não significa que eu não pensasse nele todos os dias, mesmo que sem querer.

Rafael

Quando eu estava voltando à superfície novamente fui jogado ao fundo do mar. Eu não queria uma felicidade eterna, eu só queria paz por um tempo antes de vir a tempestade, porque eu sabia bem que elas sempre vinham.

Depois de duas paradas cardíacas era um verdadeiro milagre meu pai estar vivo, ele ainda permanecia na UTI mas já não corria risco de vida, era bom poder respirar com tranqüilidade novamente.

— Essa casa anda tão vazia— Minha mãe disse tristemente enquanto almoçávamos antes de ir visitar meu velho

— É verdade mas não esquenta não, já já nossa família estará completa de novo— Beijei sua testa

— Mas e você filho? Como anda esse coração?

— Anestesiado mãe, já não me sinto triste mas também não estou feliz, eu só estou...seguindo

— Filho, se for para você e a Vick ficarem juntos o destino dará um jeito para que isso aconteça, talvez esse não fosse o tempo mas algo dentro de mim diz que essa história ainda não acabou— Me Sorriu com cumplicidade e me deu um abraço, era exatamente disso que eu necessitava.

Em relação ao meu pai as coisas estavam melhorando com o passar dos dias mas em relação a Vitória eu sentia que o tempo só estava servindo para nos afastar mais e mais. O pior tipo de solidão é sentir que não tem mais nada, é sentir um extremo vazio te consumindo de dentro para fora, arrancando quaisquer resquícios de felicidade presentes em seu corpo mas eu sabia que era necessário sorrir e fingir que estava tudo bem, é isso que as pessoas fazem o tempo todo, não é? Colocar máscaras e seguir a vida do jeito que dá, era preciso vestir minha mascara e fingir que não havia problema algum, eu precisava segurar o meu mundo e o de minha família nas mãos, porque de uma coisa eu tinha certeza, era exatamente isso que meu pai faria se não estivesse preso a uma cama, impossibilitado de ser o nosso herói, portanto agora era a minha vez de vestir a capa e agüentar firme até que a grande tempestade dos Assunção passasse.

A Pessoa Certa No Momento erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora